No Santuário Basílica de São Sebastião, a certidão de nascimento do Rio

“E o legal é que este precioso monumento da origem do Rio pode ser visitado e fotografado — fora dos horários de missa, é claro —, já que os frades capuchinhos são gente muito boa”

Marco da fundação da cidade do Rio de Janeiro / Foto: Tânia Rego (Agência Brasil)

Por Passeador Carioca

O Rio possui uma certidão de nascimento lavrada em granito, você sabia? Trata-se deste marco original (foto acima), que foi fincado pelo capitão-mor Estácio de Sá e seus homens na atual Praia de Fora, na Urca, para registrar a fundação de São Sebastião do Rio de Janeiro. Era o longínquo dia 1º de março de 1565, e a peça foi instalada no contexto da luta de portugueses contra franceses e povos originários, que ocupavam o entorno da Baía da Guanabara desde tempos imemoriais. Dez anos antes, o vice-almirante Nicolás-Durand de Villegaignon implantara uma colônia gaulesa aqui, nas terras portuguesas da América do Sul, na maior cara de pau.

Foi um custo para desmantelar a França Antártica e eliminar a resistência dos índios tupinambás, aliados de primeira hora dos invasores. Para isso, a rainha-consorte regente Catarina de Habsburgo, que governava Portugal na época, determinou a implantação que uma Cidade Real, a fim de organizar a reconquista e o início efetivo da colonização da região.

A bem da verdade, a invasão só aconteceu porque Martim Afonso de Sousa, donatário da capitania de São Vicente, que incluía o Rio de Janeiro, não dava a menor bola para esta parte de suas terras. Então, reunindo soldados vindos da Europa e reforços trazidos de Salvador e do Espírito Santo, além de indígenas do povo Temiminó — interessados em recuperar o território perdido para os tupinambás —, Estácio se instalou em uma pequena faixa de terra, na várzea entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar.

Passeador Carioca e o marco da fundação da Cidade, no Santuário Basílica de São Sebastião: “compartilho o que se pode descobrir e aprender pelos cantos, encantos e recantos do Rio.”

O lugar, estratégico, permitia vigilância sobre a movimentação de inimigos pelo mar e ainda servia como ponto de apoio para novas expedições militares e comerciais. “Levantemos esta cidade, que ficará por memória do nosso heroísmo e de exemplo de valor às vindouras gerações, para ser a Rainha das Províncias e o empório das riquezas do mundo”, proclamou Estácio de Sá, conforme registro dos padres José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, representantes da Igreja no ato. O marco da fundação simbolizou a posse definitiva do Rio de Janeiro pela Coroa portuguesa.

Dois anos depois, o governador-geral da colônia, Mem de Sá, percebeu que daquele jeito, de cara para o oceano, a cidade continuaria exposta demais a novos aventureiros e transferiu a povoação para a atual região central. Uma igreja dedicada ao padroeiro São Sebastião foi erguida no alto do morro que se chamaria do Castelo e o marco da fundação ficaria lá até a derrubada da colina histórica, em 1922, sendo então colocado em um depósito. Nove anos depois, foi finalmente acomodado na recém-inaugurada Basílica Menor de São Sebastião, a Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca.

Com cerca de 2m de altura, a coluna de pedra ostenta, nesta face anterior, as armas do Império portuguêsas quinas, que representam os cinco reinos mouros vencidos por D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique, travada em 1139; e os sete castelos, símbolo das fortificações conquistadas naquela ocasião. Na face oposta, está a Cruz de Cristo, estandarte da Expansão Marítima lusitana.

E o legal é que este precioso monumento da origem do Rio pode ser visitado e fotografado — fora dos horários de missa, é claro —, já que os frades capuchinhos são gente muito boa.

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