Quando se perde “o gosto pela vida plena e pela libertação que o Senhor quer nos dar ininterruptamente, então a Igreja corre o risco de adoecer, de entrar na indolência, em uma tristeza adocicada que também estraga a memória do passado, que em vez de gerar uma nova paixão pela vida, acaba alimentando a memória melancólica de um tempo que não existe mais ou que talvez nunca tenha existido”, afirma dom Pietro Lagnese no início de seu ministério episcopal como arcebispo de Cápua, sul da Itália
Vatican News
“A Igreja existe para evangelizar, mas muitas vezes ela se esquece. E quando isso acontece, ela se torna triste, perde a alegria, adoece”. Foi o que disse dom Pietro Lagnese na noite deste domingo, 4 de fevereiro, na homilia da Missa celebrada na catedral por ocasião do início de seu ministério episcopal como arcebispo de Cápua, sul da Itália.
A síndrome dos bons tempos que já foram
“Quando se deixa de acolher o Evangelho e de anunciá-lo, perdendo o gosto pela vida plena e pela libertação que o Senhor quer nos dar ininterruptamente, então a Igreja corre o risco de adoecer, de entrar na indolência, em uma tristeza adocicada que também estraga a memória do passado, que em vez de gerar uma nova paixão pela vida, acaba alimentando a memória melancólica de um tempo que não existe mais ou que talvez nunca tenha existido. É a síndrome – explicou o prelado, que também é bispo de Caserta – daqueles que vivem presos à memória do passado e dos bons tempos que já foram: nós… aqueles que eram muitos, nós… aqueles que eram fortes, importantes, nós… aqueles que, quando falávamos, todos nos ouviam, nós… aqueles das igrejas cheias. Agora, em vez disso… – como fazemos bem essa parte, nós a recitaríamos por horas! – agora, em vez disso, parafraseando a oração de Azarias, nós nos tornamos menores do que todos os outros, agora fomos humilhados; agora não temos mais – alguém deve estar pensando – …nem mesmo um bispo só para nós! Se esse modo de raciocinar gerasse um sincero desejo de conversão, um renovado zelo pastoral, um novo desejo de mudança, seria, talvez, como no texto de Daniel (3,37-38), um bom pensamento”.
Em nosso meio há tanto bem que avança e cresce
Em vez disso, muitas vezes, “acaba sendo ruim, venenoso, até mesmo diabólico, em primeiro lugar porque não corresponde totalmente à realidade – não é verdade que tudo é sombrio e tudo é ruim; dizer isso seria ter um olho doente, seria um pouco como o homem ímpio que, diz o salmista, quando vê o bem, não o vê; e, em vez disso, em nosso meio, ao lado do que é ruim, há tanto bem que avança e cresce: quanto bem há em nossas comunidades, quanto bem há na Igreja de Cápua; quantos cristãos comprometidos e quantos sacerdotes, consagrados, que procuram ser sérios! – mas aquele pensamento é venenoso, sobretudo porque, na maioria das vezes, imobiliza, paralisa; portanto, um pensamento doentio, que extingue a esperança, que gera um olhar todo voltado para si mesmo, preocupado com a lógica do mundo e todo impulsionado para trás”. A consequência, apontou dom Lagnese, citando o Papa, “é uma Igreja tipo museu, uma Igreja completamente entrincheirada no passado, nas áreas protegidas do ‘sempre foi feito assim’, que se detém em assuntos de pouca importância, de interesses – os seus próprios e não os de Cristo -, de ganhos pessoais e de poder”.
Redescobrir a alegria de servir
“Quando, ao invés, a Igreja se coloca novamente na escola do Evangelho e se põe outra vez a anunciá-lo, ela se torna novamente jovem e descobre a beleza do dom que é o Cristo vivo, o Crucificado Ressuscitado, um dom recebido e a ser transmitido. E redescobre a alegria de servir”. Para que isso aconteça, “para que o compromisso com a evangelização seja colocado novamente no centro, a Igreja deve estar disposta a repensar a si mesma, pronta – se isso atrapalhar a proclamação do Evangelho – a rever também suas estruturas e sua organização, para voltar a ser mais extrovertida, menos focada em se olhar no espelho, uma Igreja que não seja vítima de uma espécie de introversão eclesial: aí, parece-me, está o significado da decisão do Papa de unir tantas Igrejas na Itália em persona episcopi, e entre elas, também as de Cápua e Caserta! “, observou o prelado.
(com Sir)