De onde vieram as vestes dos monges?

Esse casaco de lã grossa tem sido usado por religiosos em muitas congregações há séculos. Qual é a sua origem? Seu propósito é puramente prático ou ele também tem uma função simbólica?

© Philippe Lissac / GODONG

Morgane Afif / Aleteia

São Francisco de Assis fez dele seu hábito. Longo e áspero, o burel é um tecido de ponto cruz que surgiu na Idade Média. Conhecido por ser uma lã de baixa qualidade vendida a um preço modesto, foi usado por indigentes para fazer casacos de peregrinos com capuz a partir do século XIII no Ocidente.

De cor indeterminada entre marrom, vermelho-tijolo e bege, o tecido era esmagado para garantir solidez e impermeabilidade. Foi nessa época que os frades capuchinhos criaram seu hábito, cingido com um cinto de três nós, simbolizando os votos de pobreza, castidade e obediência, e completado com um par de sandálias.

Essa tradição vem do próprio São Francisco de Assis, que, ao adotar essa vestimenta reservada aos mais necessitados, marcou sua renúncia a uma vida mundana e burguesa em favor de uma vida de pobreza. Como filho de um homem rico de Assis, não foi por acaso que ele escolheu esse tecido, tendo crescido na opulência e no conforto dos tecidos coloridos.

Um sinal de renúncia ao mundo

Embora sua etimologia ainda seja motivo de debate entre os linguistas, o burel refere-se a lãs pretas, marrons ou cinzas. Em sua Vita, a primeira hagiografia do santo de Assis, Tomás de Celano, em 1228, descreve o simbolismo moral e espiritual atribuído a ele por São Francisco quando ele se despiu publicamente para vestir o burel e marcar seu rompimento com sua vida anterior: “Ele prepara para si uma túnica que apresenta a imagem da cruz, para que nela possa repelir todas as imaginações demoníacas; ele a prepara toda áspera, para que nela possa crucificar sua carne com vícios e pecados; finalmente, ele a prepara toda pobre, grosseira e de tal forma que o mundo não possa cobiçá-la de forma alguma” (Tomás de Celano, 1 Cel IX, 22).

Mais tarde, na Idade Média, os comerciantes adquiriram o hábito de cobrir suas mesas de trabalho com um pedaço desse pano grosseiro, que tinha a vantagem de alisar as superfícies sem medo de manchas. Assim, o pano deu seu nome, in extenso, à palavra “bureau” (escritório), que, por sucessivas metonímias, passou a designar o cômodo onde se localizava o ambiente de trabalho em geral.

Assim também, o “buraliste” (vendedor de tabaco), que dirige uma tabacaria, é tradicionalmente a pessoa que recolhe as multas e os selos fiscais em nome do Estado. O nome de sua função também vem dessa antiga vestimenta, que desde então desapareceu dos catálogos dos tecelões.

Hoje, apenas alguns produtores ainda trabalham com esse tecido pesado, que é reservado para as ordens religiosas que ainda usam esse casaco. De forma ainda mais excepcional, alguns figurinistas mantêm viva a memória desse humilde tecido nos palcos de teatros e óperas, onde séculos de oração em mosteiros deram a ele suas cartas de nobreza.

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