‘Neste Dia dos Pais, saibamos louvar e agradecer ao Pai do céu porque nos deu um pai na terra para nos proteger, nos acompanhar, cuidar de nós e, sobretudo nos amar.’
Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
Agosto é o Mês das Vocações, que constitui uma riqueza para a Igreja no Brasil. Ele foi instituído pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, em 1981. Em cada domingo do mês de agosto, a Igreja no Brasil celebra uma vocação específica, em especial. Na primeira semana celebramos o ministério ordenado (bispos, padres e diáconos). Na segunda semana recordamos a vocação, a paternidade e o matrimônio, por isso, está em foco a família com a figura especial do pai, pois no segundo domingo de agosto se comemora o Dia dos Pais. Também iniciamos no Brasil a Semana Nacional da Família. Na terceira semana, será a vez dos consagrados, e na quarta, dos fiéis leigos e leigas, o laicato com especial referência ao Dia do Catequista (no último domingo de agosto).
Mediante a beleza deste universo das vocações na sua pluralidade de carismas e identidade, precisamos tomar consciência de nossa dignidade de cristãos, isto é, de sermos batizados e alistados na família dos seguidores de Jesus Cristo. Cada vocação tem a sua dignidade específica, cuja finalidade é comum a todas as modalidades deste chamamento divino. Deus nos chama e envia-nos em missão, missão de anunciar, pelo testemunho da vida, os valores do Evangelho no meio do mundo.
Pelo Batismo somos acolhidos em uma comunidade de fé. Há distintos ministérios, porém todos a serviço do reino, todas essas vocações são frutos, dons, talentos e riquezas de Deus, que enriquece e dinamiza a missão da Igreja no Brasil. A comunidade cristã eclesial deve ser o lugar de encontro e comunhão fraterna na fração do pão, e dos dons e carismas concedidos pelo Senhor da Messe e Pastor do rebanho.
Na segunda semana vamos centrar nossa atenção sobre a família, em especial neste Domingo da Vocação Matrimonial e Dia dos Pais. A família é o ventre natural de cada nova vida, acolhida como dom, presente de Deus. Vivemos em sociedade tendencialmente marcada por uma cultura que perdeu a percepção de que um filho é um grande dom que vem do alto. Algumas vezes perde-se até o sentido de Deus, e o homem sente-se senhor da própria vida. Estamos vendo a discussão que ocorre em nosso país nestes dias entre a cultura da vida e a cultura de morte, com alguns pretendendo condenar à morte as crianças inocentes de até 12 semanas, quando deveriam dar dignidade às mulheres e respeitar as duas vidas.
‘Pai’ é uma palavra que vem do latim pater, cuja definição, originalmente, designava toda pessoa que dava origem a outro ser. Da mesma raiz latina vem a palavra paternitas, em português, ‘paternidade’. Essa remete à qualidade ou a condição de ser pai. O Direito Romano, base de nossa organização e estrutura civil, atribuía ao pai o título de pater familiae, o ‘chefe’ ou o ‘pai de família’. Aqui nos leva a entender pai como referência e base da instituição família. Porém, a palavra pai não se deve limitar tão somente à letra da Lei, hoje ela surge de múltiplas formas e variedades.
Pai significa antes de tudo amor, carinho, cuidado e ternura. O pai nos dá abrigo, segurança. Tantas vezes, mesmo cansado das fadigas do cotidiano de trabalho, não hesita em nos ouvir, atende sempre quando o chamamos de pai.
Quem de nós não guarda na memória aqueles momentos vividos ao lado de nossos pais, especialmente na infância, quando tantas vezes sentíamos inseguros perante às indecisões e situações de medo. Era o nosso pai o porto seguro, porque ser pai é ser presença que anima, segurar pela mão e acompanhar na vida. Deus também não age assim com a gente? Sim, Deus é o Pai por excelência, e cuida de nós com amor eterno, por isso a figura do pai está associada ao Pai do céu. Deus é modelo de Pai, sim, um Pai misericordioso, que sempre nos acolhe, nos perdoa e nos ama incondicionalmente.
Hoje, queremos dar graças ao Pai do Céu pelos pais, nossos pais os que estão do nosso lado no dia a dia. Os de longe que por diversas circunstâncias precisam viver distante dos seus filhos muitas vezes para garantir condições de subsistência para sua família; também aqueles pais jovens que logo cedo começaram a assumir a vocação paterna, tantas vezes em meio a obstáculos que os põem em provas.
Recordemos, caríssimos irmãos, dos pais enfermos nos leitos dos hospitais. Quantos pais solitários precisando de afeto, cuidado e atenção de seus filhos. O Dia dos Pais é o dia da gratidão e do amor aos nossos pais, mas também não seria o dia dos filhos reverem o modo como amam e cuidam de seus pais? [column size=”one-fourth” title=”“Celebrar o Dia dos Pais é celebrar a família dom de Deus, e ninguém melhor que a família para ampliar os horizontes da cultura da vida no mundo e ultrapassar uma cultura narcisista em que não se vê além de si próprio.””][/column]
Sim, é o Dia dos Pais. Então não podemos esquecer que mais que um presente, um abraço, uma oração especial, um desejo de parabéns, nossos pais precisam de cuidado, de amor, como Deus nos ama. Devemos, também, amar nossos pais, cultivar a gratidão e o respeito, pois nossos pais são instrumentos de Deus, que geram vida e, assim, gerou-nos para a vida. Deus Pai, ilumine e recompense nossos pais por todo o bem que eles têm feito a cada um de nós.
Neste dia queremos louvar e render graças a Deus Pai pelos pais já falecidos, de quem recordamos com tanta saudade. Estes pais que já contemplam a face de Deus na eternidade, sejam intercessores de seus filhos, e do céu nos ilumine, nos acompanhe na caminhada da vida.
Neste Dia dos Pais, saibamos louvar e agradecer ao Pai do céu porque nos deu um pai na terra para nos proteger, nos acompanhar, cuidar de nós e, sobretudo nos amar. O testemunho de nossos pais sempre nos marcou na caminhada cristã do Povo de Deus.
Assim foi na história da salvação com os nossos pais na fé, e hoje nos sentimos felizes porque nossos pais nos acompanham em nossa vida de fé, pelo testemunho da vocação paterna, nos levando ao seguimento de Jesus Cristo. Ainda quando criança nos levaram à comunidade para recebermos o Batismo e os demais sacramentos de iniciação cristã, introduzindo-nos desta forma a beleza da vocação cristã, nossa maior dignidade como filhos e filhas de Deus, partícipes do seu Reino de justiça e paz. Por isso, Deus seja louvado pela vida de nossos pais.
Celebrar o Dia dos Pais é celebrar a família dom de Deus, e ninguém melhor que a família para ampliar os horizontes da cultura da vida no mundo e ultrapassar uma cultura narcisista em que não se vê além de si próprio. A família tem, em si, um dinamismo de comunhão que leva ao acolhimento de todos e ajuda quem mais precisa. Ela nos acompanha no tempo. Assim a família é o lugar, por antonomásia, da cultura da vida, porque é o lugar, por excelência, da presença de Deus.
Peçamos ao Senhor da Messe que envie mais trabalhadores para a sua colheita e que todos nós possamos acolher e cultivar uma maior sensibilidade vocacional e uma profunda intimidade, nossa mística e espiritualidade de quem se sente chamado, vocacionado, e captar aquilo que Deus nos pede. “Antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci; antes que você fosse dado à luz eu o consagrei, para fazer de você profeta das nações” (cf. Jr 1,5). Isso quer dizer que Deus espera de nós uma resposta livre e consciente ao seu convite. É essa a vocação de todos nós.
Neste Mês das Vocações, em especial neste Domingo dos Pais, é fundamental renovar e intensificar nossa experiência do encontro com Nosso Senhor. É através deste encontro constante com Jesus Cristo, caminho da verdade e vida, que podemos acolher o Seu chamamento e perceber para o que Ele nos chama.
Todos os cristãos têm a missão de ir e evangelizar. Sintamo-nos encorajados e iluminados pela presença materna da Virgem Santa Maria, que nos acompanha sempre na caminhada. Amém.