
A palavra latrão é o termo usado para designar o bairro Monti, onde está localizado o complexo arquitetônico formado pela Basílica, pelo Palácio Apostólico, pelo Batistério e por outros edifícios e ambientes.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. / A12 Redação
Com mais de um mês de pontificado, o Papa Leão XIV desenvolve as primeiras atividades oficiais de seu Pontificado.
Aos poucos, a cidade de Roma e o mundo, mesmo sentindo grande “saudade” do Papa Francisco, pois muitas pessoas continuam a passar e rezar diante do seu túmulo na Basílica de Santa Maria Maior, vão se acostumando com o seu jeito de conduzir o rebanho de Cristo a ele confiado.
As pessoas vão se habituando ao seu jeito educado, um tanto tímido e reservado, mas vão percebendo a tônica de seu pontificado e os temas que lhe são caros, entre eles a preocupação com a paz do mundo e com o fim de tantos conflitos.
Entre os muitos compromissos oficiais, no dia 25 de maio, o Papa Leão celebrou na Basílica de São João de Latrão – que, na verdade, é a sua “catedral” – assumindo oficialmente o título de “Bispo de Roma”, razão pela qual ele é o Papa de todo o “Orbe cristão”.
Entre as igrejas do mundo, a Basílica de São João de Latrão, com o nome de Santíssimo Salvador, dedicada a São João Batista e ao Evangelista São João, tem um significado e um simbolismo muito especiais.
A palavra latrão é o termo usado para designar o bairro Monti, onde está localizado o complexo arquitetônico formado pela Basílica, pelo Palácio Apostólico, pelo Batistério e por outros edifícios e ambientes.
A palavra deriva do nome da antiga família romana Plautii Lateranus, que possuía terras no local. Hoje, o conjunto fica bem próximo das ruínas da Muralha de Aureliano, que defendia dos ataques a antiga cidade de Roma.
Durante muitos séculos, o Palácio de Latrão foi a residência oficial dos Papas, muito antes do Vaticano se tornar o centro da vida pontifícia e eclesial. Esse mesmo palácio, hoje chamado de “Apostólico”, é a Sede do Vigário de Roma, que acompanha e coordena a vida da Igreja Romana em lugar do Papa, permitindo que ele cuide dos assuntos mais abrangentes da Igreja em todo o mundo.
A Diocese de Roma possui hoje 337 paróquias. Delas, 336 estão localizadas na própria cidade de Roma e uma, na Paróquia de Santa Ana, na Cidade do Vaticano. A Diocese abrange um território de 881 quilômetros quadrados.
Localizado ao lado da Basílica de São João de Latrão – a catedral de Roma é a “mãe de todas as igrejas” – o Palacio de Latrão foi o coração da administração da Igreja desde o século IV, tempo do imperador Constantino, até mais ou menos o tempo em que a sede da Igreja se deslocou para Avignon, na França, no século XIV.

O tempo em que o papado se distanciou de Roma marcou o período que entrou para a história como “Cisma da igreja Ocidental”. Ao retornar definitivamente para Roma, os Papas estabeleceram sua residência no Vaticano, a não ser por breves períodos em que forçadamente tiveram que se ausentar. Foi, por exemplo, o caso do Papa Pio VI, que foi levado para o exílio por causa das invasões de Napoleão Bonaparte, e lá morreu.
Depois que Roma foi ocupada pelos franceses após o assassinato do general L. Duphot e a proclamação da República Romana (1798), o Papa Pio VI foi deposto como soberano temporal.
Naquele tempo, o Papa era o supremo governante dos Estados Pontifícios. Ele foi levado primeiro para Sena, depois para a Certosa de Florença e em 1799 para Valence, onde foi declarado prisioneiro de estado e morreria nessa condição em 29 de agosto de 1799.
A residência dos Papas em Latrão incluía, além da Basílica e do Palácio, diversos espaços cerimoniais, capelas e a famosa “Loggia delle Benedizioni” – a “loggia das bênçãos”.
Muitas pessoas erroneamente chamam esse local de “balcão”, que voltou a ser usada depois de bastante tempo pelo Papa Leão para abençoar o povo reunido na praça da basílica.
Esta varanda dava para a praça de Latrão e era o local de onde o papa abençoava os fiéis nas principais festas, especialmente após sua eleição. Era uma versão original do que mais tarde se tornaria a “bênção urbi et orbi”, que agora é dada da varanda central da Basílica de São Pedro, no Vaticano, onde o Papa recém-eleito foi apresentado para a multidão.
A loggia de Latrão era um símbolo da autoridade pontifícia e também um espaço ou uma plataforma litúrgica onde, do alto, os Papas recém-eleitos eram apresentados ao povo romano com o tradicional “Habemus Papam”, séculos antes do Vaticano se tornar o local desse ritual.
Quando os Papas retornaram a Roma, após o exílio em Avignon, acabaram se estabelecendo definitivamente no Vaticano, que era mais defensável e mais próximo do túmulo de São Pedro.
Em algumas ocasiões, como aconteceu com o Papa Clemente VII, o Papa precisou fugir do Vaticano e se refugiar no Castelo Sant’Angelo, escapando das tropas do Imperador Carlos V que invadiram e saquearam a cidade. Com isso, durante vários meses, teve que morar no fortificado castelo que recebeu o embelezamento e as melhorias necessárias que hoje podem ser visitadas.
Ressaltando a importância de Latrão, ali aconteceram diversos concílios ecumênicos da Igreja (1123, 1139, 1179, 1215, 1512-1517) que tomaram decisões importantes para a instituição.
Além destes, houve outras assembleias em Latrão, mas que não entraram na relação dos concílios ecumênicos, como o de 769, que foi um sínodo para lidar com a eleição de antipapas e a condenação de decisões de um concílio anterior. E também o de 649, que condenou a heresia do monotelismo, uma cristologia defendida por alguns cristãos orientais.

Em Latrão tivemos acontecimentos de extrema significância para a Igreja. Foi ali que, por exemplo, o Papa Inocêncio III recebeu São Francisco de Assis e seus companheiros. Por isso, em Latrão, diante da basílica, há um monumento que marca o local onde São Francisco e seus irmãos foram recebidos pelo Papa para a aprovação das suas constituições, em 1209.
Latrão dá nome também ao Concordato que foi assinado pela Igreja e pelo Estado Italiano em 1929, renovado depois em 1988, já no pontificado de João Paulo II, regulando suas relações. Mas a lista de fatos e eventos registrados em Latrão vai muito além dessas poucas sinalizações.
Apesar da perda de visibilidade, Latrão continua sendo a catedral do papa, e a loggia que foi restaurada nos tempos modernos, permanece como um sinal visível das antigas raízes da Igreja em Roma.
A criação da Congregação Redentorista por Santo Afonso e seus companheiros se deu no dia 9 de novembro, justamente no dia em que se celebra a dedicação da igreja dedicada ao Santíssimo Salvador. Por esta razão, nossa congregação foi chamada originalmente de “Santíssimo Salvador”, mudando depois com a sua aprovação para Santíssimo Redentor.
Hoje, poucos peregrinos percebem que a primeira varanda papal não estava no Vaticano, mas em Latrão, o coração histórico da Roma dos Papas, dos santos e dos pecadores.
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