Trata-se de um caso único na história da Igreja. Todos os novos beatos foram assassinados pelos nazistas em 1944.
Bérengère Dommaigné e Michał Lubowicki / Aleteia
É algo único na história da Igreja: uma família inteira será beatificada devido ao martírio sofrido em decorrência do ódio contra a fé. Trata-se da família polonesa Ulm, com os pais Jozef e Wiktoria e seus filhos Stanisława, de 7 anos, Barbara, de 6, Władysław, de 5, Franciszek, de 4, Antoni, de 2, Maria, de 1 ano e meio, assim como do sétimo bebê, ainda no ventre da mãe: Wiktoria estava grávida de 8 meses no dia do seu assassinato. São, portanto, nove beatos, assassinados pelos nazistas em 1944.
Em 17 de dezembro de 2022, durante uma audiência com o prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, o Papa Francisco aprovou um decreto sobre o martírio da família Ulm, da cidade de Markowa, na Polônia. O site oficial do Dicastério para as Causas dos Santos destaca:
Veneráveis Servos de Deus Jozef e Wiktoria Ulm e seus sete filhos († 24 de março de 1944). Os esposos e seus sete filhos foram assassinados por ódio à sua fé em 24 de março de 1944. Embora cientes dos riscos e em meio a dificuldades financeiras, eles esconderam uma família judia em casa durante um ano e meio. Quando descobertos, todos foram assassinados, incluindo a criança em gestação no ventre de Wiktoria.
A beatificação dos nove membros da família Ulm, já iminente, tem grande significado teológico e pastoral – muito além da “simples” veneração aos mártires de Markowa.
É sabido que, para alguém ser reconhecido como santo e mártir, é necessário, entre outros requisitos, que o candidato tenha decidido voluntária e sinceramente dar a vida por outro, e que, antes da morte, tenha praticado as virtudes cristãs, tenha reputação de santidade e, finalmente, que, após a sua morte, seja comprovado um milagre pela sua intercessão.
A decisão heroica do casal Ulm de acolher uma família judia não lhes custou somente a própria vida, mas também a dos filhos, que, dadas as respectivas idades, mal podiam entender do que estavam participando e o que estava acontecendo. Isto significa que os mais novos da família – assim como o filho ainda não nascido – também são considerados pela Igreja como mártires assassinados em decorrência da fé e por seguirem heroicamente a Cristo.
Batizados ou não, são todos santos
A beatificação de crianças é um lembrete da importância do batismo: a Igreja tem inabalável certeza de fé quanto à salvação das crianças batizadas que morrem antes de desenvolverem a plena consciência e o livre arbítrio que lhes possibilitaria cometer pecados pessoais. Além disso, o caso do filho mais novo, ainda nascituro, que receberá a honra da beatificação em pé de igualdade com os pais e os irmãos batizados, constitui uma premissa crucial para a reflexão da Igreja sobre o destino das crianças que morreram antes do batismo.
A Igreja manifestará, neste ato de beatificação, a sua absoluta e inabalável certeza da santidade da criança, isto é, da sua salvação. O reforço deste esclarecimento é gigantesco. No caso do caçula, não se trata mais de “esperança de salvação”, mas de “certeza”, pois a criança recebeu o “batismo de sangue” ao sofrer o martírio ainda no ventre da mãe.
A Igreja também reconhece e adota o conceito de “batismo de desejo”, ou seja, a situação em que os pais desejam batizar seu filho, mas não são impedidos de fazê-lo por algum motivo.