Cristo Redentor é sagrado, diz reitor do santuário em meio a disputa entre Igreja e Estado

Cristo Redentor | Crédito: Emilton Rocha / Pascom Capuchinhos RJ

“O povo brasileiro precisa estar certo de que o monumento do Cristo Redentor é sagrado”, diz o padre Omar Raposo, reitor do santuário

Por Nathália Queiroz / ACI Digital

Com os braços abertos sobre o Rio de Janeiro, o Cristo Redentor é mais do que um ponto turístico que atrai milhões de visitantes por ano: é o maior santuário a céu aberto do mundo, local de missas, casamentos, batizados e peregrinações. Construído em 1931 com recursos da arquidiocese do Rio de Janeiro, o monumento é gerido pela mitra arquiepiscopal desde sua inauguração. Agora, o Santuário Cristo Redentor enfrenta uma disputa judicial com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), gestor do Parque Nacional da Tijuca, onde fica o monumento.

Disputa judicial

O ICMBio entrou com uma ação de reintegração de posse contra lojistas que ocupam há décadas os espaços comerciais na escadaria de acesso ao monumento, muitos deles com acordos firmados com a arquidiocese. Embora não seja ré no processo, a mitra atua como embargante, defendendo os direitos que considera seus nos espaços de apoio e para amparar os lojistas.

Em 23 de junho de 2025, a 21ª Vara Federal do Rio de Janeiro decidiu que a área onde está erguido o Cristo Redentor pertence à União e determinou a reintegração de posse dos pontos comerciais do entorno em favor do ICMBio.

A reação na imprensa e nas redes sociais à decisão judicial causou uma confusão sobre a titularidade e a gestão do Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor. Em resposta, a arquidiocese do Rio de Janeiro publicou um comunicado em 14 de agosto esclarecendo que “o processo judicial em curso não se refere ao monumento do Cristo Redentor, ao platô ou à Capela de Nossa Senhora Aparecida. Todos permanecem sob a titularidade da Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro”.

No comunicado, a arquidiocese reafirma a sua responsabilidade sobre o santuário e diz que é a “única autoridade institucional legitimamente constituída para se manifestar sobre o uso, gestão e preservação do mesmo”.

Cristo Redentor é sagrado

“O povo brasileiro precisa estar certo de que o monumento do Cristo Redentor é sagrado”, diz o padre Omar Raposo, reitor do santuário, em vídeo enviado à ACI Digital e à imprensa católica. “Hoje nós temos em média 1.100 batizados, mais de 200 casamentos por ano, missas todos os dias. Pessoas das mais diversas partes do mundo vão ali rezar, peregrinar e contemplar a natureza. Dessa forma, o Cristo Redentor mais do que nunca se torna um lugar de oração de contemplação”.

Cristo Redentor idealizado e cuidado pela Igreja

A origem do monumento remonta ao século XIX com a princesa Isabel, chamada de Redentora por ter assinado a Lei Áurea, que pôs fim à escravidão no país em 1888. Um grupo de pessoas pediu autorização para levantar fundos para erguer uma estátua dela no alto do Corcovado que fosse visível no que então era toda a cidade do Rio de Janeiro. A princesa imperial autorizou o projeto, mas quis que, em vez da sua, fosse erguida uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, verdadeiro Redentor da humanidade.

A proposta foi abraçada pela Igreja, e a arquidiocese do Rio de Janeiro arrecadou doações com os fiéis para colocar a imagem do Sagrado Coração de Jesus de braços abertos no alto do Corcovado. O projeto foi feito pelo engenheiro carioca Heitor da Silva Costa em 1923. A estátua tem 30 metros de altura, mais oito metros de pedestal. Os braços abertos medem 28 metros de largura.

Na inauguração, em 12 de outubro de 1931, o arcebispo dom Sebastião Leme declarou: “Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera. O Cristo Redentor livrará o Brasil de todos os seus males”.

Desde então, o monumento tem sido cuidado pela arquidiocese, que zela por sua dimensão espiritual, cultural e ambiental.

“Ao longo desses anos”, diz o padre Omar no vídeo, “o Cristo Redentor sempre cuidado pela arquidiocese do Rio de Janeiro, por ela pensado, tem nessa gestão um olhar atento para o fluxo dos turistas, para o respeito do meio ambiente, um olhar atento para que o acolhimento seja sempre uma marca, um santuário monumento que tem um Cristo de braços abertos”.

O Cristo Redentor é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1973 e eleito, em 2007, como uma das sete maravilhas do mundo moderno

Projeto de Lei quer redefinir limites do parque

Tramita no Senado o Projeto de Lei 3490/2024, de autoria do senador Carlos Portinho (PL/RJ), que propõe excluir a área do Alto do Corcovado dos limites do Parque Nacional da Tijuca.

O texto do projeto destaca que a presença da Igreja no alto do Corcovado é anterior à criação dos órgãos ambientais. O Parque Nacional da Tijuca foi criado em1961, 30 anos depois da conclusão do monumento, e o ICMBi foi criado em 2007, 76 anos depois da inauguração do Cristo

O texto também ressalta que “a área onde o monumento se encontra foi cedida pela União à Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro para a construção do Santuário do Cristo Redentor” e que em razão da criação da unidade de conservação, “a Mitra Arquiepiscopal teve sua autoridade relativizada a ponto de precisar pedir autorização prévia formal à autarquia gestora do parque para poder acessar o Cristo Redentor”.

Para resolver o problema, o projeto propõe a exclusão de uma fração de 6.771,73 m² do parque, menos de 0,02% da área total da Floresta da Tijuca, que é de 39 milhões de m². “Assim”, diz o texto, “a Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro terá liberdade para administrar o complexo sem as amarras burocráticas que envolvem a gestão de uma unidade de conservação de proteção integral”.

Segundo o texto, trata-se de uma área majoritariamente edificada, sem vegetação nativa e de uso turístico e religioso intensivo, por isso não haverá prejuízo à conservação da biodiversidade.

Petição popular apoia projeto de lei em favor do Cristo

A Rede Nacional em Defesa da Vida e da Família começou uma petição na plataforma Citizengo pedindo aos senadores que votem com urgência o PL 3490, para garantir que “o Cristo Redentor continue sendo cuidado por quem o construiu e preservou até hoje — a Igreja — e protegido de usos que possam desrespeitar sua natureza de Santuário”

Para o padre Omar, “essas mobilizações que são naturais e espontâneas mostram como o povo brasileiro admira e gosta e quer cuidar do Cristo Redentor, seu monumento, que chega a ser um patrimônio brasileiro, de todos nós, construído pela Igreja, a partir do recurso dos fiéis e que está com os braços abertos para receber tantos outros apoios, além de nos abençoar a todos”.

A governança do santuário, diz o padre Omar “busca integrar todos os interesses: desde a fluidez da operação turística, cultural, religiosa do santuário” à “perspectiva social, ambiental”, pois “o olhar do redentor comunica paz”.

“Em torno a tantos objetivos e interesses, o Cristo Redentor sempre sairá vitorioso”, conclui o padre Omar.

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