Sua irmã partiu deste mundo antes mesmo que ele nascesse; sua mãe, quando ele tinha 9 anos; seu irmão, aos 12; e o pai, aos 21
Francisco Vêneto / Aleteia
São João Paulo II perdeu toda a família até os 21 anos de idade. Herdeiro do nome de seu pai, o pequeno Karol Józef Wojtyła tinha dois irmãozinhos mais velhos: Edmund, que se tornaria médico e morreria aos 26 anos, e Olga, que faleceu antes mesmo que o pequeno Karol nascesse.
Karol Wojtyła pai era suboficial do exército da Polônia e faleceria em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial. Já a mãe, Emilia, partiria deste mundo vários anos antes, ainda em 1929, quando Karol Józef tinha apenas 9 anos de idade.
Emilia, a mãe
Emilia, de fato, tinha uma saúde bastante frágil, que se tornou ainda mais delicada após o nascimento do futuro Papa. A própria gravidez já havia sido muito difícil, a ponto de os médicos lhe indicarem o aborto. Ela fez questão de lutar pelo filho e protegê-lo. Emilia aceitou com firmeza o custo dessa opção pela vida: passou os 9 anos seguintes entre internações e o progressivo enfraquecimento que acabou por levá-la embora desta vida. Na primavera de 1939, quando o futuro Papa Wojtyła tinha 19 anos e já fazia uma década que havia perdido a mãe, ele escreveu sobre as saudades dela:
“Sobre o teu túmulo branco florescem as flores brancas da vida. Ah, quantos anos já se foram sem você, quantos anos?”
Vem do amor materno, inegavelmente, boa parte da profunda sensibilidade de Wojtyła na defesa enfática da vida humana mais frágil, desde a concepção até a morte natural. Não admira que os cidadãos de Wadowice tenham dedicado a Emilia Kaczorowska Wojtyła uma obra em prol das mulheres que, mesmo no meio de muitas dificuldades, escolheram proteger o fruto da sua maternidade: a Casa da Mãe Sozinha. Em visita à sua terra natal em junho de 1999, São João Paulo II declarou sobre essa obra:
“Sou grato por esse grande dom do amor de vocês ao homem e da solicitude de vocês pela vida. A minha gratidão é tanto maior porque esta casa é dedicada à minha mãe, Emilia. Acredito que aquela que me colocou no mundo e envolveu de amor a minha infância cuidará também desta obra”.
Edmund, o irmão
Apenas três anos depois da morte de Emilia, outro luto comoveria os Wojtyła: a trágica morte de Edmund, o irmão maior, a quem Karol tanto amava e admirava. Formado médico em 1930, ele começou a trabalhar no Hospital Estatal de Bielsko. Pouco depois, eclodiu na região uma epidemia de escarlatina, doença infectocontagiosa aguda, provocada por uma bactéria e contra a qual, na época, não existia vacina.
Apesar dos riscos para a sua própria saúde, dos quais era bem consciente, o jovem doutor continuou atendendo os pacientes com esmero e acabou contraindo a infecção. Edmund foi arrancado deste mundo e da carreira promissora na medicina com apenas 26 anos, em 1932.
Karol, o pai
Karol Józef tinha apenas 12 anos e já tinha perdido a mãe e o irmão, além de irmã que sequer havia chegado a conhecer. Restava-lhe, porém, o amado pai, o Karol que lhe dera o mesmo nome, um militar bom e rigoroso, de fé inabalável apesar das tragédias pessoais, familiares e nacionais. Karol pai acompanharia Karol filho até a idade adulta, ajudando a consolidar a sua personalidade e a gerir a própria conduta com base na honestidade, no patriotismo, no amor à Virgem Maria e em outras virtudes humanas e espirituais que se tornariam para ele um “segundo DNA”. Quando já era Papa, em conversa com o amigo jornalista André Frossard, São João Paulo II testemunhou:
“Meu pai foi admirável. E quase todas as minhas recordações de infância e de adolescência se referem a ele (…) A dor dele se transformava em oração. O simples fato de vê-lo se ajoelhar teve uma influência decisiva nos meus anos jovens”.
A influência do pai se estendeu também à vocação sacerdotal do filho. Em seu livro autobiográfico “Dom e Mistério”, o Papa Peregrino contou:
“Não falávamos de vocação ao sacerdócio, mas o exemplo dele foi para mim, de qualquer modo, o primeiro seminário, um tipo de seminário doméstico”.
Karol filho e Karol pai vivem em Cracóvia, onde o jovem estuda na universidade, quando, em 1939, irrompe a ocupação nazista. Os sofrimentos da família se entrelaçam e se fundem com os da pátria polonesa, tornando-se um só.
Aos 21 anos de idade, o futuro “Papa que veio de longe” perde também o pai, que morre na fria noite de inverno de 18 de fevereiro de 1941, talvez o dia mais doloroso da sua vida.
São João Paulo II ainda se tornaria, porém, o Papa da família.