No Brasil, Santa Rita de Cássia é homenageada em cidades que levam o seu nome ou que fazem referência a ela, como: Santa Rita de Cássia, na Bahia; Santa Rita, na Paraíba e no Maranhão; Cássia, em Minas Gerais; Cassilândia, no Mato Grosso do Sul.
ACI Digital / Natalia Zimbrão
Santa Rita de Cássia, cuja festa se celebra neste domingo (22), goza de grande devoção entre os brasileiros. No Brasil fica a maior estátua de Santa Rita do mundo, no santuário dedicado a ela na cidade de Santa Cruz (RN). Para o reitor do santuário, padre Vicente Fernandes da Silva Neto, esta devoção traz “uma mensagem de esperança, de fé, de que devemos lutar para que nada possa nos esfriar na fé, tampouco esmorecer, mesmo que tenhamos dificuldades, obstáculos, sofrimentos, porque para Deus nada é impossível”.
Padre Vicente Fernandes afirmou à ACI Digital que a grande devoção à santa se deve, “primeiramente, à identificação das pessoas com o sofrimento de santa Rita”, mas também a como ela “superou esses sofrimentos”. Santa Rita “era uma mulher pacificadora, caridosa, virtuosa e, com isso, fazia suas orações superando os sofrimentos. Ela colocou como máxima em sua vida a declaração do anjo a Maria de que para Deus nada é impossível. Santa Rita fez dessa sua oração diária e, pela sua fé, foi conseguindo muitas coisas em sua vida e na vida das pessoas”, disse, em referência ao título pela qual ela é conhecida, santa das causas impossíveis.
Nascida em 1381, em Roccaporena, Itália, Rita queria ser freira, mas se casou por obediência aos pais. Seu marido tinha maus hábitos e a maltratava. Tiveram filhos gêmeos que tinham o mesmo temperamento do pai. Após 20 anos de casamento, o marido se converteu, mas um dia, foi morto. Os filhos juraram vingar a morte do pai. Aflita, Rita rogou ao Senhor para salvar seus filhos e tirar as vidas deles antes que eles mesmos se condenassem com um pecado mortal. Assim, ambos sofreram de uma terrível doença e antes de morrer perdoaram os assassinos do pai. Santa Rita ingressou na congregação das Irmãs Agostinianas, em Cássia, em 1417. Recebeu os estigmas e as marcas da coroa de espinhos na cabeça, que exalavam um cheiro ruim, por isso, teve que viver isolada por muitos anos. Quando morreu, em 1457, a ferida em sua testa desapareceu e no lugar ficou um ponto vermelho como um rubi, que tinha deliciosa fragrância. Foi canonizada em 1900.
Segundo padre Vicente Fernandes, “mesmo antes da beatificação em 1627, santa Rita já tinha uma devoção entre as pessoas de Roccaporena, de Cássia, da Itália. Depois, foi se expandindo até Portugal e mais ainda com a questão portuguesa de ganhar novos mundos”. “No Brasil, chegou primeiro no Rio de Janeiro, depois Recife e foi se expandindo para outras partes do país, chegando aqui em 1820, mais ou menos”, levada por “dois irmãos cearenses, da família Rocha”, devotos de santa Rita. “Junto aos fazendeiros locais e moradores, essa devoção foi se desenvolvendo. Em 1832, foi criada a paróquia de Santa Rita e a festa foi só aumentando até chegar ao que é hoje, tendo aqui a maior festa religiosa do Estado” do Rio Grande do Norte, disse.
Em 2010, foi inaugurada na cidade a maior estátua de santa Rita de Cássia do mundo, com 56m de altura, localizada no santuário dedicado à santa, que é administrado pela paróquia de Santa Rita de Cássia. Este monumento, segundo padre Vicente Fernandes, demonstra “a grandiosidade da devoção dos fiéis”. No mesmo santuário há uma réplica do corpo de santa Rita de Cássia, que está incorrupto na basílica dedicada a ela em Cássia, na Itália. “O santuário e esta réplica recebem um grande número de visitas”, disse o reitor, ressaltando que é “grande a expectativa para o dia da padroeira” neste ano, após dois anos de restrições por causa da pandemia de covid-19. A festa do santuário pode ser acompanhada AQUI.
“Carrego o nome de uma santa e é uma responsabilidade”
A devoção à santa Rita se reflete na vida de muitas pessoas como as várias mulheres pelo país que se chamam “Rita” ou mesmo “Rita de Cássia” como uma forma de homenageá-la. Uma dessas é a farmacêutica Rita de Cássia Freitas Guedes, 42 anos, moradora de São Gonçalo (RJ), que tem “orgulho de carregar o nome” da santa das causas impossíveis. “É uma responsabilidade muito grande, porque as pessoas sempre perguntam. Tem gente que acha que eu faço aniversário no dia dela, mas não, minha história com ela é outra. Eu acho que minha vida foi mudada por um milagre pela intercessão de santa Rita”, afirmou à ACI Digital.
Guedes disse que, quando nasceu, sua mãe biológica não quis ficar com ela e decidiu doá-la. Na mesma época, em outro hospital, sua mãe adotiva tinha acabado de perder o quarto filho. “Quando minha mãe (adotiva) casou, engravidou de gêmeos e os dois morreram. Depois, ela teve uma menina que viveu cerca de três meses. Depois, teve um menino que nasceu em 17 de janeiro e morreu em 23 de janeiro. Ela já estava com certa idade e não poderia mais arriscar de ter outro filho, por isso estava muito triste”, contou.
Foi então que surgiu a oportunidade, mediada por um médico que trabalhava nos dois hospitais, de que Rita, na ocasião ainda sem um nome, fosse acolhida por sua nova mãe. “Quando me levaram para o hospital onde minha mãe (adotiva) estava, ela não tinha nada de menina, nem um nome. Mas, na enfermaria tinha uma imagem de santa Rita de Cássia e as enfermeiras sugeriram que minha mãe me desse o nome da santa e que me entregasse a ela para ser minha madrinha. Assim foi feito”, disse. Hoje, Rita de Cássia tem “grande devoção por santa Rita” e procura “ser uma afilhada sempre junto de sua madrinha”.
A estudante Rita de Cássia Balter, 21 anos, de Petrópolis (RJ), recebeu este nome por causa de uma promessa e aprendeu a admirá-lo com o passar dos anos. Quando seu irmão mais velho, Felipe, tinha cerca de quatro anos, teve uma grave crise de bronquite e “os médicos não sabiam direito como tratar”. Sua mãe, “sabendo que santa Rita era santa das causas impossíveis”, prometeu que, se o menino ficasse curado e um dia ela tivesse uma filha, a criança se chamaria Rita de Cássia. Felipe se curou e a mãe engravidou de gêmeas. A primeira que nascesse, então, seria a Rita de Cássia.
“Eu fui a primeira que nasci e ela cumpriu essa promessa”, disse Rita Balter. Na infância, ela não gostava muito do nome, “porque não era comum”. Mas, a paróquia onde ela cresceu também era dedicada à santa e, com o tempo, acabou “criando uma intimidade muito grande com ela”. “Comecei a conhecer a história dela, que acho maravilhosa, e passei a gostar do meu nome”, disse Rita. “Amo contar a história de santa Rita todas as vezes que me perguntam e é como se eu tivesse uma amiga no céu”, completou.
E se mulheres se orgulham de ter o nome da santa, em muitos locais, esse orgulho se torna comum a toda a comunidade. No Brasil, Santa Rita de Cássia é homenageada em cidades que levam o seu nome ou que fazem referência a ela, como: Santa Rita de Cássia, na Bahia; Santa Rita, na Paraíba e no Maranhão; Cássia, em Minas Gerais; Cassilândia, no Mato Grosso do Sul.
Há ainda municípios que têm a santa como padroeira e parte de sua tradição popular, como Viçosa (MG), cujo povoado originário se chamava Santa Rita do Rio Turvo e foi criado em torno de uma igreja dedicada à santa. Hoje, a cidade foi identificada como “cidade das Ritas”, como indicou a doutora em Antropologia Raquel dos Santos Sousa Lima em sua dissertação de mestrado intitulada “‘Oh! Que imitem a santa Rita de Cássia!’ As mulheres de nosso tempo: Representações e práticas da devoção em Viçosa (MG)”.
Em seu trabalho, Lima percebeu que a devoção à santa Rita é vista pela população “como algo dado naturalmente a todo viçosense, pelo nascimento, embora a devoção também possa ser adquirida por outros (não nativos) já que a santa ‘acolheria’ a todos”.
Entre as tradições estudadas por Lima está a de mulheres da cidade que se vestem como santa Rita de Cássia no dia 22 de maio e saem na procissão da padroeira. Segundo ela, muitos de seus entrevistados para o trabalho afirmaram que “a presença destas ‘Santas Ritas’ é antiga e que se constitui em um dos principais atrativos e diferenciais da festa”. Mas a especialista disse que não encontrou “nenhuma referência deste fato na literatura específica de Viçosa”. Além disso, afirmou que “vestir-se como Santa Rita está muitas vezes relacionado ao pagamento de promessas”.
É o caso da policial militar Quivia Balbino, 34 anos, que vive em Viçosa. Em fevereiro de 2019, ela teve eclampsia dois dias após o nascimento de sua filha, Maria Alice. “Fiquei cinco dias na UTI e mais dois dias em quarto comum, no hospital Vila da Serra, em Belo Horizonte (MG). Minha mãe, muito desesperada, implorou a intercessão de santa Rita, para que eu não morresse. Como forma de agradecimento, minha filha e eu íamos acompanhar a procissão vestidas de santa Rita”, contou.
Para Quivia Balbibo, “santa Rita ouviu as súplicas” de sua mãe. “Hoje estou aqui, sem sequelas, para contar a minha história”. A policial afirmou que atualmente busca passar esta tradição para sua filha, de três anos. “Vamos novamente juntas, vestidas de santa Rita, no dia 22 de maio, agradecer por nossa vitória”, declarou.