Papa pede proibição da “deplorável” prática da barriga de aluguel

A Santa Sé mantém relações diplomáticas plenas com 184 estados, bem como com a União Europeia e a Ordem Militar Soberana de Malta. Na cidade de Roma, existem 91 missões diplomáticas credenciadas junto à Santa Sé.

Papa Francisco em discurso no dia 8 a embaixadores de todo o mundo no Vaticano. / Vatican Media

O papa Francisco chamou no último dia 8 o uso de “barriga de aluguel” de “deplorável” e pediu uma proibição mundial da prática em um discurso a embaixadores de todo o mundo no Vaticano.

“O caminho da paz exige o respeito pela vida, por toda a vida humana, a começar pela do nascituro no ventre da mãe, que não pode ser suprimida nem se pode tornar objeto de tráficos ilícitos”, disse o papa Francisco.

“A este respeito, considero deprimente a prática da chamada barriga de aluguel, que lesa gravemente a dignidade da mulher e do filho. Baseia-se na exploração de uma situação de necessidade material da mãe. Um filho é sempre um dom, e nunca o objeto de um contrato.”

O papa apelou então à comunidade internacional para proibir universalmente a prática da barriga de aluguel.

“Em cada momento da sua existência, a vida humana deve ser preservada e tutelada, pelo que é com pesar que constato, especialmente no Ocidente, a persistente difusão de uma cultura da morte que, em nome de uma falsa compaixão, descarta crianças, idosos e doentes”, acrescentou.

A condenação da barriga de aluguel do papa Francisco ocorreu durante seu discurso anual de política externa a todos os embaixadores credenciados junto à Santa Sé.

Em um discurso de 45 minutos na Sala das Bênçãos do Vaticano, o papa sublinhou a importância de que o “direito humanitário” seja defendido pela comunidade internacional para “garantir a defesa da dignidade humana em situações de guerra”.

“As guerras de hoje já não se desenrolam apenas em campos de batalha delimitados, nem dizem respeito somente aos soldados”, disse o papa.

“Num contexto em que parece já não ser observada a distinção entre objetivos militares e civis, não há conflito que não acabe de alguma forma por atingir indiscriminadamente a população civil. Prova evidente disto mesmo são os acontecimentos na Ucrânia e em Gaza”.

O discurso anual do papa aos diplomatas tem sido chamado de discurso sobre o “estado do mundo” porque é uma das poucas vezes em que o papa aborda crises globais e conflitos específicos que acontecem em todo o mundo ao mesmo tempo.

A China só foi mencionada em relação ao terremoto do mês passado, que o papa Francisco listou entre “desastres que os seres humanos não podem controlar”. Os Estados Unidos também foram mencionados apenas uma vez pelo nome durante o apelo do papa aos migrantes, no qual ele disse que as pessoas arriscam as suas vidas ao longo de rotas perigosas que viajam “através do norte do México até à fronteira com os Estados Unidos”.

A Santa Sé mantém relações diplomáticas plenas com 184 estados, bem como com a União Europeia e a Ordem Militar Soberana de Malta. Na cidade de Roma, existem 91 missões diplomáticas credenciadas junto à Santa Sé.

No ano passado, a Santa Sé estabeleceu relações diplomáticas com Omã. O papa também destacou no seu discurso os desenvolvimentos diplomáticos com o Vietnã, para onde a Santa Sé enviou pela primeira vez um representante papal, nomeado no ano passado.

Israel e Palestina

“Aqui não posso deixar de reiterar a minha preocupação com o que está a acontecer na Palestina e em Israel. Todos ficamos chocados com o ataque terrorista de 7 de outubro passado contra a população em Israel, onde foram feridas, torturadas e mortas de forma atroz tantas pessoas inocentes e muitas outras foram feitas reféns. Repito a minha condenação de tal ação e de toda a forma de terrorismo e extremismo: assim não se resolvem as questões entre os povos, antes pelo contrário tornam-se mais difíceis, causando sofrimento a todos. De fato, aquilo provocou uma forte resposta militar israelita em Gaza, que levou à morte de dezenas de milhares de palestinianos, na maioria civis, entre os quais muitas crianças, adolescentes e jovens, e causou uma situação humanitária gravíssima com sofrimentos inimagináveis”.

“Renovo o meu apelo a todas as partes envolvidas para um cessar-fogo em todas as frentes, incluindo o Líbano, e para a libertação imediata de todos os reféns em Gaza. Peço que a população palestina possa receber as ajudas humanitárias e que os hospitais, as escolas e os locais de culto tenham toda a proteção necessária”.

“Espero que a comunidade internacional avance, com determinação, na solução de dois Estados, um israelita e um palestino, bem como de um estatuto especial, garantido internacionalmente, para a Cidade de Jerusalém, para que israelitas e palestinos possam finalmente viver em paz e segurança”.

Nicarágua

“Suscita preocupação ainda a situação na Nicarágua: uma crise que se prolonga no tempo com amargas consequências para toda a sociedade nicaraguense, particularmente para a Igreja Católica. A Santa Sé não cessa de convidar a um diálogo diplomático respeitoso pelo bem dos católicos e de toda a população”.

Ucrânia

“Infelizmente, depois de quase dois anos de guerra em grande escala da Federação Russa contra a Ucrânia, a tão desejada paz ainda não conseguiu encontrar lugar nas mentes e nos corações, não obstante as numerosíssimas vítimas e o rastro enorme de destruição. Não se pode deixar continuar um conflito, que se está gangrenando cada vez mais, com dano para milhões de pessoas, mas é preciso que se ponha termo à tragédia em curso através da negociação, no respeito pelo direito internacional”.

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