Algumas tradições sugerem que Jesus poderia ter passado esse tempo estudando, possivelmente em Alexandria ou no Egito, ou se envolvendo em trabalhos de carpintaria com seu pai, José, em Nazaré.
No Brasil, um país majoritariamente cristão, é pouco provável que alguém não tenha alguma informação sobre a história de Jesus Cristo. As histórias sobre seu nascimento, a escolha dos discípulos, o início de sua pregação, os milagres, sua morte e ressurreição são de conhecimento até mesmo de quem não professa a fé cristã. No entanto, o que não se sabe e é motivo de muita dúvida e curiosidade é o que Jesus teria feito durante sua adolescência e início da vida adulta.
O que se sabe:
No texto do evangelho de Lucas, há o relato de Jesus com 12 anos acompanhando seus pais no templo. “Todos os anos seus pais iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando ele completou doze anos de idade, eles subiram à festa, conforme o costume”, Lucas 2.41-42.
Foi durante essa visita que Maria e José teriam perdido Jesus no meio da multidão e depois de três dias “o encontraram no templo, sentado entre os mestres, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas”, (Lucas 2.46).
Contudo, depois desse relato, a Bíblia não fornece nenhuma informação sobre como teria sido a vida de Jesus até o seu batismo, com 30 anos. O relato mais detalhado sobre a vida de Jesus na Bíblia é encontrado nos evangelhos canônicos, que cobrem principalmente o período de seu ministério público. “Jesus tinha cerca de 30 anos de idade quando começou seu ministério”, (Lucas 3.23).
Mas, o que Jesus fez nesse período?
Algumas tradições sugerem que Jesus poderia ter passado esse tempo estudando, possivelmente em Alexandria ou no Egito, ou se envolvendo em trabalhos de carpintaria com seu pai, José, em Nazaré; o que não seria incomum, tendo em vista que, naquela época, os filhos seguiam as profissões de seus pais. No entanto, estas são especulações e não são registradas nos textos bíblicos.
O Padre Alexandre Favretto, doutor em teologia, diretor e professor da Faculdade de Teologia da PUC de Campinas (SP), explica que, apesar dessa informação não estar contida na Bíblia, “considerando o contexto da época, e suas condições de possibilidade, muito possivelmente ele permaneceu residindo em Nazaré até o início de seu ministério público”.
O professor afirma que o fato de Jesus ser posteriormente reconhecido, como mostra alguns textos, (Marcos 6.3 e Mateus 13.55), como carpinteiro ou filho do carpinteiro, aponta para a provável ocupação de Jesus nesse período.
Por que não está na Bíblia?
A ausência de histórias na Bíblia que contam sobre esse período da vida de Jesus pode ser compreendida, de acordo com o professor, de maneira simples.
“Não são significativos para a intencionalidade dos Evangelhos, que demonstram o ministério que envolve a pessoa de Jesus Cristo, o messias, Filho de Deus, encarnado e ressuscitado, salvação para o mundo e modelo de humanidade.”
Padre Alexandre afirma que além da ausência de informações sobre a vida de Jesus entre seus 12 e 30 anos, também não há fontes ou registros históricos que esclareçam essa dúvida. Ainda conforme o padre, mesmo o importante historiador judeu do primeiro século, Flavio Josefo, que em suas obras faz menções ao Jesus de Nazaré, nada é mencionado sobre o período em questão.
Flávio Josefo, segundo padre Alexandre, afirma que “Jesus foi um grande sábio e que realizou obras extraordinárias, seus ensinamentos eram bem recebidos por judeus e gregos e que ele era o Cristo. Foi crucificado por Pilatos e, ao terceiro dia, apareceu vivo aos seus seguidores e que, com isso, surgiram os grupos de cristãos”.
Conforme explicação do doutor em teologia, na época em que Jesus viveu, a vida das pessoas era definida de acordo com alguns fatores, tais como condição sócio-política, econômica e religiosa. Além disso, a história aponta que crianças e jovens judeus, nessa fase da vida, recebiam educação religiosa nas sinagogas por intermédio dos rabinos e, somado a isso, os meninos dedicavam-se também em aprender a profissão de seus pais.
Padre Alexandre conclui dizendo que mesmo as pesquisas existentes apontam para essa possibilidade de Jesus ter frequentado as sinagogas e ter aprendido o ofício da carpintaria.
“Dentre pesquisas especulativas sobre este período, existem aquelas que se utilizam de fontes não canônicas, com os evangelhos apócrifos e textos relacionados, que poderiam oferecer elementos para compreensão destes anos relatados da vida de Jesus. Faz-se importante ressaltar que muitas dessas fontes não são consideradas históricas e documentais e, nem mesmo, de confiabilidade teológica.”
Fonte: Ranieri Costa – Colaboração para UOL