O objetivo dessa estrutura de cerca de quinze membros será elaborar um “catálogo” de cristãos de todas as denominações que morreram por sua fé, desde o ano 2000 até os dias atuais. Entenda:
I.Media / Aleteia
Com vistas ao Jubileu de 2025, o Papa Francisco está instituindo uma “Comissão para os Novos Mártires – Testemunhas da Fé” dentro do Dicastério para as Causas dos Santos. O pontífice anunciou essa iniciativa em uma carta publicada em 5 de julho de 2023. O objetivo dessa estrutura de cerca de quinze membros será elaborar um “catálogo” de cristãos de todas as denominações que morreram por sua fé, desde o ano 2000 até os dias atuais, mas cuja causa de beatificação ainda não foi aberta em Roma.
Essa comissão, afirma o Papa em sua carta, “não pretende estabelecer novos critérios para a verificação canônica do martírio”, mas terá que listar os nomes “daqueles que, hoje, continuam a ser mortos simplesmente por serem cristãos”. O trabalho histórico possibilitará, portanto, a elaboração de uma lista de cristãos batizados que experimentaram o “martírio cristão”, mas não são oficialmente reconhecidos como mártires pela Igreja Católica.
O papa cita os cristãos que arriscam suas vidas praticando sua religião, aqueles que “são mortos em seus esforços de caridade para sustentar a vida dos pobres […], para proteger e promover o dom da paz e o poder do perdão”, ou “as vítimas silenciosas, individuais ou coletivas, das convulsões da história”.
A comissão, chefiada pelo Cardeal Marcello Semeraro, Prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, será presidida por Dom Fabio Fabene, Secretário do Dicastério, e vice-presidida por Andrea Riccardi, fundador da comunidade de Santo Egídio, que administra a basílica dedicada aos mártires do século XX na Ilha Tiberina de Roma. Dom Marco Gnavi, pároco de Santa Maria in Trastevere, atuará como secretário.
Os 10 membros incluem dois franceses: o padre Dominique Arnauld, missionário na África, e o diácono historiador Didier Rance, ex-diretor da Ajuda à Igreja que Sofre na França e autor de obras sobre mártires contemporâneos. Os outros membros são o padre-teólogo togolês Kokou Mawuena Ambroise Atakpa, a freira italiana Nadia Coppa, presidente da União Internacional das Superioras Gerais, os professores italianos de história Gianni La Bella e Maria Lupi, e o padre Roberto Regoli, bem como o padre-teólogo vietnamita Dinh Anh Nhue Nguyen e o padre geral da Companhia de Jesus, o venezuelano Arturo Sosa.
Continuação da Comissão do Ano 2000
Essa estrutura não é nova: uma iniciativa desse tipo já havia sido lançada na época do Grande Jubileu do Ano 2000. Entre 1996 e 2000, os pesquisadores receberam mais de 20.000 relatórios de todo o mundo, a partir dos quais elaboraram uma lista de 3.400 nomes”, disse à I.MEDIA o padre Marco Gnavi, que já era o secretário dessa primeira comissão.
A lista que agora será elaborada para o primeiro trimestre do século XXI é “um censo inicial” que não pode ser exaustivo, explica o padre Gnavi. Esse trabalho permite dar “reconhecimento histórico” aos cristãos que, de outra forma, permaneceriam anônimos, continua ele, mencionando como exemplo os “mártires da oração dominical”, um termo usado para designar aqueles que perderam suas vidas a caminho da missa.
Uma celebração ecumênica durante o Jubileu
Além disso, a pesquisa da comissão não se referirá apenas aos católicos, mas se estenderá a todas as denominações cristãs. Esse fenômeno afeta “todos os cristãos, anglicanos, evangélicos, ortodoxos, etc.”, diz o padre Gnavi.
Na mesma linha, em 11 de maio, o Papa Francisco anunciou que os 21 mártires cristãos, incluindo 20 coptas, mortos pelo Daech na Líbia em 2015, seriam registrados no Martirológio Romano. Essa é uma iniciativa histórica: embora a Igreja Católica e a Igreja Copta tenham em comum os santos dos primeiros séculos, esses foram os primeiros santos a serem reconhecidos por ambas as Igrejas desde a ruptura do século V.
Ao criar essa comissão, o Papa Francisco também está indicando que uma celebração ecumênica será realizada durante o Jubileu de 2025, seguindo o modelo daquela realizada em 7 de maio de 2000 por João Paulo II no Coliseu, com representantes de igrejas e comunidades eclesiais de todo o mundo, como um sinal do “ecumenismo de sangue”.
O pontífice de 86 anos reiterou que os mártires “são mais numerosos em nosso tempo do que nos primeiros séculos”. O trabalho dessa comissão como “guardiã da memória” continuará mesmo depois do Jubileu, conclui o padre Gnavi.