Entrevista Dom Orani Tempesta
Nunca desanimar com as flechadas da vida
Por Rachel Lopes e Emilton Rocha / Pascom
Cerca de 500 mil pessoas participaram da procissão em homenagem a São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, que aconteceu na tarde do dia 20 de janeiro, saindo da Basílica Menor dos Capuchinhos, na Tijuca, até Catedral Metropolitana, no Centro. Durante todo o trajeto, milhares de fiéis cantaram e oraram emocionados para o Santo Padroeiro e por todos os cariocas.
Este ano a comemoração foi em dose dupla para os Capuchinhos, pois foi a primeira vez, após a elevação da Igreja à condição de Basílica Menor, que se comemora a festa de São Sebastião. “Temos a oportunidade de celebrar a festa de São Sebastião nesta Igreja que tem relíquias históricas. E na construção dela, preservamos essas memórias importantíssimas para história do Rio de Janeiro, que comemorou, ano passado, 450 anos e exatamente por isso que a Santa Sé e o Papa Francisco concederam um acréscimo. Então celebramos pela primeira vez a festa do nosso Santo Padroeiro como Basílica Menor.”, comentou o Cardeal Dom OraniTempesta, Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
As comemorações começaram cedo, às 5h, com a primeira missa em tributo a São Sebastião. Durante todo o dia a Basílica dos Capuchinhos não parou de receber fiéis de toda a parte que vieram agradecer e pedir bênçãos ao Santo. A novidade esse ano ficou por conta dos motociclistas que organizaram uma carretada pela Zona Norte conduzindo a imagem do Santo Soldado. Uma missa solene, presidida pelo Cardeal Dom Orani, foi celebrada às 10h na Igreja dos Capuchinhos, onde milhares de fiéis vestiam vermelho – a cor de São Sebastião – e agitavam lenços em louvor.
Palavras de fé, esperança e amor tomaram conta discurso de Dom Orani. “Nesse momento bastante complexo em que vivenciamos a violência e a crise o país, que São Sebastião nos ensina a nunca desanimar com as flechadas da vida, mas sempre recomeçar. ”, falou durante a homilia.
Confira na íntegra a entrevista com o nosso Cardeal.
Durante as homenagens a São Sebastião, no ano passado, celebramos também os 450 anos da nossa cidade. Podemos dizer que neste ano, celebramos junto a elevação da Igreja dos Capuchinhos à Basílica Menor?
Sim. Em 2016, temos oportunidade de celebrar a festa de São Sebastião, Padroeiro do Rio de Janeiro, nesta Igreja que tem relíquias históricas, que conserva o arco português da fundação da cidade, os restos mortais de Estácio de Sá, fundador da cidade e também a imagem história de São Sebastião, que o próprio Estácio de Sá trouxe. Essa Igreja herda um pouco a história do Rio que começou na praia de fora, entre o Morro Cara de Cão e o Pão de Açúcar, na Urca e que foi transferida para o Morro do Castelo onde estava a Catedral. Depois da destruição do Morro do Castelo, os Capuchinhos continuaram sendo guardiões desses sinais. E na construção dessa Igreja, preservamos essas memórias importantíssimas para história do Rio de Janeiro, que comemorou, ano passado, 450 anos e exatamente por isso que a Santa Sé e o Papa Francisco concederam um acréscimo à Basílica Menor – antes Igreja Matriz e Santuário Arquidiocesano. Então celebramos pela primeira vez a festa do nosso Santo Padroeiro como Basílica Menor.
Nesse momento bastante complexo em que o país vive uma crise, que São Sebastião nos ensina, assim como a todos os cariocas que amam a sua cidade, a nunca desanimarem com as flechadas da vida, mas a sempre recomeçarem. Eu creio que nessa época de dificuldades e violência, justamente São Sebastião e o carioca, dão sinais de superação, remeço e retomada para que o amor misericordioso de Deus aconteça no meio de nós.
A procissão e as demais homenagens ao nosso Santo Padroeiro são tradições para a cidade. Como a Arquidiocese vê essa representatividade e a importância dessa festa para o Rio?
A Arquidiocese tem, justamente na missa solene e na procissão, as suas celebrações principais, com compromisso de cada vez mais fazer com o que o exemplo de São Sebastião ilumine os caminhos do povo que habita essa cidade. Eu creio que se trata de uma tradição antiquíssima e a cada vez mais vem melhorando, creio que é um sinal para cidade da devoção de um povo que tem São Sebastião como seu padroeiro.
Estamos no Ano da Misericórdia e da Jornada Mundial da Juventude que acontece em julho. Qual a sua mensagem para os fiéis e também para os jovens que irão peregrinar?
A Jornada Mundial da Juventude acontece na Cracóvia, Polônia, local que tem muita relação a questão da misericórdia e o Ano Santo que vivemos nos lembra a necessidade de vivermos esse sentimento como Deus, nosso Pai. Nesse sentido, São Sebastião também praticou obras de misericórdia, visitando os presos, os cativos, consolar os aflitos, corrigir os que erram – como o Diocleciano, o Imperador Romano, então que sirva como exemplo para toda a juventude e todos os cariocas. São Sebastião serve de exemplo para todos nós, pois teve coragem e ânimo de recomeçar.
Qual a importância da Igreja dos Capuchinhos, agora como Basílica?
Aqui se conservam alguns sinais da história do Rio de Janeiro, que é o marco português da fundação da cidade, os restos mortais de Estácio de Sá, que morreu com uma flechada na guerra com os franceses, e também a imagem que Estácio de Sá trouxe para fundar a cidade. Depois da Praia de Fora, na Urca, passando para o Morro do Castelo que posteriormente foi destruído, aqui conservou-se justamente esses sinais da cidade. Por isso mesmo pedimos e o Papa concedeu que a Igreja dos Capuchinhos, Santuário da Arquidiocese, fosse elevada a uma basílica menor devido à sua importância para o Rio – o que significou uma grande homenagem aos 450 anos da cidade –, mostrando que esses sinais que aqui se conservam, realmente são um patrimônio da cidade do Rio de Janeiro e que é bem conservado nessa Basílica.