Um itinerário de comunicação integrada para os Capuchinhos no Brasil

O Departamento de Comunicação dos Capuchinhos do Brasil lança oficialmente o Manual de Comunicação da CCB

Com a invenção da imprensa, ainda no século XV, a forma de se comunicar ganhou novas estruturas e ferramentas capazes de disseminar uma ideia de forma peculiar. Todavia, a comunicação ganhou novos símbolos a partir da fotografia, do sistema eletrônico e da evolução da informática. Uma nova perspectiva de comunicação simbólica e relacional vem se transformando numa velocidade absurda desde o início do século XX.

Atualmente as memórias e histórias que pertenciam a diferentes comunidades podem ser encontradas num único espaço. Estamos envolvidos numa rede extraordinária de saberes e culturas, uma interconexão que nos conduz a um repensar coletivo de conhecimento e educação.

É nesse cenário que se encontra o nosso carisma de menores. Conhecidos desde o século XVI como os frades do povo, os Capuchinhos têm-se reinventado constantemente para sempre manterem o espírito de reforma. Isto é, não se adaptar a um mundo fragmentado pelo egoísmo, pela inveja, pela falta de empatia, pelo comodismo, mas sempre buscar meios de promoção humana e de vivência fraterna que nos faz ser cada dia melhores. E acreditamos que esse modo de ser e de viver precisa estar nas plataformas digitais.

Estamos atentos ao novo ethos que a revolução tecnológica está proporcionando. Na contemporaneidade, a tecnologia ganha aparatos capazes de interligar diferentes culturas e sociedades. O que antes se resumia a um jornal impresso e a programas de rádio, hoje se multiplica nas diversas redes de computadores interligadas no mundo inteiro. O ciberespaço[1],que independe da presença física do homem, é uma comunicação por essas redes. A partir dele o mundo fica conectado com tudo o que acontece em diferentes lugares. Uma nova cultura surge com toda essa nova tecnologia. Um novo ethos começa a ser desenhado para que a sociedade dê conta de estar “conectada” com esses avanços.

Nesse itinerário, uma das preocupações dos Franciscanos Capuchinhos é se manter conectada, principalmente com o povo que nos rodeia, a partir desses novos mecanismos. Estamos atentos a proposta de Pierre Levy[2] que nos convida a estarmos abertos, benevolentes e receptivos em relação a este novo momento e a este novo espaço de comunicação. Também estamos atentos a observação feita pelo VIII Conselho Plenário da Ordem (CPO) que nos diz para ter diligência com o uso das plataformas digitais. O CPO chama atenção para a utilização inapropriada e exagerada das mídias digitais, pois empobrece as relações fraternas, e comporta ulteriores problemas relativos a um mau uso destes meios. Por conseguinte, a ordem fomenta um estudo mais aprofundado da cultura digital para que se desenvolva uma educação midiática cuja consequência seja uma utilização apropriada dessas ferramentas a partir da nossa forma de vida e que faça parte integrante da formação inicial e permanente dos frades (cf. VIIICPO, 70).

Sabemos que este advento tecnológico rompeu com as concepções tradicionais das relações sociais e das manifestações culturais, e passou a criar comunidades virtuais que estão num constante processo de reinvenção. O espaço virtual deixa de ser uma oposição ao real e ganha uma dimensão presencial que amplia e altera a própria noção de evolução do ser humano.

Nesse cenário, comemorando 10 anos de história e de desenvolvimento de uma comunicação que seja integradora e colaborativa, o Departamento de Comunicação dos Capuchinhos do Brasil (COMUNICAP) lança oficialmente o MANUAL DE COMUNICAÇÃO DA CCB. Nosso desejo é que esse Manual sirva como um material para reflexão e de aprofundamento na cultura digital. Num mundo de like e deslike, de follow e unfollow, de agregadores e cancelamentos, acreditamos que a nossa forma de ser e de viver pode contribuir para uma resposta viva a esses novos tempos que carecem de um relacionamento humano efetivo e afetivo.

Dessa forma, convidamos todos os frades a fazerem fraternidade conosco no estudo desse manual, para que ele possa ser sempre atual, dando respostas novas e coerentes para os desafios e questionamentos advindos da cultura digital. O Manual que hoje lançamos não tem a pretensão de responder a todos os questionamentos das mídias sociais de nossa conferência, mas deseja ser o início de uma reflexão que nos possibilite utilizá-las de forma evangélica, cada vez mais humana e fraterna. Paz e Bem!

Referências

[1] Termo cunhado por William Gibson, em 1982, e serviu como inspiração para obras cinematográficas como o Matrix e posteriormente foi adotado por pensadores da sociologia e filosofia para identificar a sociedade em rede. Vale ressaltar que na época em que o termo foi criado os computadores ainda não eram uma máquina doméstica epoucas pessoas tinham acesso. Esse termo aparece na obra de ficção Neuromancer (1984).Todavia, o ciberespaço conhecido atualmente está na perspectiva de Pierre Lévy presente na obra Cibercultura (1999).

[2] LEVY.Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999

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