O sentido da morte e do luto

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Rituais fúnebres são diversos de acordo com a cultura ou religião

Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. / A12 Redação

Recentemente, o Brasil viveu duas grandes expressões de luto coletivo: Um pelo trágico acidente ocorrido com um avião na cidade de Vinhedo (SP) em 9 de agosto e outra pela morte do apresentador e empresário Silvio Santos, no dia 17 desse mês.

Nessas horas, se destaca de forma mais intensa, o enigma que a morte representa , pois diante dos acontecimentos, ceifando a vida de tanta gente, as pessoas são levadas a refletir sobre o sentido da vida e da morte . Trata-se de uma realidade complexa e desafiadora para qualquer ser humano.

Por outro lado, as pessoas também se perguntam sobre as diferenças dos rituais e comportamentos relacionados com o luto e com a despedida final de quem faleceu.

O sentido da perda

A perda de um ente querido é a prova mais dolorosa que enfrentamos em nossa breve passagem pela terra . Como entender um fato que parece fechar todas as portas à esperança? Como conviver para sempre sem a física presença de quem tanto se ama? Como controlar a saudade que brota dos mínimos gestos e recordações? Saudade que, ao contrário do que se diz, parece que só aumenta com o tempo.

Como suportar o silêncio de uma voz que se calou? E o que fazer para conter as lágrimas diante de fotografias , imagens ou objetos relacionados a um passado que não mais retornará?

Toda perda provoca uma ocorrência imediata que é chamada de luto , um processo que pode se estender por mais ou menos tempo, e a maneira de vivê-lo depende de cada um e do significado real daquela ou daquilo que foi perdido.

Segundo especialistas, em geral, o luto está marcado, num primeiro momento, pelo choque diante do inesperado ou do incontrolável, gerando uma espécie de anestesia, principal indicador de que a perda ainda não foi assimilada por completo.

Depois, vem uma fase em que parece que a “ficha cai”, como se diz popularmente e se passa a entender melhor a dimensão do que ocorreu, mas sempre com uma resistência em aceitar. Existem os que chegam a acreditar que irão acordar e a realidade será aquela de sempre.

Quando, finalmente, se percebe que nada mudará, vem o sofrimento, o choro, a falta que a pessoa começa a fazer. Pode acontecer também um momento de revolta e de culpa, quando entra em cena o “SE”: “se tivesse feito diferente”, “se isso…”, “se aquilo…”.  Por fim, como em outras perdas, chega-se à acessibilidade e ao necessário retorno à realidade.  O sensacionalismo e a forma como a mídia trata ou explora as tragédias é um complicador que acentua a forma de acessibilidade da realidade.

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Sentido da vida e da morte

O advento do cristianismo e a saída do Templo, fez com que os cristãos fossem aos poucos dando um tratamento para os corpos dos que morriam , com rituais diversificados em relação ao mundo e à cultura dos judeus.

No Oriente Médio, na Ásia Menor e nas províncias do Império Romano, os cristãos foram dando um sentido diferente à morte e à vida eterna, embalados pela certeza da ressurreição , até que surgiu a celebração de uma data especial de comemoração de todos os os fiéis defuntos com o Dia de Finados.

Este traje deriva de Santo Odilon, abade da ordem monástica de Cluny , falecido em 1048, que decretou no ano de 998 que, em todos os mosteiros dependentes de sua abadia , fosse celebrado, depois da festa de Todos os Santos, um dia exclusivamente dedicado aos mortos.

Aos poucos, a celebração desse dia ganhou ampla difusão, passando também por muitos países, principalmente na Europa. Enfim, também em Roma foi sancionada oficialmente a memória de todos os fiéis falecidos em 1311, com celebração para a Igreja de todo orbe.

Muito antes, porém, de a Igreja institucionalizar o Dia de Finados , um livro lançado como bases para fundamentar o modo como os cristãos tratam a vida e celebram os seus mortos . Trata-se do livro “De Cura pro Mortuis Gerenda” , escrito no ano 421, atribuído ao grande Santo Agostinho de Hipona (354-430).

Reprodução – Facebook

O luto nas diversas culturas e religiões

Desde os primórdios dos tempos, em que o ser humano se encontra sobre a face da terra, as diversas religiões e culturas buscam entender o sentido da morte, do luto, apresentando também as maneiras de trabalhar e suportar a ausência e a perda.

Uma das formas que o ser humano encontrou para reverenciar seus mortos, enfrentado o luto e a dor , se deu pela criação de rituais funerários que ganham diversas expressões de acordo com as culturas, religiões e países. Em algumas realidades esse ritual se reveste de colorido e de aspectos folclóricos.

Um dos primeiros povos a praticar certos rituais funerários foi a civilização Celta, que habitou primeiro o centro da Europa , chegando depois a ocupar mais da metade do continente. Sua influência foi se fazendo sobre outros povos e culturas . Quando a Igreja evangelizou a Europa depois da queda do Império Romano em 467, boa parte destes rituais foram cristianizados.

Em alguns países, como o caso do México, ainda hoje são realizadas festas em honra dos mortos com comida, bolos, música e doces, os preferidos das crianças. Em outras regiões como no Suriname e em Nova Orleans, nos Estados Unidos, são cortes realizados acompanhados de música e danças ao conduzir os falecidos para o lugar de sua última segurança.

Como se pode perceber, as culturas e as sociedades vivem o luto de acordo com uma herança que vem de séculos , dando sentido à experiência da morte, sempre transmitindo de significados próprios que passam pela espiritualidade e pela religião.

Para compreender o sentido da perda e do luto é preciso ter em mente que, pelo fato do ser humano não ter o conhecimento definitivo do que acontece depois da morte e, mesmo do ponto de vista biológico, o entendimento da morte do corpo é uma compreensão relativamente recente, tudo se reveste de mistério, de incógnitas e até de apreensões.

Imagem do chão/shutterstock

Na falta de explicação, o ser humano foi construindo significados e esses, ao longo da história, foram pautando comportamentos e atitudes que geraram rituais e cerimônias.

A maneira de realizar o tratamento do corpo de uma pessoa falecida , o velório e o destino final dado ao corpo, pelo sepultamento ou cremação que são as formas mais comuns, são notadas em quase todas as culturas, como foi o caso de Silvio Santos , que por ser judeu seguiu os rituais próprios, bem diferentes dos costumes cristãos.

De acordo com a Confederação Israelita do Brasil , dentro da tradição judaica, o enterro acontece rapidamente após o falecimento, se possível no mesmo dia.

Se o falecimento ocorrer no sábado, dia de descanso para os judeus e no qual os enterros são proibidos, deverá ser no dia seguinte, como ocorreu com o apresentador.

O corpo está envolvido em uma mortalha branca, simbolizando igualdade perante a morte, independentemente da posição social do falecido.

Pela tradição, deixar o falecido à mostra demonstra falta de respeito à imagem da pessoa em vida. O mesmo motivo é suspenso em contato para não abrir o caixão durante o velório, que não é público e se restringe a familiares e amigos . Pela tradição, deixar o falecido à mostra demonstra falta de respeito à imagem da pessoa em vida. O mesmo motivo é suspenso em contato para não abrir o caixão durante o velório, que não é público e se restringe a familiares e amigos.

O mais importante é que uma vida seja sóbria sobre a morte e que, independentemente das variações culturais ou mudanças que os tempos tragam, que não se falte com o respeito à dignidade que toda pessoa falecida merece.

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