Vigília de São João Batista

Abramos nosso coração para acolher o “maior dos profetas”, com seu corajoso testemunho de vida e sólidos ensinamentos

 

CNBB / Dom Eurico dos Santos Veloso*

Neste ano a Solenidade de São João Batista será celebrada no dia 23 de junho. Isto porque no dia 24 de junho iremos celebrar a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus que tem precedência sobre o precursor. 

A Natividade de São João Batista deve ser uma solenidade bem celebrada porque São João Batista é o único santo, além da Mãe do Senhor Jesus, de quem se celebra, com o nascimento para o céu, também o nascimento segundo a carne. São João Batista foi o maior entre os profetas (Lc 7,26-28), porque pôde apontar o Cordeiro de Deus que tira o pecado mundo (Jo 1,29-36). Sua vocação profética desde o ventre materno reveste-se de acontecimentos extraordinários, repletos de júbilo messiânico, que preparam o nascimento de Jesus (Lc 1,14.58). João é o Precursor do Cristo pela palavra e pela vida (Mc 6,17-29). O batismo de penitência que acompanha o anúncio dos últimos tempos é figura do Batismo segundo o Espírito (Mt 3,11). A data da festa, três meses após a Anunciação e seis meses antes do Natal, corresponde às indicações de Lucas (Lc 1,39.56-57). 

O Salmo responsorial (Sl 70(7) – canta: “desde o seio maternal, sois meu amparo” dá o tom desta celebração! Canta o salmista profeticamente, que o Senhor é seu apoio desde antes de nascer.  

Na primeira leitura – Jr 1,4-10 – antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci. O Profeta Jeremias afirma que o Senhor lhe consagrou ao profetismo antes de seu nascimento. O profeta apresenta objeções, mas Deus lhe concede todas as garantias de que estará sempre ao seu lado, fortalecendo e agindo no mundo por meio de seu eleito. 

Na segunda leitura – 1 Pd 1,8-12 – esta salvação tem sido objeto das investigações e meditações dos profetas. 

No Evangelho – Lc 1,5-17 – tua esposa vai ter um filho e tu lhe darás o nome de João. O Evangelho anuncia que Zacarias e de sua esposa Isabel, apesar de anciãos, nascerá um profeta, João Batista. O anúncio do nascimento do Batista apresenta o Precursor explicitamente como semelhante a Elias e, implicitamente, como semelhante a Jeremias e a Samuel. Como Jeremias, João foi consagrado antes de seu nascimento e Deus estará com ele, pela força do Espírito Santo. Como Samuel, foi eleito e consagrado desde o nascimento. João, igual a Samuel, inspirado por Deus, ungiu a Davi como rei de Israel (1Sm 16,1-13). João Batista prepara “para o Senhor um povo bem disposto” para receber o Messias Jesus, filho de Davi. 

Para Lucas, as aparições de anjos são o sinal de que caíram as antigas barreiras entre o céu e a terra, ou, pelo menos, estão por cair, como neste caso. A iniciativa parte de Deus, porque tudo o que é grande vem d’Ele. Zacarias, ante a impossibilidade humana, expressa a pouca fé nas coisas altas e profundas. Ainda não sentiu que para Deus nada é impossível e que seu poder começa onde a fraqueza humana mostra os limites de suas possibilidades. Como resultado do seu comportamento, ele fica mudo até que a profecia se cumpra. Porque para Deus nada é impossível. Tanto tempo, muita demora e, como agravante, aprece mundo. O povo reage desesperadamente. Como se comunicar com ele? O que será isso? Que milagre terá acontecido? Por inspiração divina, chegam à conclusão de que teria tido uma visão. Deus lhe teria falado. 

João, denominado Batista, é filho de Zacarias, o mudo, e de Isabel, a estéril. Seu nascimento anuncia a chegada dos tempos messiânicos, em que a esterilidade se torna fecunda e o mutismo se faz exuberância profética. Todos os vizinhos perguntavam: “O que esse menino vai ser?”. Zacarias eleva seu cântico de reconhecimento, profetizando a grande missão de João: “E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, pois irás à frente do Senhor para preparar os caminhos dele, e para dar a seu povo o conhecimento da salvação, mediante o perdão dos pecados” (Lc 1,76-77). Segundo avaliação do próprio Jesus, João é o maior dos profetas de Israel: “Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Batista” (Mt 11,11). 

João Batista é o elo entre o Antigo e o Novo Testamento. Ele vem aplainar os caminhos para o Messias que está para chegar. Por isso, de coração aberto, abramos nosso coração para acolher o “maior dos profetas”, com seu corajoso testemunho de vida e sólidos ensinamentos. 

*Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG) 

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