Neste sábado (04/06), em Beirute, a beatificação do padre Leonard Melki e do padre Thomas George Saleh, religiosos capuchinhos que foram mortos no século passado durante a perseguição das minorias religiosas pelo Império Otomano. Forçados a escolher entre a morte ou a conversão ao islamismo, eles permaneceram firmes em sua fé. Presidiu o rito dom Semeraro, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.
Tiziana Campisi – Vatican News
Os mártires são aqueles que são feridos por causa de Cristo e, precisamente por terem sido feridos por causa de seu nome, eles o amam ainda mais, ensinava Santo Ambrósio. E os mártires, mortos em odium fidei, foram Leonardo Melki e Thomas George Saleh, sacerdotes da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Foi o que explicou o cardeal Marcello Semeraro, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, durante a cerimônia de beatificação na Igreja da Santa Cruz, em Beirute, Líbano, dos dois religiosos, neste sábado (04/06). A história deles está entrelaçada com o genocídio armênio, que também registrou massacres de cristãos de outros ritos. A ordem das autoridades do Império Otomano para eliminar armênios e cristãos data do final do século XIX, mas a perseguição tornou-se particularmente violenta após o início da Primeira Guerra Mundial. O movimento nacionalista dos “Jovens Turcos” também queria extinguir as minorias religiosas, e em novembro de 1914, o governo do Império Otomano pediu que os conventos dos Frades Menores Capuchinhos na região da Mesopotâmia fossem denunciados por que eram estranhos ao Império e hostis ao Islã.
O martírio dos dois religiosos
As vítimas desta onda de ódio foram também os dois capuchinhos que escolheram ir em missão à Mesopotâmia naqueles anos, disse o cardeal Semeraro, dedicando-se ao apostolado, pregando, administrando os sacramentos e ensinando na escola missionária de Mardine. Foi no convento de Mardine que Leonard Melki decidiu ficar em dezembro de 1914, enquanto todos os outros capuchinhos procuravam refúgio em um lugar mais seguro, para continuar cuidando de um irmão mais velho. Em 5 de junho de 1915, “ele foi preso e posteriormente submetido à violência e tortura”, continuou o cardeal, “até que, junto com outros companheiros, foi morto a pedradas e depois com uma adaga e uma cimitarra”. Padre Tommaso, por outro lado, “em dezembro de 1914 foi recebido, junto com outros irmãos, no convento de Orfa”; preso, então, junto com eles, “foi encarcerado em várias prisões e passou por várias marchas de morte e torturas terríveis, também para fazer com que ele renunciasse à sua fé”. Apesar disso”, acrescentou dom Semeraro em sua homilia, “sua serenidade e fortaleza são transmitidas nas Igrejas libanesas”.
Paixão pela verdade até a renúncia de si mesmo
Se humanamente, os dois religiosos foram vítimas, observa o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, “na perspectiva da fé cristã, eles foram vitoriosos”. Neste sentido, a “fortaleza” que os caracteriza não é “a vontade de poder, que governa esses instintos de prevaricação e dominação, que tão dolorosamente testemunhamos nos níveis pessoal, comunitário e social”, afirma o cardeal. Mas, tal fortaleza é aquele dom espiritual “que na doutrina católica é indicado como a terceira virtude cardinal; uma daquelas, isto é, que constituem as pedras angulares de uma vida virtuosa”. “Não se trata, portanto, de colocar força muscular”, esclarece o cardeal Semeraro, “mas sim de paixão pela verdade e amor pelo bem até a renúncia e o sacrifício da própria vida”. E “tarefa da Igreja, enfatiza ele, é também dar testemunho desta fortaleza”.
O corajoso dom do Espírito Santo
E depois há a coragem, a coragem com que o mártir escolhe ser uma testemunha, um dom do Espírito Santo. “Os antigos Padres nos dizem que os mártires são como atletas”, recorda o cardeal Semeraro, “que, libertos das vestes que os impedem de correr, inflamados pelo Espírito Santo correm para o estádio para ganhar a coroa da vitória”. Estes são exemplos que precisamos, conclui o cardeal, citando a encíclica Spe salvi de Bento XVI, quando, “nas provas verdadeiramente sérias da vida (…) acontece que temos que tomar nossa própria decisão definitiva para colocar a verdade acima da riqueza, da carreira, dos bens, a certeza da verdadeira, grande esperança”. (…) Precisamos disso para preferir, mesmo nas pequenas alternativas da vida cotidiana, o bem à comodidade, sabendo que precisamente assim vivemos verdadeiramente a vida”.