“Agora, existe hoje também o Halloween do mercado, o secularizado e neo-pagão. Esse é o tipo de Halloween que incentiva as crianças a se vestirem de demônios, promove o ocultismo, as vestimentas imodestas e que divulga o Dia das Bruxas e jogos como a tábua ouija”
Por Gustavo Amorim Gomes / ACI Digital
Retratada em incontáveis cenas de filmes e programas de TV, a brincadeira das crianças americanas de tocar a campainha das casas usando fantasias de múmias, lobisomem, vampiro, bruxa e todo o repertório dos filmes de terror propondo “doces ou travessuras” se espalhou pelo mundo. O dia 31 de outubro virou parte do calendário de diversões do mundo inteiro, adquirindo ainda um lado adulto em festas noturnas que somam às fantasias “assustadoras”, um lado erótico e debochado.
A brincadeira que flerta com o demoníaco, no entanto, teve sua origem na liturgia católica. O termo Halloween é uma corruptela da expressão em inglês All Hallow Eve, que significa Véspera (Eve) de Todos (All) os Santos (Hallows), isto é o dia anterior a 1º de novembro, dia em que a Igreja comemora de todos os que foram para o céu, os conhecidos e canonizados, e os inúmeros desconhecidos.
“No Missal Pré-1955, o dia 31 de outubro, era conhecido como In Vigilia omnium Sanctorum (Vigília de Todos os Santos). Lembrando que o termo “vigília” para o rito romano significa tradicionalmente um dia penitencial de preparação para uma festa mais importante”, disse à ACI Digital Anthony Tannus Wright, presidente do Instituto Newman de Educação Clássica e co-fundador da editora Farol da Fé.
“Assim, como vigília de preparação para Festa de Todos os Santos, a Missa de Halloween tinha o altar e o sacerdote revestidos de roxo, cor penitencial, tinha o seu próprio conjunto de leituras e de cânticos próprios”, disse Wright. “O objetivo era antecipar a alegria da festa subsequente, embora muitas vezes com um toque ligeiramente diferente. Por exemplo, o início do introito do Halloween, Judicant sancti gentes, et dominantur populis (Os santos vão julgar as nações e dominar os povos), tem um tom mais severo, de Juízo Final, do que o introito puramente jubiloso do Dia de Todos os Santos, Gaudeamus omnes in Domino (Alegremo-nos todos no Senhor), embora ambos terminem com o mesmo Salmo: Exsultate, justi, in Domino (Alegrai-vos, justos, no Senhor)”.
Os dias 31 de outubro, 1º e 2 de novembro formam um “tríduo do Halloween, ou melhor, um Tríduo da Morte”, diz Wright, à semelhança de outras festas importantes que se celebram em tríduos, como a maior de todas, a Páscoa.
“Essa tradição é universalmente reconhecida pela Igreja desde a época do Papa Gregório IV (827-844), que decretou que a festa de Todos os Santos, até então uma festa local de Roma, fosse comemorada em toda parte”, diz o educador e editor. O dia 31 de outubro foi estabelecido como Véspera de Todos os Santos (hallows eve), o dia 1° de novembro é o dia de Todos os Santos (All Hallow’s Day) e o dia 2 de novembro é o dia de Todos os Fiéis Defuntos.
“O Halloween é, portanto, o primeiro dia da época do ano em que os vivos, a Igreja Militante, honram todos os mortos em Cristo: os santos no céu, a Igreja Triunfante, bem como todas as almas santas detidas no purgatório a caminho do céu, a Igreja Padecente”, diz Wright. “Trata-se, portanto, de uma bela recordação e celebração da Comunhão dos Santos”.
Segundo Wright, “o Halloween de verdade é o conjunto dessas celebrações litúrgicas solenes: jejum e abstinência no dia do Halloween, rezar pelas almas do purgatório, cantar a oração das vésperas, decorar a casa com as cores litúrgicas de cada dia (roxo, branco e preto), recitar a ladainha de Todos os Santos, entre outras devoções”.
“Agora, existe hoje também o Halloween do mercado, o secularizado e neo-pagão. Esse é o tipo de Halloween que incentiva as crianças a se vestirem de demônios, promove o ocultismo, as vestimentas imodestas e que divulga o Dia das Bruxas e jogos como a tábua ouija”, completa o educador. “Esse tipo de Halloween é perigoso e demoníaco”.
O bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Ricardo Hoepers respondeu em entrevista à Vatican News, serviço de comunicação da Santa Sé, à pergunta “Halloween, sim ou não?”
“Para o cristão, não”, disse dom Ricardo. “Nós temos muito mais a festejar com todos aqueles que nos ensinam que a verdade na vida está no encontro e na experiência do amor verdadeiro que vem de Deus”. “A festa de Todos os Santos! Os Santos são esses amigos e amigas, homens e mulheres, testemunhas de vida que nos ensinam quanto vale a pena mergulhar e viver a experiência do amor de Deus na vida, no cotidiano. É esta a festa que nós vamos celebrar”.