“Hoje, no Rio de Janeiro, muitos dos nossos jovens são flechados também com a droga, os vícios, a desigualdade social, a fome e a pobreza”
Carlos Moioli e Rita Vasconcelos / Testemunho de Fé
Na tarde do terceiro dia da Trezena de São Sebastião, 9 de janeiro, a imagem missionária do padroeiro do Rio de Janeiro esteve em visita nas três unidades do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), todas instaladas na Ilha do Governador.
O arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, o assistente eclesiástico adjunto da Pastoral do Menor, padre Charles Fernandes Gomes, e o assistente eclesiástico do Centro de Socioeducação Dom Bosco e da Escola João Luiz Alves, padre Roberto José dos Santos, e toda comitiva foram recebidos pelo diretor geral das 26 unidades do Degase, Victor Hugo Poubel.
As três unidades visitadas no Degase, órgão do Governo do Estado do Rio de Janeiro que executa as medidas judiciais aplicadas aos adolescentes em conflito com a lei, foram o Centro de Socioeducação Dom Bosco e a Escola João Luiz Alves, que atendem adolescentes masculinos, e o Centro de Socioeducação Professor Antônio Carlos Gomes da Costa, a única a atender jovens do sexo feminino em regime fechado.
Igreja presente
“É um momento bastante feliz para nós do Degase e para todos os jovens que cumprem medidas socioeducativas de ter a Igreja Católica presente, com Dom Orani celebrando esse momento de fé, de louvor a São Sebastião, que é o nosso santo guerreiro protetor”, disse o diretor geral do Degase, Victor Hugo Poubel.
“Os nossos jovens, e todos do Degase, precisam muito da oração, de fé, para continuarmos com o nosso trabalho e fortalecermos muito esses jovens que precisam da fé e da religião para seguir nessa caminhada correta da vida. Essa é a nossa esperança, é o que todos nós esperamos tendo a Igreja presente aqui conosco”, acrescentou Victor Hugo Poubel.
As flechas hoje
Segundo o assistente eclesiástico adjunto da Pastoral do Menor, padre Charles Fernandes Gomes, a Igreja Católica na Arquidiocese do Rio de Janeiro está há quase 30 anos presente no Degase nas atividades socioeducativas. Ele explicou que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) contempla a assistência religiosa como um direito do adolescente para se ressocializar, não só ética, moralmente, mas também espiritualmente.
“O Degase tem o privilégio de receber por meio da Trezena, em curso na nossa arquidiocese, a imagem de São Sebastião, um jovem soldado cristão que, perseguido pela sua fé, foi perseguido e flechado com a violência. Hoje, no Rio de Janeiro, muitos dos nossos jovens são flechados também com a droga, os vícios, a desigualdade social, a fome e a pobreza. São Sebastião tem o rosto do jovem carioca perseguido, mas que não desiste porque tem seus pés fincados em Jesus Cristo”, disse o padre Charles Fernandes Gomes.
Mais vocações
Na sua mensagem, Dom Orani disse que, “graças a Deus”, há sacerdotes que presidem missas e administram sacramentos, como o do batismo e da confissão, e muitos agentes de pastoral que atuam no Degase e nos presídios do Complexo Penitenciário de Gericinó, e que “a presença da Igreja faz a diferença”.
“Para os adolescentes e jovens privados de liberdade que estão apenas cumprindo medidas socioeducativas no Degase, ou para os homens e mulheres que estão reclusos no Gericinó, a Igreja anuncia uma palavra que ilumina, de vida eterna, de vida nova que leva as pessoas a terem esperança no amanhã. Mesmo estando privados de liberdade ou reclusos, todos experimentam, por meio da evangelização, o amor de Deus em seus corações”, disse.
Dom Orani agradeceu a Deus pelos dons que Ele suscita nos sacerdotes, consagrados e agentes de pastoral que trabalham no Degase e nos presídios, porém, evidenciou: “precisamos de muito mais, para que a Igreja possa estar presente em todas as unidades”.
O arcebispo destacou que, junto com os padres e agentes de pastoral, há a dedicação das irmãs da Comunidade Sementes do Verbo que trabalham no Degase e também ajudam as famílias dos que estão reclusos em Gericinó, com doações de alimentos, roupas e produtos de higiene pessoal.
Os adolescentes e jovens – explicou o arcebispo – que estão temporariamente no Degase foram educados ou deseducados de uma forma que os levaram a cometer atos infracionários. “As medidas socioeducativas são importantes, ajudam a educar e a ressocializar. Também é a missão da Igreja que proporciona aos jovens valores importantes que a fé nos traz”, disse.
Na opinião de Dom Orani, o trabalho com crianças, adolescentes e jovens é importante e necessário. “A Pastoral do Menor realiza um trabalho maravilhoso, de forma preventiva, mas não conseguimos alcançar a todos. É muito triste ver jovens trilharem por caminhos errados. Quando privados de liberdade, nós queremos, com todo carinho, ajudá-los para que, uma vez cumprida as medidas socioeducativas, possam retomar suas vidas e a convivência com a família, encontrar um trabalho e serem pessoas renovadas, reavivadas”, disse.
“Há muito trabalho a ser feito. Faltam pessoas que dizem ‘sim’ ao chamado de Deus, que estejam dispostas a servir os irmãos que passam por dificuldades. Na Trezena de São Sebastião, peçamos a Deus pelas vocações. Que muitos leigos e leigas possam se entusiasmar pela missão, ser agentes de pastoral, e, assim, ser um sinal da presença da Igreja junto às várias situações e realidades que nós encontramos a cada dia”, concluiu o arcebispo.