Leonardo da Vinci trabalhou com uma técnica experimental que não resistiu ao teste do tempo, mas uma restauradora conseguiu salvar uma das obras mais conhecidas do mundo
Daniel R. Esparza / Aleteia
Pinin Brambilla foi uma das maiores autoridades mundiais em preservação e restauração de obras renascentistas italianas. Ela morreu aos 95 anos, 20 anos depois de terminar o que pode ter sido uma das tarefas mais importantes de sua carreira: a restauração de “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. Ela começou os trabalhos na obra em 1977, terminou em 1999 e faleceu em 14 de dezembro de 2020.
Desde que Leonardo terminou essa obra, em 1498, seis restauradores trabalharam nela, mas apenas Brambilla conseguiu restaurar a imponente pintura de 4,5 metros de altura, que decorava a parede do refeitório do mosteiro da Igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão.
“Quando vi pela primeira vez [o mural de Leonardo], não pude acreditar nos meus olhos”, disse Brambilla a Mike Lanchin, da BBC, em 2016. “Não dava para ver a pintura original: ela estava completamente coberta por gesso e camadas de tinta. Tinha cinco ou seis camadas no topo. Tive que me perguntar se era um Leonardo ou não, porque estava completamente irreconhecível […] O que procurávamos com o nosso restauro era recuperar as características originais de cada personagem. E isso foi muito emocionante.”
O experimento fracassado de Leonardo
O mural começou a se deteriorar no momento em que foi concluído. E a culpa foi do próprio Leonardo: ele descartou a técnica tradicional de afresco, que exige que o artista aplique tinta sobre uma camada de argamassa de cal ainda úmida. A técnica faz com que o pigmento grude na parede, mas exige que o artista trabalhe rápido, antes que o reboco seque.
A atenção aos detalhes e o perfeccionismo de Leonardo eram incompatíveis com as exigências do afresco apressado, então ele decidiu aplicar uma técnica experimental que consistia em pintar com têmpera ou óleo sobre uma superfície seca de gesso.
Como os pigmentos não estavam permanentemente presos à parede, eles logo começaram a descamar.
Muitas outras circunstâncias também danificaram a obra-prima. A parede do refeitório onde está pintado o mural absorveu a umidade de um córrego subterrâneo que corre sob o mosteiro – detalhe que Leonardo desconhecia. Também sofria com a fumaça e o vapor que emanavam da cozinha próxima. O exército de Napoleão usou o prédio como um estábulo. E, durante a Segunda Guerra Mundial, uma bomba aliada caiu sobre o convento.
Ao retirar séculos de restauros duvidosos, “linhas que eram toscas e inexpressivas tornaram-se delicadas e refinadas. Agora você podia ver claramente a comida na mesa e as rugas na toalha de mesa. E, enquanto alguns críticos acreditam que a restauração tirou muita tinta da obra, outros dizem que está quase como quando Leonardo a terminou.