Jesus Cristo, modelo de orientador vocacional

“Certo dia, vendo-se no meio de grande multidão, ordenou Jesus que o levassem para a outra margem do lago. Nisso aproximou-se dele um escriba e lhe disse: ’Mestre, eu te seguirei para onde quer que fores’. Respondeu Jesus: ’As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não onde repousar a cabeça’. Outra vez um dos seus discípulos lhe disse: ‘Senhor, deixa-me ir primeiro enterrar meu pai’. Jesus, porém, lhe respondeu: ‘Segue-me e deixa que os mortos enterrem seus mortos.” (Mt 8,18-22)

Ilustração: Google

Frei Thiago Lopes da Silva, OFMCap

Quando falamos da máxima importância de Jesus e do movimento cristão, damos a figura de Jesus de Nazaré vários títulos divinos, como Messias, Salvador e Cristo. Contudo, existe um aspecto de Jesus e de sua ação que muitos não compreendem que é de ser modelo de orientador vocacional. Orientador vocacional no sentido de despertar no íntimo do ser humano algo latente neles para um caminho novo de vida. Esse algo latente é o amor para doar às suas vidas em virtude do Reino de Deus e do Evangelho.

Jesus é Mestre de instigar às pessoas a mudarem as suas vidas. Isso foi na pessoa de Pedro, Maria Madalena, Mateus entre outros que tiveram a graça do encontro com Cristo no caminho de suas vidas terrenas. Essas pessoas ao ouvirem o chamado de Jesus abriram os seus ouvidos e corações ao plano de Deus em suas vidas. Uma coisa é certa, quando Deus chama ele mesmo capacita a pessoa naquilo a que são chamadas. No livro “O pobre de Deus”, de Nikos Kazantzakis, o autor coloca na boca de Francisco de Assis essa reflexão profunda do ser humano: “- Não há maior alegria – disse Francisco – do que obedecer a vontade de Deus. Sabes por quê, Irmão Leão? Como poderia saber? Explica-me. – Porque no íntimo desejamos o que Deus quer. A única diferença é que o ignoramos. O Senhor, então desce em nós, desperta a nossa alma e mostra-lhe o que ela cobiça sem saber. Eis o segredo, irmão. Obedecer a vontade de Deus significa obedecer à nossa própria vontade, a mais íntima e secreta. No fundo do mais indigno dos homens, estás vendo, dorme um servidor de Deus”.

Isso foi visto na vida de cada pessoa que seguia a Jesus no seu ministério de anunciar a Boa Nova entre os pobres e os pecadores. Pois quando Jesus chamava cada um para o seu seguimento, Ele orientava a pessoa a renunciar àquilo que ela considerava como bem precioso para suas vidas em vistas de algo maior que é o dom da vida eterna com Deus. Vida essa que é comparada à pérola preciosa que um negociante, ao encontrá-la, vende tudo que possui e a compra (Mt 13,45-46). Na passagem acima tirada no Evangelho de Mateus, o autor bíblico nos mostra essa grande capacidade de Jesus de orientar as pessoas para o seguimento de Deus, só que, infelizmente, ao contrário daqueles e daquelas que experimentaram a salvação em suas vidas por causa de Cristo e do seu projeto, os personagens bíblicos, um escriba e o outro um discípulo anônimo de Jesus, não aderem totalmente ao seu projeto de vida. O escriba que vai primeiro ter com Jesus e diz que vai onde Ele estiver, na verdade era uma pessoa interesseira de status e fama que de alguma forma teria sendo um seguidor de Cristo.

Por isso, Jesus conhecendo os desejos daquele escriba de certa forma o repreende dizendo que, ao contrário de certos animais que tem onde descansar, o Filho do Homem não tem onde descansar a sua cabeça. Uma clara referência a pobreza e uma vida de renúncias que cada seguidor de Cristo deve fazer perante o Reino, tendo como modelo o próprio Cristo que era rico e se tornou pobre (2Cor 8,9) por causa de nós.

Jesus orienta o escriba a discernir, caindo por terra as suas próprias expectativas de fama e status junto com falsas interpretações daquilo que era o Cristo. Já o segundo, que era um discípulo anônimo, queria no fundo seguir a Jesus nas suas andanças só que era apegado às coisas do mundo terreno. E de novo Jesus o repreende não por causa do amor a seus pais, mas por causa da sua indecisão de permanecer naquela vida sem sentido e de não abraçar uma vida nova em Deus. Ele vive como um “morto enterrando um morto”, assim como diz Jesus fazendo este discernir a sua vida vocacional.

Portanto, essa passagem serve tanto para aqueles que estão discernindo a sua própria vocação como religiosos como para aqueles que fazem a sua opção pelo Evangelho, mas perante as tentações da carne são levados a viverem como o escriba ou discípulo anônimo do Evangelho: cheios de interesses e apegados às coisas do mundo.

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