A pequena imagem, a Rainha da Amazônia, vem de Belém do Pará, onde fica o seu santuário, no qual tradicionalmente ocorre, no segundo domingo de outubro, o Círio de Nazaré
Dom Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.*
Mais uma vez, temos a alegria de receber a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, ícone do povo paraense, em nossa Arquidiocese do Rio de Janeiro, de 13 a 16 de julho. A cada ano, a peregrinação da imagem, que é o nosso Círio carioca, se renova, trazendo gente nova, gerações imbuídas de muita fé, de dedicação e de esperança.
Com o tema: “Maria, sinal de esperança para o povo de Deus a caminho”, a peregrinação acontece quando estamos vivendo o Ano Vocacional Missionário e em pleno Sínodo sobre as Missões.
A pequena imagem, a Rainha da Amazônia, vem de Belém do Pará, onde fica o seu santuário, no qual tradicionalmente ocorre, no segundo domingo de outubro, o Círio de Nazaré. É a Igreja paraense que se reúne de forma excelsa para demonstrar sua fé, amor e agradecimento a Nossa Senhora sob o título de Nazaré.
Outubro é o mês marcado para celebrarmos a Mãe de Deus no Brasil, pois no dia 12 comemoramos a Senhora Aparecida, rainha e padroeira do nosso Brasil, além de termos comemorado no dia 7 a Senhora do Rosário.
Em Belém do Pará, são dias de alegria e muita fé. O dia começa com extensa romaria matinal, pois é o dia do Círio de Nazaré. E assim tem sido a Festa de Nazaré por mais de dois séculos, desde que realizada e oficializada pela primeira vez, em 8 de setembro de 1793. São dias sim de um intenso, por vezes dramático, encontro que envolve fé, alegria, festejos e sentimentos profundos.
A procissão do Círio de Nazaré, ao levar às ruas de Belém, capital do Estado do Pará, quase dois milhões de pessoas, repetiu um ritual festivo de mais de dois séculos. Várias pessoas munidas apenas de sua simples fé.
O Círio de Nazaré é o ponto principal de um ciclo, de um tempo e de um calendário. Ele é o ponto rio de vida que vincula todos os eventos da mesma ordem e em menor escala. No ciclo de Círios, o tempo da festa e o calendário que a partir dele se organiza permitem o intercurso permanente entre populações de diferentes localidades.
Na Amazônia, há um sistema de festas (de santos, especialmente) que está profundamente enraizado na cultura e na vida social, pois é nos períodos de festas que a população paraense realiza as expectativas antes desejadas, da reciprocidade e das obrigações sociais.
O Brasil é um país católico, que não tem vergonha e nem medo de expressar sua crença, sua história e sua devoção. A cada ano, novas histórias, sonhos, projetos, realizações, superações entram, também, para a marca do Círio. Belém vira a capital do país por um único momento. É a hora de expressar a fé em Maria, que de tantos títulos se tornou a Mãe não só de Jesus, mas de cada brasileiro, de cada cristão, de cada filho que com fé e amor recorre ao amor dela.
Que a Virgem de Nazaré nos ilumine no caminho sinodal que a Igreja vive em todo o orbe católico. Que experimentemos, olhando para Nossa Senhora de Nazaré, uma Igreja sinodal para transformar o nosso coração e a nossa ação pastoral, participando, como povo de Deus, do Sínodo dos Bispos, para fazer ouvir as suas vozes, emitir as suas reflexões, para que sejamos melhores cristãos, para recuperarmos a essência da comunidade cristã que é a comunhão. Por isso, Nossa Senhora de Nazaré nos ensina a ver a diversidade na Igreja e que os carismas de todos sejam os de Jesus de Nazaré.
*Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ