Revista Time nomeia o Papa Leão como voz sobre ética da IA

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Como reconheceu a Time ao incluí-lo em sua lista de IA, a voz do Papa introduz um contrapeso inesperado à conversa global sobre tecnologia.

Daniel R. Esparza / Aleteia

Quando a revista Time divulgou sua lista de 2025 das pessoas mais influentes do mundo na inteligência artificial, um nome surpreendeu muitos fora dos círculos católicos: o Papa Leão XIV.

A lista da Time inclui “líderes”, “inovadores”, “formadores” e “pensadores”, colocando o Papa Leão no último grupo dos quatro, ao lado dos cientistas-chefes do Google e da OpenAI.

O novo pontífice, nascido Robert Francis Prevost, foi eleito em maio e escolheu seu nome como uma referência deliberada ao Papa Leão XIII, que liderou a Igreja durante a Revolução Industrial. Assim como aquele Leão abordou as transformações sociais de sua época na encíclica Rerum Novarum de 1891, Leão XIV sinalizou que pretende guiar a Igreja pelos desafios morais e econômicos da era digital.

Em seu primeiro grande discurso após a eleição, Leão XIV alertou que a inteligência artificial representa nada menos que uma “nova revolução industrial”. Ele enfatizou que seu avanço jamais deve comprometer “a dignidade humana, a justiça e o trabalho”.

Esse enquadramento, observou a Time, ecoa a defesa feita no século XIX dos trabalhadores contra sistemas que os reduziam a meras mercadorias. O novo Papa parece determinado a garantir que a história não se repita sob máquinas diferentes.

Leão e Leão

A comparação é pertinente. Quando a Rerum Novarum foi publicada em 1891, fábricas e ferrovias estavam remodelando as economias a um custo humano tremendo.

O Papa Leão XIII insistiu que o trabalho não era uma função descartável, mas uma parte essencial da realização humana. Seu apelo por salários justos, condições seguras e solidariedade ajudou a moldar a doutrina social católica para a era moderna.

Hoje, Leão XIV parece pronto para argumentar que a IA, embora prometa grandes benefícios, corre o risco de gerar uma desumanização semelhante se permanecer sem controle.

Em junho, o Vaticano sediou um encontro global sobre IA, ética e governança, no qual o Papa elogiou o potencial da tecnologia na saúde e na ciência, mas expressou profunda preocupação com seus possíveis abusos. Ele alertou contra permitir que algoritmos distorçam a busca humana pela verdade ou alimentem o conflito e a agressão.

Dando continuidade ao trabalho do Papa Francisco

Essas observações se baseiam em iniciativas iniciadas sob o Papa Francisco, que defendeu um tratado internacional sobre a regulamentação da IA. Com Leão XIV, essa visão ganha uma nova urgência.

A insistência da Igreja na dignidade do trabalho permanece central. À medida que a automação remodela as indústrias, questões sobre requalificação, salários justos e partilha equitativa dos benefícios não são apenas debates de política pública, mas imperativos morais.

O Catecismo ensina que “o trabalho é para o homem, e não o homem para o trabalho” (CIC 2428). Por extensão, nenhuma máquina — por mais avançada que seja — deve minar a pessoa humana que está no centro do trabalho.

Leão XIV traz uma dimensão pessoal a essa luta. Tendo servido por anos no Peru, especialmente entre comunidades agrícolas e trabalhadores de baixa renda, ele conhece em primeira mão a vulnerabilidade daqueles que frequentemente sofrem mais com as crises econômicas. Sua perspectiva pastoral sugere que sua liderança em IA não será uma teorização abstrata, mas enraizada na experiência humana vivida.

Como reconheceu a Time ao incluí-lo em sua lista de IA, a voz do Papa introduz um contrapeso inesperado à conversa global sobre tecnologia: uma tradição espiritual que mede o progresso não pelo lucro ou pelo poder, mas por aquilo que salvaguarda a dignidade de cada pessoa.

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