Como o turismo religioso tem ajudado famílias no interior de Minas

‘Caminho Franciscano’, entre Teófilo Otoni, Frei Gaspar e Itambacuri, é fonte de renda para habitantes das cidades

‘Caminho Franciscano’ atrai turistas e movimenta a economia local. / Fotos: José Eduardo Santana – Itatiaia

Por João Eduardo Santana / Rede Itatiaia

Um ditado mineiro que não falha é “quem quer uma limonada, precisa espremer os limões”. Com a criação do chamado “Caminho Franciscano”, que perpassa a BR-116, entre as cidades de Teófilo Otoni, Frei Gaspar e Itambacuri, no Leste de Minas e no Vale do Mucuri, moradores descobriram que poderiam ganhar dinheiro fazendo o que sempre fizeram: colocando suas habilidades e dons a serviço dos outros. A rota, que relembra o caminho dos Frades Capuchinhos que colonizaram a região em meados do século XIX, conta com pontos de lanche, almoço, artesanatos e, claro, uma boa conversa.

Estes exemplos estão sendo apresentados no Seminário Internacional de Turismo Religioso, promovido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelos Frades Capuchinhos, em parceria com o governo de Minas. Tudo isso, em meio às celebrações dos 150 anos da presença franciscana em Itambacuri, que celebra, até o próximo dia 02 de agosto, as festividades de sua padroeira, Nossa Senhora dos Anjos.

Thais Silva Rosa, de 27 anos, é moradora da pequena comunidade de Córrego São João em Itambacuri, um dos pontos de parada do Caminho Franciscano. Cozinheira de “mão cheia”, recebeu o convite do Sebrae e dos Freis para fazer parte do projeto.

“Os freis me disseram que precisariam de pontos de apoio para servir lanches, almoço e jantar, e até mesmo de locais para que os peregrinos pudessem dormir. Minha irmã se animou e nós, que já tínhamos um bar, abrimos também para as refeições. Depois, decidimos fechar o bar e ficar apenas com o restaurante. Tem dado certo”, afirma.

O mesmo aconteceu com a agora guia de turismo Luzânia Lima, de 35 anos, que fazia caminhadas, mas que não atuava profissionalmente. Após participar de uma formação oferecida pelo Sebrae e pelos Frades de Itambacuri, ela decidiu fazer das caminhadas, a sua profissão. E não se arrepende.

“Já guiei vários grupos de peregrinos por este Caminho Franciscano, e cada um deles é diferente. Os turistas se encantam com a comida, com a hospitalidade, com as histórias. No início eu não era profissional, mas agora sou. E com a profissionalização está vindo o retorno financeiro”, diz.

O mel de Itambacuri

A rota da fé do Leste de Minas também abriu os olhares para um casal de jovens, que decidiu se aventurar na apicultura, área do agronegócio que lida com a produção de itens ligados ao mel de abelhas. Stefffanie Maressa, de 27 anos, é microempreendedora e se aventurou ao lado do marido neste nicho de negócio, aproveitando o crescimento no número de turistas.

“O meu sogro já atuava na área, e aí o meu marido e eu decidimos começar no negócio. Vendemos mel, o favo do mel, além de outros produtos derivados. Um produto que é aqui da terra, que tem dado um retorno satisfatório. Os turistas gostam, ganham amostra grátis e voltam para comprar mais”, fala.

A rota franciscana do Leste de Minas

Organizada pelo Sebrae e pelos Frades Franciscanos Capuchinhos da Província do Rio de Janeiro, que atuam no Leste de Minas, o caminho de 42 quilômetros entre a Paróquia São Francisco de Assis em Teófilo Otoni, até o Santuário Nossa Senhora dos Anjos em Itambacuri, que é conhecida como “Cidade Franciscana”, segue a trilha feita pelos primeiros freis que chegaram para a colonização da região, na segunda metade do século XIX.

A cidade de Itambacuri respira os ideais franciscanos em cada um de seus cantos, desde a sua fundação em 1873, quando os freis italianos Serafim e Ângelo chegaram por lá, após longa viagem de trem, vindos do Rio de Janeiro. Com eles, veio também a devoção à Nossa Senhora dos Anjos, a maior da região.

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