2025: um novo Ano Jubilar se aproxima

Vatican News

Filipe Domingues / O São Paulo

Com a bula ‘Spes non confundit’, o Papa Francisco convoca a todos a peregrinar pela esperança.

O Papa Francisco abrirá a porta santa da Basílica de São Pedro em 24 de dezembro deste ano e a fechará em 6 de janeiro de 2026. O Jubileu de 2025 está chegando. Na tradição da Igreja, o ano jubilar, ano santo ou “Jubileu Universal” ocorre normalmente a cada 25 anos. Trata-se de um período que a Igreja considera especialmente propício para orações, bênçãos e para valorizar o perdão e o sacramento da Reconciliação.

O primeiro jubileu foi proclamado pelo Papa Bonifácio VIII em 1300 e, inicialmente, devia ser celebrado a cada cem anos. Com o passar das décadas, abreviou-se a celebração para 50 anos; depois, para 33 anos e, finalmente, para cada 25 anos. Além dos jubileus “ordinários”, alguns papas proclamaram os jubileus “extraordinários”, isto é, fora do intervalo previsto. O mais recente foi o Jubileu da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco em 2015.

A Bula de proclamação foi entregue, simbolicamente, a bispos provenientes de todos os continentes, após a celebração das Segundas Vésperas da Solenidade da Ascensão do Senhor, na quinta-feira, 9.

“Penso em todos os peregrinos da esperança que vão chegar a Roma para viver o Ano Santo e em quantos, não podendo vir à Cidade dos apóstolos Pedro e Paulo, vão celebrá-lo nas Igrejas particulares”, escreve o Pontífice.“Possa ser, para todos, um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus, ‘porta’ de salvação (cf. Jo 10,7.9); com Ele, que a Igreja tem por missão anunciar sempre, em toda a parte e a todos, como sendo a ‘nossa esperança’ (1Tm 1,1).”

PORTAS SANTAS E CELEBRAÇÕES

“Todos esperam. No coração de cada pessoa encerra-se a esperança como desejo e expectativa do bem, apesar de não saber o que trará consigo o amanhã”, reflete o Papa na Bula. “Porém, esta imprevisibilidade do futuro faz surgir sentimentos por vezes contrapostos: desde a confiança ao medo, da serenidade ao desânimo, da certeza à dúvida. Muitas vezes, encontramos pessoas desanimadas que olham, com ceticismo e pessimismo, para o futuro como se nada lhes pudesse proporcionar felicidade”, continua. “Que o jubileu seja, para todos, ocasião de reanimar a esperança! A Palavra de Deus nos ajuda a encontrar as razões para isso.”

Nesse ano especial, serão abertas outras três portas santas em basílicas papais: a da Basílica de São João de Latrão, catedral de Roma; a da Basílica de Santa Maria Maior; e a da Basílica de São Paulo fora dos Muros.

Diferentemente do Jubileu da Misericórdia, o Papa não solicitou a abertura de portas santas nas dioceses de todo o mundo, mas os bispos diocesanos devem, em 29 de dezembro de 2024, “celebrar a Santa Eucaristia como solene abertura do ano jubilar, sentindo o ritual que será predisposto para a ocasião”. Essa celebração deve ser realizada em todas as catedrais e cocatedrais do mundo.

Estimula-se, ainda, a peregrinação de todos os diocesanos até a Igreja catedral durante o Ano Santo, algo que simboliza “um sinal do caminho de esperança que, iluminado pela Palavra de Deus, reúne os que creem”.

Francisco avisou que pretende abrir mais uma porta, dentro de uma prisão. Outro objetivo central, informou, é o de pedir o cancelamento das dívidas de países pobres que não conseguem pagar aos mais ricos – um desejo de caráter geopolítico e social, como consequência do jubileu universal.

“No Ano Jubilar, seremos chamados a ser sinais palpáveis de esperança para muitos irmãos e irmãs que vivem em condições de dificuldade”, diz. “Penso nos presos que, privados de liberdade, além da dureza da reclusão, experimentam dia a dia o vazio afetivo, as restrições impostas e, em não poucos casos, a falta de respeito. Proponho aos governos que, no Ano Jubilar, tomem iniciativas que lhes restituam a esperança: formas de anistia ou de perdão da pena, que ajudem as pessoas a recuperar a confiança em si mesmas e na sociedade; percursos de reinserção na comunidade, aos quais corresponda um compromisso concreto de cumprir as leis.”

INDULGÊNCIAS DO JUBILEU

A Bula de proclamação do jubileu explica o sentido das indulgências concedidas no Ano Santo. “A indulgência nos permite descobrir como é ilimitada a misericórdia de Deus”, escreve o Papa. “Não é por acaso que, na antiguidade, o termo ´misericórdia` era cambiável com o de ‘indulgência’, precisamente porque pretende exprimir a plenitude do perdão de Deus que não conhece limites.”

Além do sacramento da Reconciliação, que, como diz o texto, “não é apenas uma estupenda oportunidade espiritual, mas representa um passo decisivo, essencial e indispensável no caminho de fé de cada um”, as indulgências permitem eliminar os “efeitos residuais do pecado”.

“Uma tal experiência repleta de perdão não pode deixar de abrir o coração e a mente para perdoar. Perdoar não muda o passado, não pode modificar o que já aconteceu; no entanto, o perdão pode-nos permitir mudar o futuro e viver de forma diferente, sem rancor, ódio e vingança. O futuro iluminado pelo perdão permite ler o passado com olhos diversos, mais serenos, mesmo que ainda banhados de lágrimas”, acrescenta o Santo Padre, vinculando o próximo jubileu com o anterior, aquele da Misericórdia.

Há diferentes formas de se obter as indulgências do jubileu: peregrinando aos lugares santos de Roma e da Terra Santa, com a celebração da Eucaristia. Há uma lista de lugares santos, em Roma e no mundo, que podem ser visitados, mas também estão incluídas as catedrais, cocatedrais e santuários marianos, conforme indicações da igreja local.

Também é possível obter indulgências por meio de obras de misericórdia e penitência, como, por exemplo, as missões populares, os exercícios espirituais ou encontros de formação sobre textos do Concílio Vaticano II e o Catecismo da Igreja Católica. Está prevista também a indulgência para quem visitar pessoas em dificuldade, como doentes, encarcerados, idosos solitários ou pessoas com deficiência.

Mais especificamente, as obras de misericórdia corporal são “dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, acolher os estrangeiros, assistir os doentes, visitar os presos, enterrar os mortos”. As obras de misericórdia espiritual são “aconselhar os duvidosos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar pacientemente as pessoas incômodas, orar a Deus pelos vivos e pelos mortos”.

Por fim, é possível obter a indulgência plenária mediante a abstenção de “fúteis distrações” por ao menos um dia, o que inclui o distanciamento das redes sociais, de consumos supérfluos, além da caridade e do voluntariado com os pobres, obras em defesa da vida “em todas as suas fases”, da infância e dos jovens, dos idosos e dos migrantes.

Mais detalhes e normas sobre as indulgências podem ser encontrados no site do Jubileu 2025, criado pelo Dicastério para a Evangelização: www.iubilaeum2025.va/pt.

Artigo anteriorO que aconteceu entre a Ascensão e o Pentecostes?
Próximo artigoBíblia, imagens e relíquia ficam intactas em meio a escombros na enchente do Rio Grande do Sul