Por Suhail Lawand / ACI Digital
Entre cantos e sinais de alegria, os cristãos de Aleppo, Síria, celebraram no sábado (6) a ordenação sacerdotal dos irmãos gêmeos e franciscanos Johnny e George Jallouf.
A ordenação aconteceu mediante a oração de consagração e a imposição de mãos do vigário apostólico dos latinos de Aleppo, dom Hanna Jallouf, na igreja de São Francisco de Assis, em Aleppo, a cidade mais populosa do país. Anos atrás, dom Jallouf foi sequestrado pelo grupo terrorista Estado Islâmico, mas foi solto em seguida.
Em entrevista exclusiva à ACI Mena, agência árabe da EWTN, antes da ordenação sacerdotal os dois irmãos, até então diáconos, contaram as etapas mais importantes pelas quais passaram no seu caminho para a vocação monástica e sacerdotal.
“Senti as primeiras sementes de vocação aos 15 anos. Naquela época, meu irmão e eu íamos regularmente à igreja e participávamos de suas atividades, especialmente da missa. Um dia estava ouvindo um hino com letra de santa Teresinha do Menino Jesus e fui atraído pela frase ‘no coração da Igreja, que é minha mãe, eu serei o amor; assim serei tudo e meu desejo será saciado’, porque naquele momento eu era como qualquer adolescente cheio de emoções e sentimentos”, comentou Johnny.
Ele também disse que havia entendido que Deus o estava chamando para alguma coisa, mas disse a si mesmo que ainda era jovem e queria primeiro realizar o sonho de estudar medicina.
“Mas depois de cerca de um ano e meio, a ideia do chamado voltou quando uma vez ouvi algo como o Reino dos Céus, que é semelhante a um homem que vendeu tudo o que tinha para adquirir a pérola. Depois de contemplá-lo, entendi que a pérola nada mais é do que o nosso Deus, a quem preciso seguir”, comentou.
Johnny contou que depois do início da guerra na Síria, ele se perguntou sobre o sentido da vida e, um dia, enquanto rezava o Pai-Nosso, parou na frase: “Seja feita a vossa vontade”. “Aqui, uma voz interior me sacudiu, me dizendo: você diz: ‘seja feita a vossa vontade’, mas você faz a sua.”
Quando certa vez admirou uma imagem do Coração de Jesus e a segurou nas mãos, quis ver o que havia por trás do quadro. Então, leu a frase: “Dá-me as almas e fica com o resto”. “Mais tarde compreendi o desejo de Deus de que eu fosse médico de almas e não de corpos. Tomei esta frase como lema do meu serviço sacerdotal”, disse.
O seu irmão George contou que sentiu o chamado entre os 13 e os 15 anos, mas não levou a ideia a sério ao perceber que ainda era muito novo para entrar no mosteiro, e por causa de seu desejo de estudar direção de cinema. Também não significou para ele (até mais tarde) um sonho que teve no qual ele se via vestindo a túnica franciscana e escrevendo uma oração a são Francisco de Assis perto do altar.
“Uma frase dos Salmos me acompanhava: ‘Não temo mal algum porque tu estás comigo’, por isso pedia forças a Deus para estar sempre com Ele (através da oração e do serviço na missa). Certa vez, Johnny me disse que havia decidido entrar para o mosteiro, e pouco tempo depois eu lhe disse que tinha o mesmo sentimento em relação a esse chamado, e senti, sem pensar ou planejar de antemão, que havia uma mão me empurrando para tomar a decisão de entrar na vida monástica”, contou.
George escolheu como lema de seu serviço sacerdotal: “Por ti eu me dedico”. “Contém muitas histórias e anos de reflexões e experiências que vivi na presença do Senhor, especialmente no meu ministério em Aleppo depois do terremoto. Quando contemplamos esta frase, podemos pensar à primeira vista que se trata de nós, mas na realidade se trata de todo o povo e da Igreja. Além disso, através deste lema quero ser as mãos, os pés, a boca e o coração de Jesus”.
“Assim como senti as mãos de Jesus me levantando de meu pecado e me abraçando como prova de Seu amor por mim, também quero ser aquele instrumento que conecta Deus e as pessoas por meio do sacramento do sacerdócio”, disse George.
Os dois concluíram a conversa com ACI Mena revelando o choque de seus pais quando lhes contaram sobre o desejo de entrar para o mosteiro e os sentimentos de emoção e lágrimas.