Dom Orani Tempesta: “É tempo de São Sebastião”

São Sebastião era defensor da fé e da Igreja, ouvia aqueles que eram presos e os consolava. Na verdade, São Sebastião colocava em prática aquilo que Jesus disse no Evangelho: “Estive preso e fostes me visitar”

Dom Orani com a imagem peregrina de São Sebastião.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.*

Celebraremos, no próximo dia 20 de janeiro, a Festa de São Sebastião, padroeiro de nossa arquidiocese e cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Nesse dia, temos que render graças a São Sebastião, por interceder por cada um de nós e pela nossa cidade. Muitos esquecem, mas a nossa cidade chama-se São Sebastião do Rio de Janeiro. Temos a alegria de, logo no primeiro mês do ano, celebrar o nosso padroeiro e pedir a ele paz e proteção ao longo do ano inteiro contra a peste, a fome e a guerra. Iniciamos o ano com São Sebastião logo depois das festas de final e início de ano.

Ao longo dos anos, a devoção a São Sebastião foi crescendo em nossa cidade e temos que manter essa devoção viva e passar para as futuras gerações. Começamos a celebrar o nosso padroeiro com a Trezena, que teve início no dia 7 de janeiro. Sempre quando rezamos a Trezena de São Sebastião é uma oportunidade de reunir vizinhos, amigos e comunidade e agradecer a intercessão de São Sebastião por nós. Uma experiência bonita com a Trezena de São Sebastião é quando visitamos as casas das pessoas e passamos nos morros da cidade, pois todos param para rezar diante da imagem de São Sebastião.

Ao celebrar a memória ou a festa de um santo, através da novena ou missa, buscamos imitar a vida daquele santo e ser testemunhas de Jesus Cristo para aqueles que são próximos de nós. São Sebastião defendeu a fé até as últimas consequências e devemos ter em nosso coração a mesma atitude. Viver com coragem o nosso batismo e não ter medo de evangelizar os irmãos. Vivemos em um tempo que precisa urgentemente do anúncio de Jesus Cristo e de paz, e só conseguiremos a paz por meio do anúncio do Evangelho.

Como diz o Papa Francisco, Jesus Cristo é o príncipe da paz, é um rei que não precisa de armas e nem seus seguidores precisam. A arma de Jesus Cristo e de seus seguidores, que somos cada um de nós, é o amor. Somente o amor constrói uma sociedade mais justa e fraterna. São Sebastião viveu isso na pele, os seus superiores e o imperador romano da época queriam perseguir os cristãos e achavam que a única forma de anunciar a verdade era por meio das armas. São Sebastião, pelo contrário, anunciava o amor e seguia mesmo que as escondidas, Jesus Cristo.

Que possamos também enveredar o caminho do amor e da verdade e, a exemplo de nosso padroeiro, anunciar com Jesus Cristo. Os discípulos são aqueles que levam ânimo aos entristecidos, coragem aos que estão desanimados e conforto para os enlutados. Sejamos discípulos e missionários de Jesus Cristo em nossa cidade nos dias de hoje, que tanto precisa de paz. Estamos no ano vocacional e temos que atender ao chamado de Deus para sermos suas testemunhas no mundo de hoje. A nossa cidade precisa muito de paz e essa paz pode ser construída a partir de nós.

No Dia de São Sebastião, teremos missa e procissão pela cidade até a Catedral Metropolitana. Participe desses momentos, você e sua família, pedindo paz, saúde, proteção e emprego. São Sebastião é um santo muito popular aqui no Rio de Janeiro, mas a partir de nossa devoção a ele aqui na arquidiocese, o Brasil inteiro passará a conhecê-lo melhor.

São Sebastião nasceu em Narbonne. Seus pais eram oriundos de Milão, na Itália, do século terceiro. São Sebastião sempre foi, desde cedo, muito generoso, buscando ajudar os seus irmãos. Recebeu o batismo e zelou veementemente por ele. Entrou para o serviço do império romano e fez parte do exército, devido ao seu vigor físico e saúde boa. Sem demorar muito, tornou-se primeiro capitão da guarda do império. São Sebastião teve muita coragem, pois em tempos de perseguição aos cristãos, ele anunciava Jesus Cristo aos presos e aos companheiros de exército. E ele mesmo, sendo cristão, passou a fazer parte do exército do imperador que perseguia os cristãos e assim ele sabia os riscos que corria.

São Sebastião era defensor da fé e da Igreja, ouvia aqueles que eram presos e os consolava. Na verdade, São Sebastião colocava em prática aquilo que Jesus disse no Evangelho: “Estive preso e fostes me visitar”. São Sebastião defendeu e guardou os preceitos da fé até o martírio. São Sebastião nutria no coração essa certeza, defender a fé até as últimas consequências e sabia que em algum momento poderia ser denunciado. E foi o que aconteceu, um soldado o denunciou para o imperador que o chamou e questionou sua fé. Ele se manteve firme e com muita coragem disse que era necessário denunciar as injustiças e o paganismo, e que era necessário anunciar Jesus Cristo.

O imperador não quis saber e, furioso, mandou prendê-lo num tronco e muitas flechadas sobre ele foram lançadas, até o ponto de pensarem que estava morto. Mas uma mulher, esposa de um mártir, o conhecia, aproximou-se dele e viu que estava vivo. Ela passou a cuidar de suas feridas. Após restabelecer a saúde, foi até o imperador e se apresentou a ele, pois queria o seu bem e de todo o império. Evangelizou e testemunhou Jesus Cristo por um determinado tempo, mas no ano de 288 foi martirizado brutalmente e seu corpo jogado nos esgotos de Roma, mas uma outra mulher o recolheu e deu sepulturas onde hoje estão as catacumbas de São Sebastião, em Roma.

Celebremos cheios de alegria e confiança em Deus o Dia de São Sebastião, nosso padroeiro, e tenhamos no coração a certeza de que somos discípulos e missionários do Senhor e não hesitemos em anunciar a boa nova do Evangelho, pois somos, como São Sebastião, vocacionados à missão. Peçamos a São Sebastião paz para a nossa cidade e para cada um de nós e que entreguemos a ele esse ano que está iniciando.

*Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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