Sim, é possível se casar na Capela do Coro da Basílica de São Pedro. Muitos fiéis pedem para celebrar o matrimônio na Basílica Vaticana, “lugar privilegiado no coração da Igreja”, comenta o Pe. Lucas Teixeira, que concelebrou o sacramento de Vanessa Tomio e Thiago Pereira, naturais de Itajaí-SC. “A realidade sacramental sempre supera a realidade material”, alerta porém o sacerdote, porque independentemente da igreja, o casal precisa assumir “de forma plena a missão que Deus lhes confia”.
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Andressa Collet – Vatican News
“Caramba, a gente está com data marcada para o casamento! Vamos casar na Basílica. E a gente ficou incrédulo, não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. A gente só realmente acreditou que estava acontecendo quando a gente levou as documentações lá na Basílica.”
A Vanessa Nunes Tomio, de 25 anos, casou com Thiago Murilo Pereira, de 36 anos, na Capela do Coro dentro da Basílica de São Pedro em 19 de setembro de 2023. O matrimônio foi celebrado por um sacerdote em italiano e concelebrado pelo melhor amigo de Vanessa, o brasileiro Pe. Lucas Casimiro Tibincoski Teixeira, que veio de Itajaí, Santa Catarina, a mesma cidade de origem dos noivos, e fez a homilia em português. Uma das graças de sermos católicos, recordou o sacerdote, é o fato de sabermos que “qualquer comunidade é a nossa comunidade”, de “nos sentirmos em casa do lugar mais simples ao mais sublime”, como a Basílica de São Pedro, o coração da Igreja católica que, como recordou Bento XVI em 2007, “continua a pulsar incessante vitalidade, ligando a si homens e mulheres do mundo inteiro e ajudando-os a ter uma experiência espiritual que marque a sua existência”. Como aconteceu com Vanessa e Thiago que tiverem o privilégio de poder se unir em matrimônio na Basílica Vaticana para ali começar uma nova família, como enalteceu o Pe. Lucas:
“Celebrar o sacramento do matrimônio na Basílica de São Pedro ganha um acento ainda mais elevado, porque essa realidade da Igreja, tão plausível, em toda aquela riqueza, ela se mostra de uma forma eficaz sacramental quando os noivos se dão em matrimônio. Na Capela do Coro repousam os restos mortais de São João Crisóstomo – o da Boca de Ouro – aquele que anunciou as maravilhas do Senhor, e ali começa uma nova família quando se unem os esposos que proclamarão também as bênçãos de Deus que transmitirão a verdade da fé, a verdade revelada do Nosso Senhor aos seus filhos, a sua prole, continuarão a família da Igreja também eles.”
Uma família que irá aumentar em 2025, já que Vanessa ficou grávida 9 meses depois do casamento. Maria Catarina deve nascer no ínicio de fevereiro para alegria dos pais que moram na Itália há cerca de 5 anos e trabalham na área da saúde. Thiago se forma em Medicina neste ano, em Roma, e o casal tem uma empresa que ajuda jovens brasileiros a estudar na Itália pra fazer cursos de graduação. E foi uma das mentorandas que compartilhou a experiência de se casar na Itália, contou Vanessa:
“E aí eu falei sério? Onde é que tu casou aqui na Itália? E ela falou: ‘eu casei na Basílica de São Pedro’. E aí eu falei: oi? Como assim que se casou na Basílica de São Pedro? É possível se casar na Basílica de Pedro? E aí ela começou a me contar como que foi o processo pra ela casar na Basílica e tudo mais. E quando eu desliguei aquela ligação, eu e o Thiago a gente se olhou e ficou, assim, chocado, porque a gente não imaginava realmente que poderia casar lá.”
Como se casar na Basílica de São Pedro
Assim, o casal começou a pesquisar para entender o processo de como se casar na Basílica Vaticana. O primeiro contato, como explica o próprio site oficial, o www.basilicasanpietro.va, é por e-mail ao departamento paroquial para identificar a possibilidade de datas. Qualquer pessoa pode solicitar a celebração desse sacramento (como também o do Batismo e Crisma de Adultos), escrevendo para ufficioparrocchiale@basilicasanpietro.va e seguindo as instruções que serão fornecidas. No caso da Vanessa, o contato veio através de uma religiosa: “quando nós ligamos para ela, na primeira ligação, ela já falou: ‘sim, claro, é possível vocês casarem aqui. Qual é a data que vocês querem?’ A gente se olhou e nem tinha pensado em data ainda”.
Os critérios para a celebração, porém, devem ser respeitados. Como a oferta das datas que ganham restrição porque seguem a agenda paroquial, do Papa e do Vaticano. Outras particularidades dizem respeito ao código de vestimenta e as músicas. Toda a documentação exigida é igual a do Brasil e da Itália, por isso o casal brasileiro precisou fazer a Crisma, além do curso de preparação ao matrimônio. A celebração é totalmente gratuita e é possível contribuir com uma oferta livre. O site alerta, inclusive, para se desconfiar de serviços e intermediários não autorizados.
Da conversão ao sacramento do matrimônio
“Foi muito grandioso e importante para mim, porque Deus é muito incrível comigo. Eu nem mereço isso. Eu nem mereço estar aqui, sabe, porque o meu processo de conversão foi aos poucos. Até marcar o casamento eu ainda não era 100% convertida. Depois que aquilo aconteceu, mexeu muito comigo e no meu coração. Eu falei: ‘eu não mereço isso. Não mereço mesmo casar na Basílica, mas Deus está cuidando tudo de uma forma tão especial’. Não que outros casamentos em outros lugares não sejam importantes e especiais, porque o que importa não é o local, mas os noivos se unirem em matrimônio e ter o corpo de Cristo ali. Mas eu fiquei muito tocada por ser algo tão grandioso, sendo que ao meu ver eu não merecia aquilo, eu não merecia que Deus tivesse tanto cuidado e tanto amor por uma pessoa que estava ainda conhecendo a fé e tudo mais.”
Vanessa foi batizada na Igreja Católica, mas se sentia “uma filha afastada da Igreja de Cristo”, como ela mesma descreve. E o processo “desafiador” de conversão começou quando conheceu Thiago e a fé dele com a vontade de conhecer cada vez mais sobre valores que acabaram edificando a jovem: “estamos num relacionamento a três, com Deus sempre na frente de tudo”, confirma ela, ainda não acreditando na graça recebida: “eu estava sentindo algo tão especial que eu chego a ficar emocionada de lembrar e relembrar. Eu só conseguia sorrir, eu sentia uma paz, eu sentia a presença de Deus. Foi muito especial, eu vivi aquele momento, mas eu não acreditava que eu estava vivendo aquilo. Eu e o Thiago a gente fala até hoje que foi realmente algo muito grandioso em que a gente não se sente merecedor de tudo que Deus nos proporcionou viver ali”.
Seja na Basílica de São Pedro ou numa pequena igreja
Segundo o portal diplomático da Embaixada de Portugal junto a Santa Sé, os católicos que desejam se casar na Basílica de São Pedro deverão ainda preparar um pedido oficial que justifique o porquê da importância de se casarem na Basílica Vaticana, assim como uma carta de idoneidade assinada pelo seu pároco que ateste que os noivos são fiéis ativos na vida da paróquia. Tudo para realizar o sonho de se casar no coração da Igreja Católica, com um alerta, explicou o Pe. Lucas:
“Pode haver aí, uma tentação, sim. E nós, inclinados para o pecado, sempre estamos sujeitos a fazermos as coisas ainda que certas mas pelos motivos errados. Então um alerta para aqueles que desejam se casar na Basílica de São Pedro é de entender que, apesar de toda a grandeza do que celebram naquele lugar, eles devem ter sempre em conta que a realidade misteriosa do sacramento supera a realidade visível do local onde é celebrado. E essa é a graça de ser católico, porque, sendo católico, nós podemos entrar na Basílica de São Pedro com todo o seu esplendor, com toda a sua glória que eleva a nossa alma, e nós podemos entrar numa choupaninha, no lugar muito afastado de tudo da civilização, onde ali há uma pequena Igreja, talvez uma palhocinha, algo muito simples, e tanto numa como noutra, dizermos: ‘estou em casa’. E a realidade dos sacramentos acontece por igual, numa e outra.
A realidade sacramental sempre supera a realidade material. O noivo e a noiva que unem-se pelo sacramento do matrimônio na Basílica de São Pedro estão sacramentalmente unidos e celebram esse sacramento com a mesma verdade do que os noivos que o celebram em qualquer outro lugar do mundo, de um lugar muito importante até um lugar periférico e irrelevante. A realidade do sacramento é a mesma porque é o nosso Senhor Jesus Cristo que faz acontecer o sacramento, é ele que está ali unindo os esposos entre si. Por isso, os casais que desejam se casar na Basílica de São Pedro: que bom, Deus seja louvado! Mas devem fazer isso pela motivação correta: celebrar esse ato sublime da fé, da realidade sacramental, num lugar privilegiado no coração da Igreja para saberem da sua responsabilidade e assumirem de uma forma plena aquela missão que Deus lhes confia.“