Ao conhecermos as histórias de vida dos santos, os conceitos teológicos podem tornar-se realidade e despertar em nós algumas virtudes
Michael Rennier / Aleteia
Aprimeira vez que ouvi a história de São Maximiliano Kolbe eu chorei. Não por tristeza. Não por raiva. A história – a de um padre católico preso pelos nazistas que depois trocou a sua vida para salvar a vida de outro prisioneiro – é triste.
Mas não foi por isso que chorei. Chorei porque São Maximiliano é um herói. A ideia de que tais pessoas – verdadeiros heróis – andam pela terra trouxe-me uma emoção profunda. Esse era um sentimento que eu não sabia que possuía.
Ao meditar sobre a sua vida, São Maximiliano reorganizou a minha percepção sobre mim mesmo e do que significa ser sacerdote. No cerne do sacerdócio está o sacrifício, um fato que eu conhecia, mas cuja realidade nunca foi totalmente compreendida. Maximiliano, literalmente, desistiu da vida porque sentiu que isso fazia parte da sua vocação. Inúmeros outros sacerdotes entregam diariamente a vida ao serviço do altar, mantendo a obediência à Igreja e marcando os seus dias com um ciclo de oração.
Se eu não estivesse disposto a fazer esses simples atos de sacrifício, não teria sido padre. Eu sabia que se não pudesse me sacrificar nas pequenas coisas, nunca seria suficiente para os momentos maiores. Não tenho certeza se sou feito do mesmo material heróico que Maximiliano, mas estou tentando a cada dia ser um pouco mais parecido com ele.
A imitação cria virtude
Essa qualidade imitativa que cria novas virtudes em nós é a razão pela qual conhecer a vida dos santos é tão importante. Através das histórias deles – e não simplesmente das suas palavras – os santos trazem conceitos teológicos para a realidade. Uma coisa é saber que o amor cristão é um sacrifício, outra totalmente diferente é vê-lo ganhar vida nas palavras e ações de alguém como São Maximiliano Kolbe. Uma coisa é entender que a maternidade é uma doação total para um filho, outra coisa é ouvir a história de como Santa Gianna trocou sua vida pela de sua filha. Essas são vidas reais, vividas no mundo real.
Santas influências
Meu amigo Patrick diz que a atitude “estranha” de São Filipe Neri o ajudou a relaxar e a não se levar muito a sério. O grande sucesso do santo em influenciar o mundo revela que o bom humor e a gentileza vão muito além da necessidade imperiosa de estar sempre certo e vencer uma discussão.
Outro amigo, Tim, menciona um pequeno detalhe da vida de São João Vianney. Na paróquia de Vianney, o sino da igreja tocava de hora em hora. Ele e os trabalhadores de campo ajoelhavam-se brevemente e faziam uma oração sempre que o ouviam. Isso inspirou Tim a ativar a função de campainha em seu relógio.
O colega padre Jonathan Mitchican, é um grande fã de Dorothy Day e de São Oscar Romero, que o ajudaram através de seus respectivos exemplos a reorientar sua vida para o amor e o serviço. “Ainda estou longe do destino, mas sem o testemunho de Romero e Day eu nem estaria na jornada”, explica ele.
Os santos até influenciaram outros santos. São João da Cruz e Santa Joana D’Arc influenciaram Santa Teresinha de Lisieux para a santidade. Santo Ambrósio influenciou Santo Agostinho quando este ainda era um playboy, perdendo tempo perseguindo mulheres e fama. E a lista continua…
O fracasso também pode inspirar
E não são apenas os sucessos dos santos que nos inspiram. São também seus fracassos. Vianney era uma estudante notoriamente fraco e lutou para aprender latim. Como sacerdote que também luta com o latim, sinto-me encorajado pela sua persistência.
A minha amiga Anne menciona como Maximiliano Kolbe, antes de se tornar mártir num campo de prisioneiros, admitiu ter lutado contra pecados repetidos. Acho que todos nós provavelmente temos alguns vícios dos quais não conseguimos nos livrar. Ouvir Maximiliano discutir suas lutas tão abertamente é libertador. No final, seus pecados não tiveram a última palavra. Enquanto não desistirmos, os nossos também não desistirão.
Os santos podem trazer à tona o que há de melhor em nós
As vidas dos santos são estudos de caso fascinantes sobre como realizar o nosso potencial. Cada santo é exclusivamente ele mesmo. São Francisco é totalmente diferente de São Luís, que é completamente diferente do Beato Franz Jagerstatter, mostrando que a conformidade não é o caminho para a felicidade – ser a melhor versão de si mesmo é.
A vida de São Maximiliano Kolbe é importante para mim não porque eu precise ser exatamente como ele em todos os aspectos, mas porque ele me encoraja a buscar o melhor dentro de mim e oferecê-lo aos outros. Afinal de contas, se o seu exemplo teve tanta influência sobre mim, como é que o meu modesto exemplo de resposta autêntica à virtude (quando consigo administrá-lo) poderá afetar os outros?
Nossos filhos também precisam dos santos
Quero que meus filhos conheçam a história de vida dos santos Quero que eles sejam amigos dos santos também. Quero que eles se inspirem neles, que vivam virtuosamente como eles, e que através deles a sua fé ganhe vida e se torne real. E, claro, seguindo o exemplo dos santos que amo, sou desafiado diariamente a assumir melhor a minha própria vocação e a viver de uma maneira igualmente admirável.
A teologia pode parecer complicada. Aplicar essa teologia à nossa experiência vivida é ainda mais complicado. Os santos (e aqueles que se comportam de maneira santa) simplificam as coisas. O colunista da Aleteia, Tom Hoopes, conta com sua vida foi impactada pela história de heroísmo de Tom Vander Woude, que morreu salvando seu filho de uma fossa séptica. Ele diz que Vander Woude, “tinha uma hora sagrada semanal às 2 da manhã. Eu também tenho. Ele rezava Rosário de joelhos. Eu também rezo. Ele treinava seus filhos. Eu comprei caiaques para eles e para mim. Ele ajudava casais. Eu também ajudo.”
É simples assim! Aprenda sobre os santos e tente viver como eles. Os santos arrancam de nós algo que talvez nunca soubéssemos que tínhamos – uma nova virtude, uma disposição para o sacrifício, uma chama de devoção acesa em um coração já transbordando de amor.