Dia Internacional da Mulher
Dom Antonio Augusto Dias Duarte*
Já faz quase 70 anos, desde que Simone de Beauvoir escreveu o seu livro “O segundo sexo”, que uma pergunta ainda não teve uma resposta completa e satisfatória:
“Quem é a mulher?”
Apesar da insatisfação cultural e social das respostas ouvidas ao longo desse tempo, muitos passos foram dados para se ter a tão desejada igualdade entre a mulher e o homem em vários segmentos de suas vidas, desde a política até a profissional. Porém, sem saber claramente “quem é a mulher”, também não se pode saber com certeza “quem é o homem”.
As insatisfações, as dúvidas e as incertezas sobre a mulher, mesmo com suas conquistas nos últimos dois séculos, geraram idênticas perplexidades sobre a identidade e papel do homem na família e na sociedade.
A identidade e o papel da mulher no mundo e na Igreja ainda precisam ser mais esclarecidos e vividos, mas para isso é preciso definir mais claramente quem ela é e quem ele é!
Nesse sentido, a comemoração do Dia Internacional da Mulher – 8 de março – pode ser um momento especial no caminho dessa definição mais clara da identidade feminina e masculina, superando as dificuldades ainda presentes para se ter a igualdade e os direitos objetivos da mulher e do homem.
Esse era o sonho de São João Paulo II, manifestado em dois dos documentos do seu longo magistério pontifício: a Exortação Apostólica “Christifideles laici”, sobre a vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo, n. 50, e a Carta Apostólica “Mulieris dignitatem”, sobre a dignidade e a vocação da mulher, n. 1:
“A condição para assegurar a justa presença da mulher na Igreja e na sociedade é a análise pertinente e mais cuidadosa dos fundamentos antropológicos das condições masculina e feminina, de forma a determinar a identidade pessoal própria da mulher na sua relação de diversidade e de recíproca complementaridade com o homem.”
Ser pessoa feminina e ser pessoa masculina, a fim de serem ambas pessoas com direito e deveres iguais, e ser mulher e homem com uma justa presença na Igreja e na sociedade, esses são os dois enormes desafios, na atualidade, que devem enfrentar os homens e as mulheres que ambicionam mudar o mundo, para que nas futuras gerações hajam pessoas que saibam bem qual é a personalidade da mulher e do homem.
Considerando, por um lado, a mulher se vê, com nitidez, que ela tem uma característica especial e muito superior as suas simples condições biológica-afetiva.
Como mulher, feminina de verdade, ela tem uma presença única no mundo dos homens, porque é ela quem aperfeiçoa, integra, une, harmoniza, embeleza, ajuda as relações básicas existentes na humanidade.
As relações matrimoniais, que fundam a família; as relações paterno-maternais, que educam os filhos e configuram as gerações futuras; as relações fraternas, que preparam os irmãos para viverem o respeito mútuo e o amor gratuito; as relações sociais, que tecem a rede e a cultura de uma época histórica; as relações profissionais, que garantem a justiça e a evolução das ciências; as relações eclesiais, que favorecem a identidade da Igreja como esposa de Cristo e Mãe acolhedora. Todas essas relações dependem da mulher saber quem ela é realmente.
O dia 8 de março de cada ano pode ser uma data na qual o Dia Internacional da Mulher se possa proclamar, com mais objetividade e sem entrar em polêmicas e reivindicações já conhecidas, o valor da mulher como esposa e mãe, como filha e irmã, como amiga e educadora, como médica ou enfermeira, como engenheira ou política, como uma pessoa rica ou pobre, branca ou negra, índia ou nordestina, sem nenhum clichê de antagonismo social.
São elas, as mulheres, que dão vida à humanidade e que humanizam a vida familiar e social. A importância da mulher na sociedade civil e eclesial reside precisamente nesse seu amor à vida e nessa sua humanidade plena de amor, atenta aos cuidados e aberta ao acolhimento do outro enquanto ser humano.
O amor, que cada vez mais se percebe, é uma exigência profunda da humanidade. Uma sociedade onde o amor impera e governa, onde as pessoas são amadas como elas vêm ao mundo, isto é, com sua dignidade e com a sua história e papel social insubstituíveis, pode-se, com certeza, encontrar dentro dela muitas mulheres que sabem quem elas são, que abraçam um feminismo propositivo e construtivo de sua feminilidade.
Um feminismo que promova e valorize a mulher desde sua identidade intrínseca, permite que ela possa se encontrar consigo mesma como uma pessoa-doadora, isto é, que enriquece o homem enquanto pai, irmão, namorado, noivo, marido, colega, etc. com o seu “eterno feminino”, pautado pela delicadeza, generosidade, sensibilidade pelo humano, espírito de sacrifício silencioso e alegre, dedicação sem servilismo, abertura à intimidade.
A mulher é a presença feminina no lar e no mundo, que vai dar ao homem a sua autêntica identidade e lhe fará estar mais dentro da família e mais dentro do trabalho, não só como o provedor e promotor de ações produtivas, mas, graças a ela, como pai e como humanizador de um mundo dotado de uma dinâmica de progresso, moral, social e cultural.
* Dom Antonio Augusto Dias Duarte é Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro