A sociedade contemporânea está tão polarizada que tais discursos sobre a vida em sua totalidade são colocados em duas áreas: ou são conservadores, ou são ditos “comunistas”
Por Fr. Rafael Peres Nunes de Lima, C.Ss.R. / A12 Redação
“Ele será um sinal de contradição” (Lc 2,34-35), parafraseando a passagem do Evangelho de Lucas, a questão da inviolabilidade da vida é causa de contradição na sociedade contemporânea ocidental. Digo sobre a sociedade ocidental, pelo fato de que é no Ocidente que ocorrem grandes divergências entre questões morais e éticas, das evoluções contemporâneas.
Quando tratamos sobre a inviolabilidade da vida, logo pode acercar-se à mente questões como o aborto, o uso de contraceptivos, preservativos, etc., mas devemos estar atentos, pois tal questão é muito mais abrangente.
O grande teólogo moral Marciano Vidal, em seu tratado ‘Moral das Atitudes’, coloca que a inviolabilidade da vida é uma questão ambígua na sociedade, pois quando se trata do aborto e da pena de morte ou, o homicídio por um agente da ordem [policial] e homicídio de um “pretenso lutador pela causa da liberdade”, a sociedade tende a fazer juízo de valores que desfavorecem o conteúdo principal da questão, a vida em si.
Não estamos aqui para refazer um tratado de moral, mas para abrir o questionamento sobre algumas questões da mesma. Quando tratamos sobre a vida, devemos observar que a vida é sagrada e inviolável em todos os seus aspectos. Não adianta defendermos um posicionamento e excluirmos outro.
Para a doutrina cristã, deve-se conservar a vida em sua totalidade. A partir disso, colocamos: do que vale defender a proibição do aborto, sendo que não se garante uma saúde pública de qualidade, uma vida digna para as mulheres, um acompanhamento próximo a elas, garantindo saúde, educação, formação, etc.? Ou ainda, defender a criminalização do aborto e ser a favor da pena de morte? Há uma discrepância absurda nestes fatos, pois um cristão católico deve garantir a vida de todos, sem distinção.
O fato é, hoje na sociedade ocidental, onde a “liberdade” está se tornando libertinagem, acaba-se por escandalizar-se quando ocorrem manifestações pró-vida. E aqui não estamos sendo conservadores, ou tradicionalistas, ou retrógrados, pois, ao mesmo tempo que devemos defender a vida, devemos lembrar daquilo que a Doutrina Social da Igreja nos recorda, a vida em sua totalidade, ou seja, devemos questionar e buscar soluções para todos os âmbitos da vida: saúde, educação, moradia, etc.
E aqui está outro fato: a sociedade contemporânea está tão polarizada que tais discursos sobre a vida em sua totalidade são colocados em duas áreas: ou são conservadores, ou são ditos “comunistas”.
A banalização dos conceitos é tão escrachada que devemos nos questionar: estou defendendo a vida em si, ou os meus valores pessoais? Estou seguindo os ensinamentos da Igreja, ou aquilo que eu penso ser o certo?