
A devoção, a fé e um percurso de muitas graças
Paulo Teixeira / Aleteia
A devoção do povo católico pela oração do rosário não nasceu do dia para a noite. Ao longo da história, várias pessoas foram acrescentando, modificando e organizando a saudação angélica da Ave Maria, até chegar à fórmula que hoje nós conhecemos. Rosário é uma coroa de rosas que o devoto oferece a Nossa Senhora, tecida com a repetição das invocações do anjo na anunciação; cada Ave Maria é uma rosa oferecida à mãe do Senhor. Uma devoção saudável que ajuda o povo a adorar a Deus, venerando a mãe do Senhor, contemplando com Ela os mistérios da vida de Jesus.
Rosário de anos
A oração do rosário é tradicionalmente chamada de terço, por se tratar da terça parte do rosário formado originalmente por quinze dezenas de Ave-Maria. O rosário provavelmente teve suas origens na Irlanda, por volta do século IX. Naquela época, os 150 salmos bíblicos eram uma das formas mais usadas de oração entre os monges. Os leigos e alguns monges, não sabendo ler, contentavam-se em ouvir a recitação dos salmos. Por volta do ano 800, começou a surgir o costume, entre os leigos, de recitar 150 vezes a oração do Pai Nosso; para contar a oração, usavam uma bolsa de couro com 150 pedrinhas e mais tarde começou a ser usado um cordão com 50 pedacinhos de madeira. É a origem do instrumento que hoje chamamos de terço.
No ano 1072, São Pedro Damião menciona que já era costume recitar, em forma de diálogo, 50 vezes a saudação angélica. Ao longo do século XII, surgiu o costume de se recitar 150 louvores à Virgem Maria, substituindo os salmos e o Pai Nosso. Os louvores eram constituídos de breves pensamentos lembrando as virtudes e glórias de Nossa Senhora. Neste período aparece a palavra rosarium que significa buquê de rosas.
Por volta de 1365, o monge cartuxo Henrique de Kalkar agrupou as 150 saudações angélicas em dezenas, intercalando um Pai Nosso em cada grupo de 10 Ave Maria. A partir de 1470, apareceram os dominicanos como os grandes propagadores desta forma simples de oração.
Por volta de 1500, teve origem a xilogravura. Por causa do analfabetismo dos fiéis devotos, usava-se reproduzir em madeira as cenas evangélicas para ajudar na oração e meditação da vida de Jesus. Nesta época, a cada dezena de Ave Maria correspondia uma cena bíblica.
Por volta de 1700, São Luiz de Montfort consagrou a forma de se ler um pensamento mais longo, narrando a cena bíblica e sugerindo atitudes práticas para cada dezena de Ave Maria. Convencionou-se chamar cada um destes pensamentos de mistério do rosário.
A vida de Jesus
Os mistérios, contemplados na oração do rosário, apresentam as etapas fundamentais da vida de Jesus, anúncio da encarnação, nascimento, adolescência, paixão, morte, ressurreição e ascensão. Destacando também alguns fatos principais da vida de Maria.
O rosário, em sua estrutura tradicional, contemplava três séries de mistérios. Os mistérios gozosos contemplam a alegria da encarnação; os mistérios dolorosos contemplam o sofrimento de Jesus, e os mistérios gloriosos contemplam a vitória de Cristo sobre a morte. Quando o devoto rezava uma série desses mistérios, ou seja, 50 Ave Maria, dizia que tinha rezado “um terço”. Em outubro de 2002, o Papa João Paulo II acrescentou ao rosário a reflexão dos mistérios luminosos que dão especial relevo à vida pública de Jesus.
Na carta apostólica Rosarium Virginis Mariae, escrita em 2002, João Paulo II ressaltou as riquezas contemplativas dessa “oração tradicional” que se consolidou amplamente entre o povo de Deus. Segundo o Papa, o rosário é “um caminho privilegiado para a contemplação do rosto de Cristo na escola de Maria”. O Papa foi muito além da simples devoção individual e propôs um programa pessoal e comunitário de oração mariana, que produz também muitos “frutos de caridade” (cf. n. 40). Ele refere-se à caridade cristã que Leão XIII considerava a base da convivência civil pacífica. Essa caridade depende largamente da oração, sobretudo da que se exprime na recitação do rosário.