A história de Tomás e Massiel é bela agora – mas já era bela antes
Francisco Vêneto / Aleteia
Os jovens mexicanos Tomás, ex-seminarista, e Massiel, ex-freira, se conheceram quando estudavam Filosofia e Teologia como parte da sua formação.
Tomás passaria sete anos no seminário e Massiel seis anos no convento até que cada um discernisse, individualmente, que não tinha a vocação religiosa. Mas um não sabia do processo de discernimento vocacional do outro, já que, ao longo dos seus anos de seminário e convento, os dois jovens se viram no máximo três vezes, conforme recorda o próprio Tomás. Foi só depois de sair do seminário que o jovem ficou sabendo que Massiel também havia deixado a vida religiosa.
Ele então resolveu procurá-la para saber um pouco mais da sua história. Via rede social, o jovem compartilhou que só “estava curioso” para saber por que Massiel havia deixado o convento, mas, à medida que iam conversando com mais frequência, tanto ele quanto ela perceberam que a amizade ia se transformando em amor.
“O fato é que eu a vi e a achei muito diferente, muito bonita, com aquele sorriso lindo dela e o jeito especial dela de se vestir. Eu não sei, mas tudo começou de verdade quando a gente passou a conversar”.
O relato de Tomás não tardou a viralizar mundo afora, transformando-se em notícia de inúmeros veículos de mídia no México, no Peru, na Argentina, no Brasil e em dezenas de outros países.
Como a mídia está vendendo a história
É aí que entra em cena a forma como a notícia vem sendo vendida por sites diversos.
Alguns descreveram a história romântica de Tomás e Massiel como “amor entre padre e freira” e destacaram a “coragem do jovem casal”. Outros afirmaram que o ex-seminarista e a ex-freira “abriram mão dos votos religiosos em nome do amor” – e não faltou o jornal argentino que resolvesse sugerir que “o amor venceu a devoção”.
Será mesmo necessário deturpar e descontextualizar aspectos da trajetória anterior de Tomás e Massiel para ressaltar a beleza da sua vida atual? Afinal, a história de Tomás e Massiel é bela agora, com os dois namorando, e já era bela antes, quando cada um estava procurando discernir se tinha ou não a vocação religiosa. E caso os dois ou um dos dois tivesse descoberto que tinha mesmo essa vocação, a sua história teria sido feia e triste?
Até os protagonistas compartilharam que o seu namoro só começou depois que ambos já tinham saído, respectivamente, do seminário e do convento – onde se viram três vezes ao longo de mais de seis anos. Qual é o grau de precisão (ou de responsabilidade) de um veículo informativo que relata essa história como sendo de “amor entre padre e freira”? Qual é o cuidado jornalístico do site que afirma que eles “abriram mão dos votos religiosos em nome do amor”?
A propósito, se Tomás e Massiel tivessem confirmado a sua vocação religiosa, ela também não poderia ser vivida por amor?
E a que exatamente se refere o jornalista que destaca a “coragem do jovem casal”? Será que eles sofreram ameaças por estarem namorando? De quem? E caso Massiel e Tomás tivessem prosseguido as suas vidas como freira e como padre, será que não seriam corajosos por viverem essa vocação tão exigente?
Quanto ao jornal que se pergunta se “o amor venceu a devoção”, fica ainda mais evidente o preconceito e a visão enviesada e negativa da vida religiosa, como se a “devoção” não pudesse ver vivida precisamente por amor.
Num vídeo que publicou em sua rede social, o próprio Tomás afirma que a solidez da relação com Massiel deve muito à formação moral e espiritual que cada um recebeu nos tempos de convento e seminário, pela qual os dois se declaram “sumamente agradecidos”:
Uma história que é bela por inteiro – e não por pedaços
A história de Tomás e Massiel é bela, inspiradora e merece toda a divulgação que está tendo, porque é uma história de amor. Mas esse amor merece ser reconhecido em toda a sua trajetória, e não apenas num capítulo recente e tirado de contexto.
A história completa, e que é bela por completo, é a de um jovem e uma jovem que procuraram discernir o chamado de Deus, viveram com esforço os seus compromissos no seminário e no convento, chegaram à conclusão perante Deus e perante a própria consciência de que o seu caminho não era a vida religiosa e, depois de cada um ter assumido a sua nova condição como jovem leigo e desimpedido, ambos se reencontraram e deram início, agora juntos, a uma nova etapa da sua vida – que não começou a ficar bonita somente agora.