A reprodução do martírio de São Sebastião, amarrado a uma árvore e atravessado por flechas é uma imagem milhares de vezes retratada em quadros, pinturas e esculturas, por artistas de todos os tempos
Por Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
Quando chega janeiro o carioca se prepara para iniciar o ano com a festa do seu padroeiro com uma solene Trezena de São Sebastião em que a imagem de nosso padroeiro peregrina por todos os cantos e recantos de nossa Arquidiocese dedicada ao grande Mártir, que abençoa e protege a cidade maravilhosa. A réplica da imagem histórica passa por todas as realidades da grande cidade, modificando a cada ano seu itinerário. Assim nos diz o início de uma das orações do santo mártir: “Glorioso mártir São Sebastião, soldado de Cristo e exemplo de cristão”. Exemplo de seguidor de Cristo cuja memória litúrgica é celebrada no dia 20 de janeiro, neste ano, domingo.
Nascido em Narbonne, no século III, filho de uma família nobre, chegou a ser capitão da Guarda do Palácio Imperial em Roma. Recebeu o batismo e sempre zelou por ele em sua vida e, também, na dos seus irmãos. Era respeitado por todos e apreciado pelo Imperador, que desconhecia sua qualidade de cristão. Cumpria a disciplina militar mas como bom cristão, exercitava o apostolado entre seus companheiros, visitava e alentava os cristãos presos por causa de Cristo.
Diz-se que um dia foi a um mártir que se sentia desencorajado diante das lágrimas de sua família. O santo o encorajou a ficar firme e dar a sua vida por Jesus Cristo. Desta forma, o homem pôde dar testemunho do glorioso martírio. Até que, em certa ocasião, foi denunciado ao Imperador, que o obrigou a escolher entre ser seu soldado ou seguir Jesus Cristo. O santo respondeu dizendo que iria continuar a ser um seguidor de Cristo até o fim. Com isso ele foi condenado à morte por flechadas.
Os soldados, então, a uma floresta, despiram-no, amarraram-no a um tronco de árvore e lançaram sobre ele uma chuva de flechas, porém em lugares não vitais, para que morresse aos poucos esvaindo-se em sangue e depois fosse trucidado pelos animais da floresta. Depois da execução os guardas se retiraram dando-o por morto. Mas, seus amigos perceberam que ele ainda estava vivo. Uma mulher, esposa de um mártir, levou-o para sua casa, onde o manteve escondido. Ela cuidou dele até que ficou restabelecido.
Com a saúde recuperada, apresentou-se novamente diante do Imperador, repreendendo-o por perseguir os cristãos. O Imperador, então, mandou que fosse açoitado e, desta vez, Sebastião não resistiu e acabou morrendo, por volta do ano 300. Seu corpo foi jogado ao esgoto da cidade, mas os cristãos o recolheram e o enterraram na Via Ápia, onde hoje é célebre catacumba que leva o nome de São Sebastião, local venerado pelos cristãos desde os tempos antigos.
A reprodução do martírio de São Sebastião, amarrado a uma árvore e atravessado por flechas é uma imagem milhares de vezes retratada em quadros, pinturas e esculturas, por artistas de todos os tempos. Embora o destemido Santo não tenha morrido daquela maneira. O suplício das flechas não lhe tirou a vida, resguardada para que continuasse sua pregação e testemunho de fé em Cristo.
Sebastião nasceu em Narbônia, na Gália, atual França, mas foi criado por sua mãe em Milão, na Itália, de acordo com os registros de Santo Ambrósio. Pertencente a uma família cristã, foi batizado ainda pequenino. Mais tarde, tomou a decisão de engajar-se nas fileiras romanas e chegou a ser considerado um dos oficiais prediletos do imperador Diocleciano. Contudo, nunca deixou de ser um cristão convicto e protetor ativo dos cristãos.
Ele fazia tudo para ajudar os irmãos na fé, procurando revelar o Deus verdadeiro aos soldados e aos prisioneiros. Secretamente, Sebastião conseguiu converter muitos pagãos ao cristianismo. Até mesmo o governador de Roma, Cromácio, e seu filho Tibúrcio foram convertidos por ele. [column size=”one-fourth” title=”O suplício das flechas não lhe tirou a vida, resguardada para que continuasse sua pregação e testemunho de fé em Cristo.”][/column]
Sempre que pôde, salvou cristãos da tortura e da morte; e, quando incapaz de fazê-lo, exortou-os a morrer por Cristo Deus Vivo sem voltar atrás. Dois irmãos, Marcos e Marcelino, que haviam sido presos por Cristo e já estavam a um passo de repudiá-lo e adorarem os ídolos, foram confirmados na Fé por Sebastião, que os revigorou para o martírio. Enquanto falava com eles, encorajando-os a não temer a morte por Cristo, sua face se iluminou. Todos viram seu rosto radiante como o de um anjo de Deus.
São Sebastião também confirmou suas palavras com milagres: curou Zoé, mulher do carcereiro Nicóstrato, que era muda havia seis anos; levou ela, Nicóstrato e sua família inteira ao batismo; curou os dois filhos doentes de Cláudio, o comandante, e trouxe ele e sua família ao batismo; curou Tranquilino, pai de Marcos e Marcelino, de gota e dores nas pernas que o atormentavam havia onze anos, e levou-o ao batismo com toda a sua casa; curou o Eparca romano Cromácio da mesma doença e trouxe ele e seu filho Tibúrcio ao batismo.
O primeiro deles a sofrer foi Santa Zoé, capturada junto ao túmulo do Apóstolo Pedro, onde orava a Deus. Depois de a torturarem, lançaram-na no Rio Tibre. Em seguida prenderam Tibúrcio, e o juiz pôs carvões em brasa diante dele, dizendo-lhe que escolhesse entre a vida e a morte, isto é, atirar incenso sobre os carvões e incensar os ídolos ou permanecer descalço sobre os carvões quentes. São Tibúrcio fez o sinal da Cruz, pisou descalço sobre os carvões incandescentes e permaneceu ileso. Depois disso, foi degolado. Nicóstrato foi morto com uma estaca, Tranquilino foi afogado, e Marcos e Marcelino foram torturados e trespassados por lanças.
Foi denunciado como cristão e, por isso, teve então, que comparecer ante ao Imperador para dar satisfações sobre o seu procedimento. Sebastião foi levado perante o sanguinário Imperador Diocleciano, que lhe dispensara admiração e confiara nele, esperando vê-lo em destacada posição no seu exército, numa brilhante carreira e por isso considerou-se traído. Sebastião não negou sua fé.
O Imperador lhe deu ainda uma chance para que escolhesse entre sua fé em Cristo e o seu posto no exército romano. Ele não titubeou, ficou mesmo com Cristo. A sentença foi imediata: deveria ser amarrado a uma árvore e executado a flechadas.
O Martírio converte-se em sinal do Reino de Deus somente na lógica das bem-aventuranças. O seu conteúdo é a felicidade que tem a esperança como dimensão essencial, já que participa da tensão entre o “já” e o “ainda não”, que é própria do reino de Deus. A felicidade do cristão está baseada numa promessa. Os que são declarados “felizes” nas bem-aventuranças não o são em virtude de sua situação, mas como consequência da vontade que Deus tem de lhes reservar o reino. Nem a pobreza, nem a fome, nem a aflição, nem o martírio dão a bem-aventurança. Somente a condição nova que prosseguirá a demolição da desordem atual fará dos infelizes de hoje os destinatários da riqueza do reino, em que Deus saciará a fome e enxugará as lágrimas.
É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no reino de Deus (At 14, 22). A muitas perseguições correspondem muitas provações; onde há muitas coroas de vitória, deve ter havido muitas lutas. Sofrendo com os perseguidores, pois entre muitas perseguições mais facilmente encontrarás o modo de seres coroado. Tomemos o exemplo do mártir Sebastião; “hoje é seu dia natalício, e o dia 20 de janeiro é dia de agradecer a Deus, por intercessão do glorioso Mártir, tantos sacrifícios e testemunhos eloquentes de fé de nosso povo carioca na sua adesão da vivência do Evangelho da Vida.”