Frei Jorge de Oliveira celebra quarenta anos de Ordenação Sacerdotal nesta segunda-feira, 23

“A cada dia que passa eu peço a Deus para que eu continue, mesmo sem as forças físicas, mas com um olhar de muita confiança e de muita esperança”

Fotos de Frei Jorge hoje (Pascom) e no dia da Ordenação Sacerdotal (Arquivo pessoal).

Por Emilton Rocha / Pascom

O atual reitor e pároco do Santuário Basílica de São Sebastiao, Frei Jorge Luiz de Oliveira, estará festejando o 40° aniversário de sua Ordenação Sacerdotal nesta segunda-feira, 23, dia em que há quatro décadas foi ordenado. Às 18h será celebrada uma Missa Festiva em comemoração pela data, ocasião em que muitos amigos estarão presentes no templo para prestigiar o querido frade.

Frei Jorge, natural de Pancas (ES), nasceu em 15 de dezembro de 1955. Aos 23 anos ingressou na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, em fevereiro de 1978, celebrando a Profissão Temporária um ano depois. Após três anos, professou a Profissão Perpétua e sua Ordenação Sacerdotal ocorreu em outubro de 1983.

Com especialização em Estudos Filosóficos, Teológicos e Missiologia pela Universidade Gregoriana (Roma), seus encargos na Ordem foram: Guardião, Pároco, Diretor dos Pós-Noviços e Ministro Provincial nos anos 2007 a 2013.

Em 29 de março de 1977, ingressava no Postulado. No ano seguinte, integrou o noviciado, tendo como mestre Frei José Ubiratan Lopes. Em fevereiro de 1979 emitiu seus primeiros votos religiosos. Ainda naquele ano, passou a residir em Petrópolis, no Convento Sagrado Coração de Jesus, cursando Filosofia e Teologia no Instituto Teológico Franciscano. Quatro anos após, foi ordenado sacerdote na cidade mineira de Mantena, pelas mãos de dom Antônio Eliseu Zuketo.

Frei Jorge fez parte das fraternidades São Crispim, de Viterbo (Mantena-MG), Nossa Senhora dos Anjos (Itambacuri-MG), São Francisco de Assis (Santa Teresa-ES), São Félix de Cantalício (Viana-ES), Nossa Senhora Aparecida (Petrópolis-RJ) e São Sebastião (Tijuca-RJ). De julho de 2007 a setembro de 2013 foi Ministro Provincial. Antes de ser nomeado pároco, estava na fraternidade de São Serafim Montenegraro, em Santa Cruz da Serra (Caxias-RJ), exercendo a função de Pároco da comunidade de Santa Cruz da Serra. Seus amigos o tem como um homem afável, comunicativo e que adora cantar.

O canto é fundamental na liturgia mas também é desafiador, pois a grande questão é quem estiver na coordenação e nos microfones, ajudar, motivar e incentivar a assembleia a que todos cantem, louvem a Deus. Isso é maravilhoso e a nossa liturgia nos oferece tais possibilidades nas celebrações, disse à Pascom.

À esquerda: Emocionado durante a cerimônia; e recebendo o abraço de sua mãe, observado pelo pai. (Arquivo pessoal)

Abaixo, ele responde à Pastoral da Comunicação.

PASCOM – Como se sente quarenta anos após sua Ordenação Sacerdotal? 

Frei Jorge – Eu sempre vejo as coisas com um olhar de esperança e um olhar positivo, pois não sou de ficar olhando para trás. Puxei à minha mãe. Talvez por isso hoje eu me sinto muito bem, muito sereno e em paz comigo mesmo, em paz na Província e com os freis, também dentro do contexto da Igreja. Me sinto com vontade de continuar, não mais no ritmo de 40 anos atrás, claro, tem que ser agora no meu ritmo. Tenho muita confiança em Deus, tenho esperança e sou muito grato a Ele por essa caminhada. Coisas que me despertaram durante esse tempo e que me chamaram atenção, é o que eu diria hoje como um fato: a graça de estar vivo, pois superei situações muito difíceis no período como provincial (2 triênios), que não foi brincadeira. Agora, por último, nesse tempo da covid que mexeu muito comigo, nesse ponto fui muito tranquilo. Sempre fui muito grato a Deus por tudo o que vinha e acontecia, pela força e pela coragem que continua me dando.

PASCOM – Qual a diferença da Província Nossa Senhora dos Anjos daquela época para os dias atuais?

Frei Jorge – Existe muita diferença da Província com relação há 40 anos atrás e hoje. Meu querido, o bonde anda muito depressa da conta (risos) e a vida passa muito rápido. Há 40 anos atrás não existia computador como hoje. Entre 1984 e 1986, quando eu estava estudando em Roma, os freis norte-americanos já tinham um computador, um para um monte de frades e era apenas para digitação, nada igual a hoje. Celular, nem se falava! A vida corria a partir do trabalho e da luta diária. Eu falo isso no contexto de Igreja, porque a vida religiosa existe no contexto de Igreja. Naquela época, o Brasil fervia… o mundo… a ditadura. Era um outro tempo completamente diferente, com caminhada diferente. Eu vivenciei muito o tempo das CEBs, Comunidades Eclesiais de Base. Vivi esse período intensamente e pude saborear tudo isso que aconteceu e que hoje, no próprio contexto da Igreja, isso não tem tanto valor. Mas o valor é a gente que dá às coisas. Nunca esperei que outros batessem palmas ou reconhecessem o meu trabalho. É claro que eu estava recebendo todo conhecimento, sobretudo da quantidade de pessoas que caminharam e trabalharam comigo e que, juntos, sonharam e acreditaram.

PASCOM – E o mundo, mudou para melhor ou para pior?

Frei Jorge – O mundo mudou porque muda mesmo por completo. Não tem como não mudar. Daqui a cinco anos estaremos falando de coisas que nada tem a ver com o tempo de agora. Quem hoje tem vinte anos de idade vê isso de uma forma completamente diferente. Acho que tem muita coisa boa no mundo de hoje, mas também tem muita coisa que não vale a pena. E não existe esse negócio de querer parar o mundo porque isso não existe. Vamos caminhando, descobrindo novas alternativas diante de perspectivas que surgem, mas eu nunca gostei de ficar parado no tempo, mesmo não sendo um grande acompanhador do tempo, até porque resisto a muitas coisas em que não vejo muita vantagem.

Por exemplo, hoje desse mundo virtual e eletrônico eu procuro tirar coisas boas. Mas é muita coisa que interfere a meu ver, muita mentira, muitas fake news, inclusive na própria linguagem da fé e isso nunca me agradou, nunca fui interessado nisso. Não gosto mesmo. Não gosto do WhatsApp da forma como ele é gerido, mesmo na linguagem da nossa Igreja – eu não gosto de nada disso! Parece coisa de velho mesmo e eu acho tudo muito frágil, muito superficial, sem fundamento e sem base. Eu ainda resisto a algumas coisas e vejo o mundo com o olhar de muita esperança, pois não sou negativo. Não sei se é para pior ou para melhor as mudanças no mundo, pois essa é a beleza da vida. Não tem nada fixo, nada pronto, nada estático, nada parado, tudo é muito dinâmico, muito intenso. Viver tudo isso é uma bênção e eu só tenho que agradecer a Deus.

PASCOM – O que você diria agora para os noviços?

Frei Jorge – Aos jovens que estão chegando hoje, e graças a Deus chegam, porque a nossa vida capuchinha nunca foi de ter muitos elementos, eu diria para não se ater a coisas que não são importantes, que busquem aquilo que realmente tem sentido e significado. Cuidado com esse negócio de ficar se baseando em coisas externas ou exteriores. Nossa Igreja tem um histórico muito forte, as tradições, os costumes, as liturgias etc, mas a gente corre um risco muito grande no mundo de hoje de viver a partir de uma casca, de um olhar de superficialidade e que não levam a muito longe. Se não tivermos muita atenção, muita oração, muito cuidado no sentido de uma espiritualidade centrada, fundamentada e que, a partir dos conflitos da própria existência, nós não iremos muito longe. A cada dia que passa eu peço a Deus para que eu continue, mesmo sem as forças físicas, mas com um olhar de muita confiança e de muita esperança. Sou grato a Deus por tudo isso. Eu não conseguiria fazer um levantamento para saber quantas pessoas eu fui encontrando no meu caminho e que foram importantíssimas na minha vida.

PASCOM – E o vigor, ainda com disposição para mais quarenta anos?

Frei Jorge – O vigor continua como eu já disse: não é mais o mesmo vigor a partir do físico, da energia, mas é um olhar diferente, um olhar de ternura, de atenção e de gratidão a Deus pelo dom da minha vida e por estar aqui até quando Deus quiser.

Artigo anteriorParem! A guerra é uma derrota, a destruição da fraternidade humana
Próximo artigoDados que todo cristão deve saber sobre Halloween