É o momento em que somos chamados à quietude, à admiração e à compreensão do mistério eucarístico
Peter Cameron / Aleteia
Na Missa, pouco antes da Sagrada Comunhão, o padre dá uma orientação à congregação. Segurando bem alto a hóstia consagrada, ele diz: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecados do mundo”.
Na verdade, essas palavras pertencem a São João Batista (Jo 1,29), que as pronuncia por causa daqueles que estão ao alcance da voz para reconhecer Jesus “vindo em sua direção”.
É interessante que João não diz para ouvir o Cordeiro de Deus ou estudar os ensinamentos do Cordeiro de Deus. Em vez disso, ele diz “eis”.
O abade cisterciense Gilbert de Hoyland, do século XII, observou que “a razão humana deseja algo mais do que acreditar. O que mais? Contemplar! E o que é contemplar?
São Gregório Magno responde que “quando o amante contempla o objeto de seu amor, fica ainda mais inflamado por ele”. É por isso que mantemos fotos de familiares em nossa mesa e em locais para onde olhamos com frequência. Queremos que nosso amor por nossos entes queridos se torne cada vez mais inflamado. E o ato de contemplar faz isso.
Contemplar é um ato de atenção. Jordan Peterson explica que ter atenção não é o mesmo que pensar; é observar para ver o que está diante de seus olhos. Guiamo-nos, então, em função do que percebemos por meio da atenção. Prestar atenção é a capacidade de olhar além do que sabemos para encontrar algo mais. Se permitirmos, a atenção realmente transforma o pensamento.
Na Missa, aquele “eis” nos convida à quietude, à admiração e à compreensão do mistério, deixando para trás as distrações, os preconceitos e as presunções. E mais: é precisamente contemplando Deus que nos tornamos semelhantes a Ele.
O Cordeiro de Deus
Mas por que estamos vendo um cordeiro, e não um leão, uma águia ou alguma outra criatura terrível? Scott Hahn aponta a ironia disso:
“O título ‘cordeiro’ parece quase cômico em sua inadequação. Os cordeiros, geralmente, não estão no topo das listas dos animais mais admirados. Eles não são particularmente fortes, inteligentes, rápidos ou bonitos. Outros animais pareceriam mais dignos. No entanto, é o cordeiro que lidera um exército de centenas de milhares de homens e anjos, causando medo nos corações dos ímpios (Apocalipse 6, 15-16).”
Tinha que ser um cordeiro! E o cartuxo Ludolfo da Saxônia, do século XIV, nos diz o motivo:
“Ao dizer ‘Eis o Cordeiro de Deus’, João Batista quis dizer que Jesus havia sido enviado por Deus para ser a oferta mais perfeita. Cristo é particularmente identificado com o cordeiro, e não com qualquer outro animal, porque o cordeiro pascal prefigura mais expressamente o Cristo inocente que se ofereceria em sacrifício. O cordeiro foi levado ao matadouro, mas não abriu a boca.”
Quão crucial é para nós contemplarmos constantemente, com fé e ação de graças, o Cordeiro que dá a vida por amor a nós. Haymo de Halberstadt, um monge beneditino alemão do século IX, nos encoraja: “Eis o Inocente entre os pecadores, o Justo entre os réprobos, o Reverente entre os ímpios. Nenhum pecado pode ser encontrado nele, e é por isso que ele pode tirar os pecados do mundo”.
E Ludolph da Saxônia nos mostra uma maneira perfeita de contemplar Jesus:
“Ó Cordeiro de Deus, reconhece-me, pobre pecador, entre as ovelhas que colocarás à tua direita! Mas, primeiro, perdoa os meus pecados e ofensas, para que possas me reconhecer ainda melhor!”