Tradição popular inspirada no Círio de Belém é preservada há mais de meio século pelos frades capuchinhos
Pascom/Capuchinhos
O bairro da Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro, se prepara para celebrar em 2025 os 100 anos do Círio de Nazaré, uma das mais tradicionais manifestações de fé mariana da cidade. A festa, que reúne milhares de fiéis todos os anos, tem raízes históricas profundas e está diretamente ligada à presença dos frades capuchinhos no Rio.
Das origens no Morro do Castelo à Tijuca
A primeira Igreja de São Sebastião no Morro do Castelo, no centro do Rio de Janeiro, foi erguida em 1567, logo após a vitória dos portugueses sobre os franceses na chamada “Batalha de Uruçumirim”.
Ela foi construída por ordem de Estácio de Sá, fundador da cidade, como uma capela em honra ao padroeiro São Sebastião — o santo protetor da nova povoação. Essa igreja acabou se tornando um dos templos mais importantes do período colonial, guardando inclusive os restos mortais de Estácio de Sá.
Com a demolição do Morro do Castelo em 1922, no contexto das reformas urbanas para a Exposição Internacional do Centenário da Independência, a igreja foi destruída, e os restos mortais e parte do patrimônio foram transferidos para outros locais, em especial para a atual Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos, na Tijuca, elevada depois a Santuário Basílica.
O Círio na Tijuca
O primeiro Círio no Rio ocorreu em 1924, na antiga Matriz de São Francisco Xavier, também na Tijuca. Desde então, a festa ganhou identidade própria e, há mais de 50 anos, os capuchinhos realizam o chamado “Mini Círio”, inspirado no grandioso Círio de Belém do Pará.
A tradição se fortaleceu com a participação de devotos vindos da região Norte e, a partir de 2009, com a visita anual da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, que passa pela Basílica e mobiliza fiéis de diferentes comunidades.
Um marco decisivo ocorreu em 2015, quando o Papa Francisco concedeu ao templo o título de Basílica Menor, elevando a antiga Igreja dos Capuchinhos à condição de Santuário Basílica de São Sebastião. Desde então, o Círio passou a ser celebrado em um espaço oficialmente reconhecido pela Igreja universal.
Como é a festa hoje
Atualmente, a programação do Círio inclui o tríduo preparatório, a Procissão Luminosa no sábado e, no domingo, a tradicional Procissão da Corda, Missas festivas, além da apresentação do manto de Nossa Senhora e da imagem conduzida em sua berlinda. Esses elementos reproduzem, em escala carioca, a emoção do Círio paraense, reforçando a identidade religiosa e cultural da festa.
Centenário do Círio de Nazaré na Tijuca – Programação 2025
12/9 – Sexta-feira
Abertura oficial do centenário
18h: Missa com coroação e troca do manto da imagem histórica
Lançamento da camiseta comemorativa
05/10 – Domingo
Abertura da Exposição “Mantos de Nazaré: Fé, Esperança e Amparo”
Mostra reúne alguns dos mais belos e expressivos mantos usados no Círio da Tijuca
09/10 – Quinta-feira
Tríduo – 1º dia
Apresentação da nova berlinda
10/10 – Sexta-feira
Tríduo – 2º dia
Troca do manto da Imagem Peregrina
11/10 – Sábado
Tríduo – 3º dia
Procissão Luminosa (saída da Basílica após a missa das 17h, com percurso pelas ruas do bairro e retorno ao templo)
12/10 – Domingo – Dia do Círio
Missas: 7h, 8h30, 11h30, 17h e 18h30
10h: Procissão do Círio com a corda
11h30: Missa Solene
Tradição e identidade
No centenário, o Círio da Tijuca reafirma-se como expressão de fé, cultura e memória da cidade. O que começou na Matriz de São Francisco Xavier, amadureceu na Igreja dos Capuchinhos e hoje floresce na Basílica de São Sebastião simboliza a perseverança de uma devoção que atravessa gerações e segue reunindo multidões sob o olhar de Maria de Nazaré.