Dom Orani disse que as autoridades devem ser conclamadas a exercerem a sua função, “para que tenha lugar de denúncia, apuração, condenação para aqueles que vão contra a lei”
Por CNBB
Um evento inter-religioso no Cristo Redentor marcou o lançamento da Campanha “#Paracadauma”, na noite de domingo, 7 de agosto. A ação, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) através da iniciativa global Verificado, visou celebrar os 16 anos da Lei Maria da Penha e marcar o envolvimento de nove religiões no enfrentamento da violência contra a mulher. O arcebispo da arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ), cardeal Orani João Tempesta, representou a Igreja Católica Apostólica Romana.
A campanha pretende abrir conversas para caracterizar cada uma das violências que acometem mulheres em relações e em espaços domésticos e familiares, segundo foi explicado no início da cerimônia.
“Estamos aqui para que cada pessoa possa identificar situações de abuso e violações e, com isso, contribuir como rede de apoio e acolhimento a mulheres em situações de violência. Estamos aqui para que cada uma dessas mulheres seja a dona da própria história, porque quando sabemos nomear e identificar uma experiência, a tornamos resistente e abrimos as portas para a ação”, explicou a antropóloga Beatriz Accioly, do Instituto Avon.
A campanha #Paracadauma é coordenada no Brasil pelo Centro de Informação das Nações Unidas. Roberta Caldo, que atua na instituição, ressaltou a missão de que a informação possa ajudar a identificar casos de violência, psicológica, moral, patrimonial, sexual ou física, como está tipificado na Lei Maria da Penha.
“Jogar luz sobre o tema é também conscientizar as pessoas de que qualquer tipo de violência contra as mulheres não é apenas inaceitável, é crime. Informação é poder e o poder de alertar e denunciar a violência contra as mulheres está nas nossas mãos, também na união de todos, como nesta noite”, afirmou Caldo.
Em sua fala, o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, refletiu sobre a violência no mundo e os vários tipos de manifestações como as violências verbais e digitais, por exemplo. Ele recordou que a casa era considerado lugar de segurança, mas, que o atual contexto tem demonstrado o contrário. “Não só as violências de perseguições, mas grande parte da violência contra a mulher, num contexto também da própria casa, da própria vida em família”, lamentou.
Na marca dos 16 anos da Lei Maria da Penha, o arcebispo ressaltou ser “necessário e importante o esclarecimento, a educação, o falar sobre o assunto para que, no mundo violento como nós temos, nós possamos começar a reverter tudo isso onde o respeito aconteça, começando pelo lar, um dos lugares mais sagrados”.
Ele destacou ainda a figura de Maria, escolhida por Deus para ser a Mãe de seu filho, Jesus. “Deus quis morar no meio de nós, quis habitar no meio de nós e escolheu uma mulher, Maria, que tornou-se a mãe de Jesus, que é Deus, portanto, mãe de Deus. Algo impensável e aparentemente impossível pra nós. E justamente nós vemos essa presença e essa dignidade da mulher”.
Dom Orani disse ainda que as autoridades devem ser conclamadas a exercerem a sua função, “para que tenha lugar de denúncia, apuração, condenação para aqueles que vão contra a lei”. É necessário também, segundo ele, a promoção de iniciativas educativas. Aos religiosos, a chamada à missão de viver “o respeito ao outro, começando pelo respeito à mulher, que foi escolhida para ser justamente aquela que no lar é justamente da fecundidade, do nascimento, da maternidade, mas também, na sociedade, alguém que deve ser chamada cada vez mais a ser um sinal do amor e que nós queremos cada vez mais que isso aconteça”.
O evento contou com representantes da Igreja Católica, dos cristãos evangélicos, do budismo, candomblé, espiritismo, hare krishna, islamismo, judaísmo e umbanda. A cantora Kell Smith animou a cerimônia e houve, ainda, uma projeção alusiva à campanha no Cristo Redentor.