“A droga e as dependências são uma prisão invisível que vocês, de diferentes maneiras, conheceram e combateram, mas todos nós somos chamados à liberdade”, disse Leão XIV.
Por Courtney Mares / ACI Digital
O papa Leão XIV pediu ontem (26) que governos e agências de segurança concentrem seus esforços em desmantelar organizações criminosas que lucram com o tráfico de drogas, em vez de punir viciados.
Falando ontem a ativistas antidrogas num pátio no Palácio Apostólico, no Vaticano, no Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas, o papa criticou a política de drogas que tem como alvo os pobres enquanto os traficantes poderosos ficam impunes.
“Existem enormes concentrações de interesses e organizações criminosas ramificadas que os Estados têm o dever de desmantelar”, disse Leão XIV. “É mais fácil combater as suas vítimas. Com demasiada frequência, em nome da segurança, travou-se e continua-se a travar a guerra contra os pobres, enchendo as prisões com aqueles que são só o último elo de uma cadeia de morte. Quem segura a cadeia nas suas mãos, por outro lado, consegue ter influência e impunidade”.
Os comentários do papa foram feitos no momento em que o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês) divulgou seu Relatório Mundial sobre Drogas 2025, que revelou aumentos acentuados na produção de cocaína em todo o mundo, e o número mortal de opioides sintéticos como o fentanil.
Segundo o relatório, o fentanil foi responsável por cerca de 48.422 mortes nos EUA no ano passado. Embora as mortes por overdose nos EUA tenham começado a diminuir, o fentanil continua a dominar a crise de opioides na América do Norte. As apreensões globais de fentanil atingiram 19,5 toneladas em 2023, com 99% delas ocorrendo na América do Norte.
“O dia de hoje, irmãos e irmãs, nos compromete em uma luta que não pode ser abandonada enquanto, ao nosso redor, alguém ainda estiver aprisionado nas diversas formas de dependência”, disse o papa.
“O nosso combate é contra quem faz das drogas e de qualquer outra dependência – pensemos no álcool ou no jogo de azar – seu imenso negócio”.
O relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) também mostra níveis recordes de apreensões de metanfetamina e destaca como o mercado de drogas sintéticas, dominado por estimulantes do tipo anfetamina, está se expandindo globalmente. A cocaína, por sua vez, tornou-se o mercado de drogas ilícitas que mais cresce no mundo, com uma produção aumentando em cerca de 34% em 2023, principalmente devido ao aumento do cultivo de coca na Colômbia.
A violência ligada ao tráfico de cocaína também aumentou, especialmente nas Américas. No Equador, a taxa de homicídios disparou de 7,8 por 100 mil pessoas em 2020 para 45,7 em 2023. O relatório mostrou que padrões semelhantes de violência, antes restritos à América Latina, agora estão se espalhando para a Europa ocidental e outras regiões, à medida que grupos criminosos lutam pelo controle de novos mercados lucrativos.
“A droga e as dependências são uma prisão invisível que vocês, de diferentes maneiras, conheceram e combateram, mas todos nós somos chamados à liberdade”, disse Leão XIV. “Ao encontrá-los, penso no abismo do meu coração e de cada coração humano. É um salmo, ou seja, a Bíblia, que chama de abismo o mistério que habita em nós (cf. Sl 63,7)”.
“Santo Agostinho confessou que só em Cristo a inquietação do seu coração encontrou paz”, disse também o papa. “Buscamos paz e alegria, temos sede delas. E muitos enganos podem nos decepcionar e até mesmo nos aprisionar nessa busca”.
O tema do dia internacional deste ano — Quebre o ciclo. #AcabeComOCrimeOrganizado — pede soluções de longo prazo para romper o ciclo do crime organizado das drogas, com investimentos em educação, prevenção e serviços sociais. Leão XIV falou sobre esses objetivos, enfatizando a necessidade de elevar a dignidade de cada pessoa e construir comunidades de esperança.
“Queridos jovens, vocês não são espectadores da renovação de que a nossa Terra tanto precisa”, disse o papa. “A Igreja precisa de vocês. A humanidade precisa de vocês. Juntos, sobre toda dependência degradante, faremos prevalecer a infinita dignidade impressa em cada um de nós”.
“Infelizmente, essa dignidade às vezes só brilha quando está quase completamente perdida”, disse também Leão XIV. “Então, vem um choque e fica claro que se levantar é uma questão de vida ou morte”.
“Bem, hoje, toda a sociedade precisa desse choque, precisa do seu testemunho e do grande trabalho que vocês estão fazendo”, disse o papa. “Todos nós temos, de fato, a vocação de ser mais livres e humanos, a vocação para a paz”.
“Avancemos juntos, então, multiplicando os lugares de cura, de encontro e de educação: caminhos pastorais e políticas sociais que começam na rua e nunca dão ninguém por perdido”, concluiu Leão XIV.