“A Igreja católica continua irrevogavelmente comprometida com a promoção da paz entre os povos e as nações e em promover a educação para a paz em todas as suas instituições”
ACI Digital
A posse de armas atômicas “leva facilmente à ameaça de seu uso, tornando-se uma espécie de ‘chantagem’, que deveria ser repugnante para as consciências da humanidade”, escreveu o papa francisco em uma mensagem para a primeira reunião dos Estados membros do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares. A mensagem foi publicada hoje (21) pela Sala de Imprensa da Santa Sé. No texto, o papa defendeu que esta reunião “se realiza em um momento que inevitavelmente exige uma reflexão mais profunda sobre segurança e paz”.
“No contexto atual, falar ou defender o desarmamento pode parecer paradoxal para muitos. No entanto, devemos permanecer cientes dos perigos de abordagens ‘míopes’ à segurança nacional e internacional e os riscos de proliferação”, defendeu.
Segundo o papa, não trabalhar pelo desarmamento “é inevitavelmente pago com o número de vidas inocentes e medido em termos de carnificina e destruição”.
Francisco renovou “fortemente” seu apelo para “calar todas as armas e eliminar as causas dos conflitos através de um incansável recurso às negociações”.
Uma paz universal
O papa Francisco destacou que “a paz é indivisível” e que, para ser verdadeiramente justa e duradoura, deve ser universal.
“Se a paz, a segurança e a estabilidade não forem estabelecidas globalmente, elas não serão desfrutadas de forma alguma. Individual e coletivamente, somos responsáveis pelo bem-estar presente e futuro de nossos irmãos e irmãs”, defendeu.
Francisco também esclareceu que a Santa Sé “não tem dúvidas de que um mundo livre de armas nucleares seja necessário e possível” e alertou sobre as “consequências humanitárias e ambientais que resultariam do eventual uso de armas nucleares, com efeitos devastadores, indiscriminados e incontidos, no tempo e no espaço”.
‘Sua mera posse é imoral’
O papa Francisco também disse que “as armas nucleares são uma responsabilidade cara e perigosa”, cujo uso “ou mera posse é imoral”.
“Tentar defender e garantir a estabilidade e a paz por meio de uma falsa sensação de segurança e de um ‘equilíbrio do terror’, sustentado por uma mentalidade de medo e desconfiança, acaba inevitavelmente por envenenar as relações entre os povos e dificultar toda forma possível de diálogo real”, disse o papa.
Francisco também afirmou que “a posse leva facilmente à ameaça de seu uso, tornando-se uma espécie de ‘chantagem’, que deveria ser repugnante para as consciências da humanidade”.
Durante a Guerra Fria, que opunha os países ocidentais associados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderada pelos EUA, ao bloco comunista ligado pelo Pacto de Varsóvia, liderado pela União Soviética, desenvolveu-se a doutrina MAD. A sigla, que forma a palavra louco em inglês, significa Mutual Assured Destruction (Destruição mútua assegurada). A ideia era ter um arsenal suficientemente grande para que o adversário, igualmente armado, tivesse certeza de que seria destruído caso usasse uma bomba nuclear.
Apesar de os arsenais de EUA, Rússia, Reino Unido, China e França serem capazes de destruir a vida no planeta. As duas únicas bombas nucleares usadas em combate foram jogadas pelos EUA nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945 e levaram ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Para o papa, “é importante reconhecer uma necessidade global e urgente de responsabilidade em múltiplos níveis”.
“Esta responsabilidade é partilhada por todos e situa-se a dois níveis: primeiro, a nível público, como Estados membros da mesma família de nações. Em segundo lugar, a nível pessoal, como indivíduos e membros da mesma família humana e como pessoas de boa vontade”.
“A educação para a paz pode desempenhar um papel importante, ajudando os jovens a se conscientizarem dos riscos e consequências das armas nucleares para as gerações atuais e futuras”, disse o papa.
“Os tratados de desarmamento existentes são mais do que simples obrigações legais. São também compromissos morais baseados na confiança entre os Estados e entre seus representantes, enraizados na confiança que os cidadãos depositam em seus governos, com consequências éticas para as gerações atuais e futuras da humanidade”, disse.
Os acordos não são uma forma de fraqueza, disse o papa. Pelo contrário, são “fonte de força e responsabilidade, pois aumenta a confiança e a estabilidade”.
“A Igreja católica continua irrevogavelmente comprometida com a promoção da paz entre os povos e as nações e em promover a educação para a paz em todas as suas instituições. Este é um dever ao qual a Igreja se sente obrigada diante de Deus e diante de cada homem e mulher de nosso mundo”, concluiu o papa Francisco.