Os antigos acreditavam que o incenso nascia do sol, do fogo. Também morria pelo fogo quando queimado no altar
Michael Rennier / Aleteia
Eu adoro pesquisar vídeos on-line de monges fazendo incenso com suas receitas supersecretas e especiais que foram transmitidas de irmão para irmão nos mosteiros desde tempos desconhecidos. O cuidado com que eles o fabricam revela o quão especial o incenso realmente é e quão vital se configura para a nossa adoração.
É um processo pacífico e sagrado ver um monge misturando incenso silenciosamente em algum anexo do mosteiro. Quando o queimo no altar durante a Missa, sempre aprecio o resultado.
A fragrância calmante e o efeito que ele causa em quem sente o seu cheiro são difíceis de explicar. Quando estou na Missa, meus batimentos cardíacos diminuem um pouco e o peso do mundo sai dos meus ombros. Uma igreja com incenso no ar é ofuscada, delimitada como espaço sagrado. As pedras exalam o perfume de inúmeras Missas. É a fragrância da oração.
A adoração sagrada envolve todos os nossos sentidos, incluindo o olfato. O odor numa igreja católica parece um pequeno detalhe, mas ainda me lembro da vez em que uma criança entrou na nossa igreja com a sua mãe e, assim que cruzaram a soleira, sussurrou-lhe com entusiasmo ao ouvido: “Aqui cheira à igreja!”
Nós nos envolvemos na adoração com todo o nosso ser – visão, paladar, tato, audição e olfato. A beleza penetra em nossa alma e é internalizada. Nós também devemos “cheirar à igreja” através das nossas ações no dia a dia.
O que o incenso simboliza?
Existem várias maneiras de explicar o simbolismo do incenso. O mais simples é notar que é um sinal visível de orações subindo ao nosso Pai Celestial. Literalmente vemos o incenso consumido no fogo e subindo até Deus como uma coluna de fumaça.
No entanto, o incenso é muito mais do que uma oração tornada visível. É um sacrifício. Se você já assistiu aqueles vídeos de monges preparando-o, você testemunhou como ele é reduzido a pedaços com almofariz e pilão. É esmagado. Depois, no altar, é totalmente queimado.
Na antiga aliança, Deus ordenou a construção de um altar especificamente dedicado à queima de incenso (Êxodo 30,1). Os sacerdotes queimavam incenso neste altar duas vezes por dia, uma vez pela manhã e outra à noite. Uma vez por ano, o incenso também era uma parte obrigatória do sacrifício expiatório. A expiação é a oferta que Cristo cumpre na Cruz. É a oferta para o perdão dos pecados.
É precisamente por isso que é louvável queimar incenso durante o Santo Sacrifício da Missa todos os domingos. O incenso está presente nos sacrifícios do Templo e também na adoração celestial, por isso é justo que o utilizemos em nossa adoração atual.
Adoração que penetra no coração
Lembre-se, a adoração não é apenas uma ação exterior. Sempre vai ao coração. São Gregório Magno encoraja-nos a pensar nos nossos corações como altares onde podemos queimar incenso. Devemos exalar doces fragrâncias diante de Deus.
Nunca devemos esquecer, porém, que o sacrifício é de Nosso Senhor e estamos apenas nos unindo a ele. É aqui que o simbolismo do incenso se torna realmente interessante
Por que o incenso é o “perfume do sol”
Jean Hani, em seu livro “The Symbolism of the Christian Temple”, escreve: “o incenso é o perfume do sol”. Isso porque o incenso é uma resina criada pela árvore de olíbano em cooperação com a ação da luz solar. Quando você pega um pouquinho de incenso entre os dedos e o levanta para o céu, ele fica de cor âmbar, transparente e refrata a luz do sol. É quase como um pedaço de luz cristalizada.
Os antigos acreditavam que o incenso nasce do sol, nasce do fogo. Também morre pelo fogo quando consumido no altar. Um grão de incenso é um pedaço de terra transformado em céu pela ação de ser sacrificado. A humanidade sofre esta mesma transformação na Cruz. Nosso Senhor une a si a humilde humanidade e, como nosso representante, faz um sacrifício perfeito. Ele nos eleva ao Céu através da graça. Isto é, se fizermos da nossa vida um sacrifício junto com ele.
Durante anos, quando meus paroquianos perguntavam por que eu fazia um movimento circular com o turíbulo em torno do pão e do vinho durante a Missa, eu encolhia os ombros. Eu não sabia. Simplesmente incensava o altar como mostram os diagramas dos livros de liturgia. Agora entendo que o círculo traça a forma do sol.
O movimento circular é precedido pelo ato de incensar os presentes com o sinal da cruz três vezes. Inscrever o crucifixo sobre o pão e o vinho indica que os efeitos da Cruz viajarão até os confins da terra – leste, oeste, norte e sul – e o movimento circular é feito ao redor da área onde as cruzes foram feitas. O amor de Cristo preencherá tudo entre o nascer e o pôr do sol. Na verdade, ele é aquele sol nascente. Ele é a luz do mundo.
Um sinal visível
Em muitas igrejas antigas, o incenso sacrificado no altar flutua até a pedra angular do arco acima dele. É uma escada para o Céu, um sinal visível de que a terra está sendo redimida, elevada como oferenda ao Pai. Cristo é essa linha vertical. Ele está na pedra fundamental do altar e também na pedra angular do telhado do mundo. Na verdade, sua luz viaja através daquele teto, passando pelo sol e outras estrelas até o reino celestial.
Quanto mais compreendo os mistérios da liturgia, mais ela se enquadra num todo belo e harmonioso. Os símbolos da Missa podem ser difíceis de entender. Muitas das tradições da Igreja são sombriamente misteriosas. Mas, no centro de tudo isso, Cristo brilha intensamente, como o sol.