A casa de fundição que fabrica sinos há quase mil anos

A fundição fica na Itália e produz sinos até para o Vaticano

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Para muitos de nós, o icônico som metálico dos sinos das igrejas é um lembrete reconfortante da presença de Deus em meio ao estresse da vida moderna. De fato, há milhares de anos, o toque dos sinos chama as pessoas a dar um passo para trás em sua vida cotidiana e se conectar com rituais, orações e celebrações. Mas de onde vêm os sinos?

A evidência mais antiga de sinos foi encontrada na China, onde eles, provavelmente, eram usados ​​para chamar pessoas para momentos específicos do dia, como refeições ou orações.

No mundo ocidental, os sinos eram usados ​​na Grécia e na Roma antigas para sinalizar momentos-chave da vida cívica, como a abertura dos mercados e a chegada dos governantes.

Com o advento do cristianismo, os sinos começaram a ser usados ​​para chamar os fiéis à oração. Os sinos das igrejas eram inicialmente feitos de ferro forjado, mas com o tempo os artesãos começaram a selecionar as melhores ligas com base no tipo de som que poderia ser criado.

“Metal de sino”

Durante a Idade Média, surgiram as ligas especiais para fabricar sinos de igreja. Foi quando o “metal de sino”, uma liga de cobre e estanho, foi criado.

Durante séculos, fundições em toda a Europa se especializaram na fabricação desse material especial para criar o icônico som que agora define o sinal sonoro de muitas de nossas cidades e igrejas.

Tradição

A cidade de Agnone, no sul da Itália, foi considerada a capital do sino da Europa por quase mil anos. A cidade, que está localizada no topo da colina, costumava abrigar dezenas de fundições familiares. Uma deles sobrevive até hoje: a Fouderie Marinelli fundada há 800 anos.

As tradições orais mencionam que a fundição já produzia sinos no ano 1000, mas evidências definitivas remontam a 1339, quando Nicodemus Marinelli, conhecido como “Campanarus” ou “Bellflower”, fundiu um sino de 200 kg para uma igreja na cidade de Frosinate. Desde então, a fundição fabrica sinos para igrejas em toda a Europa, incluindo o Vaticano e a Torre de Pisa, seguindo técnicas que foram transmitidas de geração em geração de artesãos.

The "Crocifisso" bell of the Leaning Tower of Pisa
O sino da Torre de Pisa produzido pela Fonderie Marinelli.

Em 1924, o Papa Pio XI permitiu que a centenária fundição usasse o brasão papal para marcar suas criações, tornando-a assim uma “fundição pontifícia” oficial. A produção só parou durante a Segunda Guerra Mundial, quando a fundição foi ocupada por tropas alemãs, que derretiam sinos para fazer armas.

Felizmente, em 1949 a fundição estava de volta ao trabalho, fabricando sinos para a reconstrução da Abadia de Montecassino.

Processo complexo

Fazer um sino é um processo complexo que requer equipes de ferreiros, fundidores e artistas. A produção costumava levar vários meses, mas hoje pode levar apenas 60 dias. Para garantir um belo som, os artesãos precisam garantir que a largura, o peso e a altura do sino sigam certas proporções. Esse conceito foi delineado pela primeira vez no manual de escala de sino de 1608 (reimpresso em 1664), “De Tintinnabulis”, que é considerado a “bíblia do fabricante de sinos”. Uma cópia do manuscrito é mantida no museu da fundição.

O primeiro passo para a produção de um sino é a representação da “alma” dele, um molde de tijolo no formato do sino. Essa “alma” é coberta com argila para recriar a espessura exata do sino e, depois, aquecida. A estrutura interna atua como um forno durante a fase de aquecimento, permitindo que a cera derreta. O manto é levantado para remover o molde, a fim de criar uma cavidade onde o bronze será derramado.

O próximo passo é colocar o molde dentro do forno para iniciar a fundição do sino. Na fundição Marinelli, o início dessa fase costuma ser acompanhado pela invocação da Virgem Maria.

Quando um sino é finalmente lançado, começa a fase de “teste de som”, com especialistas verificando as vibrações do sino através de um diapasão.

Marinelli Pontifical Foundry
Sino produzido em 1889 pela Fonderie Marinelli está ao lado de outros no Museu dos Sinos.

Ao longo de sua história secular, a Fonderie Marinelli criou sinos que definiram momentos-chave da vida católica, incluindo um sino presenteado pelo Papa São João Paulo II às Nações Unidas, bem como o sino que ele usou para marcar o início do Grande Jubileu, em 2.000. O Papa Francisco também usou um sino Marinelli para marcar o início do Ano da Misericórdia, em 2.016.

Os visitantes de Agnone podem conhecer a fundição, bem como o museu de fundição. Os turistas também podem adquirir pequenos sinos personalizados.

Visite o site oficial da Marinelli para saber mais.

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