Primeiro santo carioca: frade, surfista, menina e casal têm processos de beatificação no Vaticano

Cidade maravilhosa tem cinco candidatos esperando beatificação do Vaticano

Rio tem cinco candidatos a beatificação / Foto: Reprodução

O Globo / Luisa Bertola

RIO DE JANEIRO — Abençoado pelo Cristo Redentor, que completa hoje 91 anos, o Rio de Janeiro ainda não tem um santo para chamar de seu. Mas a possibilidade é grande. O Vaticano analisa cinco candidatos. Odetinha, carioca que morreu aos 8 anos em 1939, é a primeira da fila. Ela ficou conhecida por sua dedicação à caridade. Ações sociais voltadas a pessoas escravizadas e pobres também levaram Zélia e Jerônimo de Castro Abreu Magalhães, que viveram no século XIX, a se tornarem servos de Deus — primeira etapa para a canonização. Eles são o primeiro casal no Brasil a ter o processo de beatificação aceito. Os outros dois são personagens bem cariocas: o médico, seminarista e surfista Guido Schäffer, que morreu afogado em 2009, e o frei Nemésio, da Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca, que guarda o marco de fundação do Rio e celebra com missa os aniversários da cidade.

Nascido em 1927, em Veranópolis, no Rio Grande do Sul, frei Nemésio veio para o Rio aos 37 anos. Ele se dizia carioca de coração e de adoção. Antes de morrer em 2016, o religioso já tinha fama de santo. Por isso, em julho deste ano, o arcebispo do Rio, cardeal dom Orani Tempesta, abriu oficialmente a fase diocesana do processo para beatificação. O frei passou a ser considerado servo de Deus.

— Quando eu nasci, ele já andava pelo seminário, na igreja. Ele sempre foi uma pessoa especial e diferente de nós. Ele sempre foi disposto a ajudar, e tudo que o pedíamos em vida, ele dava um jeito de ajudar. Hoje eu sigo pedindo que ele realize graças a quem precisa — destaca a freira Gema Bernardi, irmã do frade.

Longa caminhada

Dom Roberto Lopes, delegado arquiepiscopal das causas de santos do Rio, um dos responsáveis por ouvir as testemunhas da vida de frei Nemésio, explica que, apesar de o religioso não ter nascido no Rio, a entrada do processo para beatificação acontece geralmente onde o candidato morreu.

O especialista em Direito Canônico e professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (CE), José Luis Lira, explica que os processos de beatificação, e posteriormente, de canonização são longos. Segundo ele, para dar início a essas etapas, é necessário que se aguarde cinco anos da morte do candidato, para a Igreja compreender se a causa da santidade é de fato autêntica. Passado esse tempo, a Arquidiocese local pede o “nada consta” ao Vaticano para dar entrada no processo de beatificação. Se autorizado, é concedido ao candidato o título de servo de Deus.

No caso de frei Nemésio, 57 testemunhas, entre parentes e religiosos, serão ouvidas pelo Tribunal Arquidiocesano aqui no Rio, que vai reunir dados da infância aos últimos momentos da vida do candidato a santo. Esse material será enviado ao Vaticano, que vai avaliar se o servo de Deus praticou as virtudes cristãs em grau heroico e, assim, poderá ganhar o título de venerável — o segundo no caminho rumo à santidade.

Odette Vidal Cardoso, conhecida como Odetinha, é a única a ter recebido até agora o título de venerável, segundo dom Roberto Lopes. Para alcançar a próxima etapa, tornando-se beata, um milagre atribuído a ela precisa ser reconhecido pelo Vaticano. O processo da menina começou em 2013. Desde sua morte por tifo, o túmulo dela no Cemitério São João Batista, em Botafogo, atrai fiéis.

 

Milagre por vir

Para o beato ser finalmente declarado santo, é preciso comprovar um segundo milagre. Feita essa checagem, a Congregação para a Causa dos Santos do Vaticano envia o processo para o Papa que canoniza o novo santo. Em relação à comprovação dos milagres, o professor Lira explica que o processo é rigoroso:

— O milagre é provado com muito cuidado, com muita cautela. Além disso, qualquer milagre que for averiguado precisa ter comprovação religiosa e científica.

Dom Roberto Lopes explica que os milagres são acontecimentos que a ciência não consegue mais explicar.

— Quando a ciência não consegue mais explicar, vamos ter laudos de médicos, mostrando o que realmente pode ser considerado um milagre — destaca.

Aberto apenas em janeiro de 2014, o processo de Jerônimo e Zélia ainda está em fase arquidiocesana, em que há busca de documentação histórica. Os restos mortais dos dois estão na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na Gávea, Zona Sul do Rio.

Guido Schäffer também já é servo de Deus. Com o processo iniciado em 2015, a Igreja busca agora um milagre atribuído a ele. Dom Roberto vai a Roma nos próximos dias para editar o material com a história do surfista. Segundo ele, Guido pode ser nomeado venerável, assim como Odetinha, já no ano que vem. Entre os religiosos, a trajetória de seminarista é importante para aproximar os jovens da Igreja Católica.

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