
Qual a atualidade da experiência de São Francisco e das orientações do Papa que conduziu a Igreja na virada do milênio?
Por Paulo Teixeira / Aleteia
A figura do missionário proposta pelos documentos da Igreja de hoje tem muito em comum com o que São Francisco de Assis sugeriu em seu serviço missionário, e sua manifestação essencial é o testemunho com a própria vida.
Jesus Cristo anunciou “o reino do Pai” não apenas através da pregação da palavra, mas também através do testemunho da vida (cf. Lumen Gentium, 35), e “o testemunho da vida cristã e as obras boas realizadas com espírito sobrenatural têm o poder de atrair os homens à fé e a Deus” (Catecismo da Igreja Católica, 2044). O fato de que os cristãos têm o dever de mostrar a Deus “com o exemplo de sua vida e com o testemunho de sua palavra o homem novo” (Ad Gentes, 11), diz também o Papa S. Paulo VI, notando que dar o testemunho é o primeiro e necessário meio de evangelização, pois “o homem contemporâneo escuta mais de bom grado as testemunhas que os mestres, ou se escuta os mestres o faz porque eles são testemunhas” (Evangelii Nuntiandi, 41).
São Francisco
São Francisco foi uma testemunha para o seu tempo e ainda o é para o nosso, porque também hoje anuncia ao mundo a “mensagem de Cristo” através de seus frades. Tomaz de Celano o chamou de “novo evangelista” que, antes de ir aos outros, submeteu-se à ação do Evangelho, permitindo que seu coração fosse transformado. Sob a cruz de São Damião, ele pediu para iluminar as trevas do seu coração e, antes de agir, implorou discernimento.
O Poverello, não conhecendo o próprio caminho, pediu a luz de um Deus cheio de glória e de bondade. Primeiro, a Boa Nova foi pregada a ele mesmo, que a abraçou, e só então ele começou a compartilhar o que lhe foi revelado pelo Senhor. Francisco fixou tanto Jesus que, apesar de sua predisposição a viver uma vida oculta, decidiu se tornar missionário seguindo o exemplo do Mestre, que foi enviado pelo Pai para levar a salvação aos homens. Descobriu, porém, que ser missionário não consiste primeiramente em pregar, mas em mergulhar na missão de Cristo para “viver segundo a forma do santo Evangelho” (Testamento, 14; FF 116).
São João Paulo II
Em 1990, celebrando 20 anos do decreto conciliar Ad Gentes, o Papa João Paulo II publicou a Encíclica Redeptoris Missio sobre o valor permanente da missão. O ponto de partida é a Santíssima Trindade e, no texto, o Papa fala dos caminhos da missão, da cooperação e também da espiritualidade missionária.
O Papa João Paulo II indica também a adesão interior a Cristo como algo essencial, pois “não se pode compreender e viver a missão, se não se referindo a Cristo como o enviado para evangelizar” (Redemptoris Missio, 88).
Ao compartilhar o Evangelho com os outros, Francisco não usava apenas a palavra do anúncio como único meio para contribuir para a conversão dos outros. Um grande papel teve o exemplo da vida. Quando pediu para dar este exemplo, não o fez sem fundamento. Ele procurou mostrar com a própria vida o que a Regra propunha, e a Regra recordava aos frades que deviam pregar sobretudo com as ações e com a própria vida. Sem dúvida, os primeiros franciscanos, vivendo segundo as recomendações de São Francisco, atraíam com bastante facilidade a atenção para si, não apenas por sua atitude fraterna uns para com os outros, mas, optando pela pequenez e vivendo em pobreza, eram uma espécie de contraste com o mundo daquela época, inclusive com o mundo religioso.
Esta atitude não perdeu nada de sua atualidade também hoje, porque, como confirma o Papa, “o testemunho evangélico, ao qual o mundo é mais sensível, é o da atenção pelas pessoas e da caridade para com os pobres e os pequenos, para com quem sofre” (Redemptoris Missio, 42).
Em primeiro lugar, o missionário testemunha com sua vida e assim abre o caminho para a obra de evangelização, para realizá-la “através do dom não apenas da palavra anunciada, mas também daquela vivida” (Veritatis Splendor, 107).
O testemunho, por sua vez, está a serviço da fé, porque a fé cresce e se fortalece ao ser doada (cf. Redemptoris Missio, 2). Em outras palavras, para que a transmissão da fé seja eficaz, a oração e a ação devem ser entrelaçadas, sobretudo onde evangelizar através do testemunho da vida “em muitos casos é o único modo possível de ser missionário” (Redemptoris Missio, 42).