“Celebrar o Natal é estar compromissado com o mundo”, diz Cardeal Tempesta

“Vivamos unidos, na fraternidade e na comunhão! Que o mundo, entre tantas violências e desigualdades, seja contagiado com o bem. Que a paz reine em nossas fronteiras. Que o espírito de Natal perdure sempre em nossos corações!” Dom Orani

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Por: Carlos Moioli e Raphael Freire

Ao iniciar a tradicional ‘Missa do Galo’, na noite deste sábado, 24 de dezembro, realizada na Catedral de São Sebastião, no Centro, o arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, desejou a todos um “feliz e santo Natal”, e depois convidou os fiéis a unir-se aos “céus e a terra para cantar o mistério do nascimento do ‘menino luz’, e de anunciar a paz a todos que acolhem com alegria a boa notícia do Senhor”.

“Depois de viver com intensidade o tempo do Advento, estamos reunidos em ação de graças, em sintonia com toda a Igreja, para celebrar a proximidade de Deus que veio morar no meio de nós. Com alegria celebramos o Natal do Senhor proclamando o seu nascimento histórico: o Verbo que se fez carne e habitou entre nós! Celebramos nesta noite o mistério da Encarnação, a salvação, Deus que se torna visível em Jesus Cristo. Ele é a grande luz que brilhou na escuridão, trazendo a todos, em todos os tempos, a esperança de uma nova vida. Somos convidados a continuar celebrando o tempo do Natal, que iluminará nossa vida e nossa caminhada histórica para que nós possamos ser sinais da presença de Deus diante de uma sociedade que tanto necessita”, acrescentou.

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A missa foi concelebrada pelo recém nomeado bispo auxiliar e pároco, monsenhor Joel Portella Amado, e entre os presbíteros, o vigário paroquial da Catedral Metropolitana, padre Cristiano Holtz Peixoto, que fez, o anúncio do Natal. Entre os fiéis, dezenas de consagrados da Comunidade Católica Shalom.

Menino luz

Na homilia, o arcebispo recordou o anúncio feito pelo profeta Isaías, na primeira leitura. A chegada de um ‘menino luz’, dom de Deus, que é prometido e esperado na expectativa de um povo que andava na escuridão, com o coração oprimido, e a escravidão sobre seus ombros.

“A cada ano a celebração do Natal é sempre uma nova oportunidade de vermos as consequências desse grande mistério da revelação cristã. Já no Antigo Testamento Deus falou de muitos modos, mas Ele quis de maneira extraordinária e excepcional tornar o invisível em visível, através de seu filho Jesus Cristo que nasce de Maria. E o clamor que havia entre o povo não é coisa do passado. Ainda hoje, há um grande desejo no coração das pessoas. Muitos anseiam por essa luz, por uma vida nova, por novos tempos. Um mundo diferente, com mais justiça, paz e fraternidade”, explicou.

Mistério do Natal

Na reflexão do Evangelho, Dom Orani lembrou sobre a necessidade de atualizar o mistério da celebração do Natal, de um Deus que se tornou próximo, se fez carne e veio morar entre os homens. O seu nascimento trouxe alegria, a alegria de sua presença, porque Ele assumiu a vida, as dores e a existência de cada um.

“Atualizamos o mistério do Natal quando acolhemos a boa notícia d’Aquele que veio nos salvar, depois quando nos tornamos seus discípulos. Muitos clamam por luz diante das injustiças, misérias, corrupções, divisões, guerras, violências e morte. Longe de desanimar, somos enviados por Deus, como Igreja, para ser hoje sinais de Jesus Cristo na sociedade”, destacou.

Desafios da missão

Dom Orani recordou ainda sobre as opções da sociedade, que nem sempre acolhe com alegria o ‘menino luz’. Em Cristo, afirmou o arcebispo, a vida tem um novo sentido, que vai além de questões humanas. O anúncio do Natal, deve ser feito mesmo diante de situações complexas e de perseguições.

“O Natal deve nos fazer olhar um para o outro como irmãos, e esse mover que acontece para com o outro demonstra que a comunidade cristã não está alheia ao mundo. Deus vem fazer história conosco e assume as realidades do mundo de hoje, por isso, somos chamados a ser sinais, pois Deus vai atuar nesse mundo através de nós. Temos um mundo hoje bastante complexo com pobreza, violência, guerras, mortes, nações poderosas que se questionam sobre o que fazer para que possamos conviver na paz, dentre outras muitas situações, e a Igreja é chamada a estar presente e nesse ponto o Papa Francisco tem sido uma presença muito forte e atuante. Mas também somos chamados a olhar para realidades mais próximas de nós como, por exemplo, nosso país, estado e município, e sentir com as pessoas suas dificuldades. Se já tínhamos irmãos pobres e abandonados em função das drogas, problemas familiares ou em situação de rua, hoje temos muitas pessoas que passam necessidade pelo desemprego ou pela falta de pagamento do seu próprio emprego. Além disso, a intolerância política e religiosa que existe ao nosso redor também é grande. Essas realidades machucam todo o tecido social e cada vez que a sociedade tenta encontrar os responsáveis por tudo isso nosso tecido social se rasga ainda mais. Por isso, a comunidade cristã deve celebrar o Natal crendo que o Deus da história vem estar presente na nossa história de forma concreta e que, como cristãos, apesar de nossas falhas, devemos ser presença de Deus nesse mundo de hoje através não só de palavras, mas também de atitudes de perdão, reconciliação, presença e compromisso com o outro mesmo quando nos julgam por praticarmos o bem. Celebrar o Natal é estar compromissado com o mundo para que essa luz do Menino Jesus ilumine a escuridão. E nesse ponto temos um grande trabalho, uma grande missão”, ressaltou o cardeal.

Dom Orani concluiu sua homilia, lembrando que o ‘menino luz’ prometido, que nasceu de Maria, em Belém, por obra do Espírito Santo, é o filho de Deus, o Senhor. Renovando votos de um abençoado Natal, convidou a todos para viver intensamente, no cotidiano da vida, o mistério da presença e da percepção contagiante do Salvador.

“Vivamos unidos, na fraternidade e na comunhão! Que o mundo, entre tantas violências e desigualdades, seja contagiado com o bem. Que a paz reine em nossas fronteiras. Que o espírito de Natal perdure sempre em nossos corações!”, finalizou.

No final da celebração, Dom Orani rezou diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida, e depois, introduziu a estátua do menino Jesus no presépio, montado dentro da Catedral.

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