O arcebispo lembrou da necessidade da presença da Igreja em todos os ambientes, como nos cárceres, hospitais e cemitérios, nem sempre muito eficaz, apesar do trabalho que é realizado pelos capelães e agentes capacitados. “Não podemos reduzir nosso trabalho apenas aos sacramentos, é preciso dar esperança e sentido de vida às pessoas”.
Por Carlos Moioli / Testemunho de Fé*
“Nesta Eucaristia, agradecemos a Deus pela nossa arquidiocese, pelo nosso padroeiro São Sebastião, neste dia que lhe é consagrado, por todos os trabalhos realizados e pelos nossos projetos, para fazer do Rio de Janeiro uma cidade cada vez mais justa, fraterna e de paz. Bendizemos ao Senhor por tantos dons e graças que temos recebido, e tantos sonhos que são acalentados”, disse o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, nas palavras de acolhida, durante o início da missa solene do padroeiro São Sebastião, na Catedral Metropolitana, no Centro, em 20 de janeiro.
A missa, que concluiu as festividades em honra ao padroeiro, após a procissão e o Auto de São Sebastião, foi concelebrada pelos bispos auxiliares e diversos sacerdotes. Entre os bispos, o eleito de Caratinga (MG), Dom Juarez Delorto Secco, que se despedia da arquidiocese, e os eméritos, Dom Edney Gouvêa Mattoso, de Nova Friburgo (RJ), e Dom Edson de Castro Homem, de Iguatu (CE).
Na primeira parte de sua homilia, Dom Orani refletiu sobre o tema da Trezena e festa do padroeiro: “a oração é a fortaleza de São Sebastião”, escolhido em sintonia com o Ano da Oração, convocado pelo Papa Francisco em preparação ao Jubileu do Ano Santo de 2025.
“Neste Ano da Oração, desejamos que a oração nos coloque sempre a caminho para celebrar bem o jubileu que se iniciará no dia 24 de dezembro próximo com a abertura da Porta Santa. A Igreja nos concede em cada jubileu, que acontece a cada 25 anos, uma oportunidade para reavivar o dom de Deus, a graça do Senhor em nossas vidas. Ao olhar a vida de nosso padroeiro, São Sebastião, pelo seu exemplo, poderíamos também, todos nós enquanto Igreja, reavivar esse dom de Deus em nossa vida pessoal, comunitária, familiar e social”, disse o arcebispo.
Dom Orani afirmou que a finalidade do jubileu, conforme a tradição que vem desde o Antigo Testamento, é começar de novo, voltar aos inícios, e isso deve acontecer no âmbito pessoal, mas também na dimensão pastoral, nas paróquias, comunidades, pastorais e movimentos.
“Peço a Deus que os frutos da Trezena e da Festa de São Sebastião, nas quais contemplamos a oração em preparação para o jubileu, possam ser a ênfase para reavivar toda a nossa arquidiocese. Que seja um recomeço de quem fez a opção por Jesus Cristo e o acolhe como Senhor da sua própria vida. Um recomeço sem frustrações, dificuldades, revoltas e problemas, mas de experiências adquiridas, de um coração generoso e entusiasmado, semelhante de quando iniciamos a vida cristã, a descoberta da vocação, a nossa participação na vida Igreja”, disse.
Quem enviar?
Uma segunda reflexão realizada por Dom Orani na homilia foi um olhar sobre a cidade, cuja realidade ele pôde verificar, assim como faz em cada Trezena, ou quando celebra ou participa de algum evento nas comunidades paroquiais. Ele manifestou sua alegria e ação de graças a Deus pelo trabalho que os sacerdotes, diáconos permanentes, consagrados e agentes pastorais realizam na arquidiocese nas várias frentes de missão, mas observou que ainda é pouco, que é preciso ir mais longe.
“Vejo padres ansiosos e preocupados em bem evangelizar, o mesmo acontece com os diáconos, consagrados e fiéis leigos, mas tem algo que me preocupa muito, que é a necessidade de ir mais longe. Eu passo em várias regiões com muitas casas, novos prédios e condomínios, e penso: quem eu vou enviar? Como fazer para que o Evangelho chegue nos lugares fechados, nos corações das pessoas? Precisamos, além das celebrações em nossas comunidades, ir nas periferias das nossas paróquias, onde as pessoas estão, onde residem”, disse.
Dom Orani destacou que ele também pensa na região central da cidade “onde há pessoas não batizadas, sem Jesus Cristo, que perambulam, não só os que estão em situação de rua, mas também em casas e habitações coletivas. Uma cidade dividida com poderes paralelos que colocam obstáculos e, muitas vezes, impedem as pessoas de se locomoverem, de ir e vir, provocando situações que geram pobreza e atos de violência”.
“A Trezena de São Sebastião pela cidade me faz refletir e pensar de como fazer para cumprir bem a missão que me foi confiada, de levar o Evangelho a todos. Para isso, preciso do entusiasmo dos sacerdotes, diáconos, consagrados, seminaristas, agentes de pastoral, de todo o povo de Deus. Neste contexto, penso que o nosso segundo Sínodo sobre as Missões, em curso na arquidiocese, não é apenas a questão da missão de porta em porta, embora isso deva acontecer, mas também uma missão que contemple toda a cidade”, lembrou.
O arcebispo lembrou da necessidade da presença da Igreja em todos os ambientes, como nos cárceres, hospitais e cemitérios, nem sempre muito eficaz, apesar do trabalho que é realizado pelos capelães e agentes capacitados. “Não podemos reduzir nosso trabalho apenas aos sacramentos, é preciso dar esperança e sentido de vida às pessoas”.
“Sejamos discípulos do Senhor Jesus, dando testemunho de sua presença entre nós, e que não tem outro jeito de viver, senão de anunciá-Lo. Um anúncio de quem fez a experiência que ama e é amado pelo Senhor. Assim foi a vida de São Sebastião. Embora não esteja explicitado na sua hagiografia, mas para fazer o que ele fez, de sofrer e dar testemunho de sua fé, é porque sentiu-se amado por Cristo. Que ele interceda por todos nós”, concluiu o arcebispo.
*Jornal da Arquidiocese do Rio de Janeiro