Canindé é palco da maior romaria franciscana das Américas

Santuário Basílica de Canindé na Abertura da Romaria 2024 – Foto: Rogério Sales.

Os capuchinhos ficaram no santuário de Canindé até 1923, quando assumiram os frades franciscanos menores. Em 1925, o santuário de São Francisco das Chagas foi elevado à dignidade de basílica menor.

Por Natalia Zimbrão / ACI Digital

Desde o dia 24 de setembro, o santuário basílica de São Francisco das Chagas, em Canindé (CE), recebe uma multidão de fiéis de várias partes do país para a festa de seu padroeiro, celebrada em 4 de outubro. A romaria de São Francisco das Chagas recebe cerca de 1 milhão de fiéis nos 11 dias de festa e é, segundo o santuário, a maior romaria franciscana das Américas.

“Essa romaria cresceu de tal maneira que, de fato, se tornou a maior das Américas”, disse à ACI Digital o reitor do santuário, frei Gilmar Nascimento da Silva, da Ordem dos Frades Menores. “Depois de Assis, vem Canindé, pelo número de pessoas, pela expressão e, sobretudo, por algo tão próprio daqui de Canindé que é justamente o povo simples, um povo mais pobre que vem a Canindé”.

“Sabemos que tem pessoas de diversas de diversas áreas, de diversas classes sociais, mas o que predomina é aquele povo mais simples que dá um toque especial a essa romaria por conta de são Francisco ter deixado como exemplo o despojamento, a pequenez, a humildade. Creio que, por isso, as pessoas se sentem tão chamadas a vir a essa cidade, a contemplar a imagem de são Francisco, a participar dos sacramentos de uma maneira tão bela”, acrescentou.

De 24 de setembro a 4 de outubro, os romeiros participam de dezenas de missas, via-sacra, confissões, batizados, procissão.

Uma cidade que cresce em torno da devoção

Segundo frei Gilmar Nascimento, “o santuário de São Francisco das Chagas tem uma grande importância para a cidade de Canindé, pois a história dessa cidade começa através da devoção a são Francisco”.

“No ano de 1758, chegaram alguns frades franciscanos que começaram a evangelizar, falar sobre são Francisco. A partir daí, foi crescendo a devoção e o lugar foi crescendo e se tornando município, cidade. Ao olhar para a história dessa cidade, percebe-se que tem a participação dos frades em todas as instâncias, educação, saúde, comunicação, música, tantas coisas que se observa a participação e influência dos frades”, disse.

A construção da antiga capela dedicada a são Francisco das Chagas teve início em 1775, por iniciativa do sargento-mor português Francisco Xavier de Medeiros, que se estabeleceu às margens do Rio Canindé e ficou conhecido como fundador do povoado. Ele era da Ordem Terceira Franciscana, criada por são Francisco para atender aos leigos.

Em 1776, os trabalhos foram suspensos devido à grande seca que assolou o sertão. A obra foi concluída em 1796, tendo sofrido diferentes transformações ao longo dos anos. Também naquele ano, o capitão Jerônimo Machado fez a doação da imagem grande de são Francisco, que foi trazida de Portugal. Mas, nessa época, já era venerada em Canindé a imagem primitiva, de 1775, chamada pelos fiéis de “são Francisquinho”, que ainda hoje é conduzida solenemente na procissão do dia 4 de outubro.

No início do século XIX, grandes romarias e festejos em homenagem a são Francisco já eram tradicionais, impulsionando o povoado ao desenvolvimento. Canindé se tornou um distrito em 1817, com o nome São Francisco das Chagas de Canindé e, em 1846, tornou-se vila. Apenas em 1914, que foi elevada à categoria de cidade, com o nome Canindé.

Em 1818, foi criada a paróquia de Canindé e a igreja passou a ser regida pelo clero diocesano até 1898. A partir de então, passou a ser administrada por uma comunidade de frades capuchinhos, que “renovaram a vida religiosa da região e estabeleceram toda a infraestrutura para a prosperidade da religião em Canindé”, diz o site do santuário.

“A antiga capela construída por Xavier de Medeiros resistiu até 1888, quando começaram novos trabalhos de melhorias que terminaram em 1890, passando a chamar-se santuário”, diz o site. Vinte anos depois, “os frades capuchinhos fizeram uma grande empreitada mudando a estrutura da igreja radicalmente, os trabalhos duraram cinco anos, de 1910 a 1915”, acrescenta.

Os capuchinhos ficaram no santuário de Canindé até 1923, quando assumiram os frades franciscanos menores. Em 1925, o santuário de São Francisco das Chagas foi elevado à dignidade de basílica menor.

A devoção a são Francisco das Chagas

São Francisco de Assis foi o primeiro santo da Igreja a receber em seu próprio corpo os estigmas, que são as marcas das chagas de Cristo crucificado.

Neste ano, os franciscanos comemoram os 800 anos da impressão dos estigmas de são Francisco, que aconteceu em 1224, no Monte Alverne, Itália. Por isso, a festa de São Francisco das Chagas, em Canindé, tem como tema “As Chagas de Cristo presentes em São Francisco e na vida do povo”.

O frei Gilmar Nascimento disse à ACI Digital que a devoção a são Francisco das Chagas em Canindé “vem justamente por conta de tantas pessoas que se sentem fragilizadas”.

“São Francisco, pela sua proximidade para com os mais pobres, fez com que o povo também, ao se voltar para esse santo, se sentisse tocado, sobretudo os mais pobres. Aqui em Canindé prevalece a vinda dos piauienses, os maranhenses e de tantos outros estados aqui do Nordeste, de pessoas tão simples que se voltam para este santo e alcançam as graças necessárias. Daí, a importância de perceber a influência de são Francisco na vida de tantas pessoas, sobretudo dos pequeninos”, disse.

Os romeiros expressam sua devoção ao santo através de diferentes manifestações de fé e piedade popular. Muitos entram no santuário de joelhos e vão até a imagem de são Francisco das Chagas, com seus pedidos e agradecimentos. Há também o costume de usar uma veste marrom.

Segundo o frei Gilmar, “as pessoas vestem marrom lembrando o próprio são Francisco, que em sua época usou uma veste que era própria do camponês, que fazia parte de uma classe bem simples, e Francisco, ao deixar tudo, ao deixar família, ao deixar bens, assumiu essa veste”.

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