Irmã Maria Francisca de Jesus, nascida Anna Maria Rubatto (1844-1904), fundou a Congregação das Irmãs Terciárias Capuchinhas de Loano no Uruguai. São João Paulo II a proclamou Beata em 1993, Francisco a canonizou na Praça de São Pedro no domingo, dia 15 de maio. “Devemos ter a coragem de ir onde a Providência nos chama” é a mensagem que nos deixa Madre Francisca segundo seu postulador padre Calloni
“A existência de Madre Francisca Rubatto, que tive a alegria de proclamar Beata no dia 10 de outubro de 1993, estava assente sobre duas colunas: o amor ardente a Deus, compreendido como o ‘sumo bem’, e o serviço incansável aos irmãos, de maneira especial aos mais necessitados e aos abandonados”. Estas palavras foram pronunciadas por São João Paulo II em seu encontro, em 7 de fevereiro de 2002, com as Irmãs Capuchinhas de Madre Rubatto, no final de seu Capítulo Geral. João Paulo II prosseguiu: “Sob a orientação de mestres espirituais iluminados, a vossa Madre seguiu o exemplo de São Francisco e Santa Clara para ser, na Igreja e na sociedade, um sinal humilde mas eloquente do Evangelho vivido sine glossa“, ou seja, ao pé da letra.
Servir os irmãos sem reservas e sem limites
Anna Maria Rubatto nasceu na Itália em Carmagnola, perto de Turim, dia 14 de fevereiro de 1844. Durante anos ela se dedicou ao voluntariado, à assistência aos pobres, visitando os doentes no hospital de Cottolengo, trabalhando no Oratório Dom Bosco e para a confraria das Senhoras de Caridade de São Vicente. Em 1884, um episódio aparentemente casual mudou sua vida. Anna Maria tinha 40 anos de idade. Durante uma estadia em Loano, Suíça, passando por um canteiro de obras, ela socorreu um jovem operário, ferido na cabeça por uma pedra que tinha caído do andaime. Seu gesto de cuidado não passou despercebido: um padre capuchinho, que há algum tempo queria fundar uma comunidade religiosa feminina dedicada a cuidar dos doentes e dos pobres da cidade, convidou-a a se unir a eles, aliás para guiar a comunidade.
Ela aceitou e em 23 de janeiro de 1885 assumiu o hábito religioso das Terciárias Capuchinhas, escolhendo o nome de Irmã Maria Francisca de Jesus. Em pouco tempo, sob seu impulso, as religiosas se espalharam na Itália e depois na América Latina, particularmente no Uruguai, Argentina e Brasil. Aqui, na missão de São José da Providência, fundada pelos Capuchinhos Lombardos em Alto Alegre, em 13 de março de 1901, sete delas foram mortas por um grupo de indígenas armados. “Servir os irmãos incondicionalmente e sem limites: eis o que impeliu a Beata Francisca Rubatto a abrir o seu coração e a vida do seu Instituto à dimensão missionária”, dizia São João Paulo II durante a audiência de 2002, o mesmo espírito que animou as suas Irmãs missionárias, que sacrificando sua própria vida, deram o seu testemunho de fidelidade a Cristo e de entrega amorosa ao próximo.
Madre Francisca Rubatto faleceu em Montevidéu, Uruguai, em 6 de agosto de 1904 e, segundo sua vontade, foi enterrada ali. No dia 10 de outubro de 1993, o Papa Wojtyla celebrou sua beatificação. Em fevereiro de 2020, o Papa Francisco reconheceu sua santidade após a cura milagrosa, por sua intercessão, de um jovem de Montevidéu, ocorrida em abril de 2000. O jovem tinha sido atropelado, sofrendo uma lesão na cabeça com hemorragia e coma grave. Como São Francisco de Assis, Madre Rubatto encontrou Cristo nos pobres e sofredores. Foi escrito que “ela deu ao franciscanismo uma versão feminina moderna” e também que nela “se encontra uma das figuras mais importantes do franciscanismo feminino de hoje”.
Pe. Calloni: a coragem de ir onde a Providência chama
O Pe. Carlo Calloni O.F.M., capuchinho, postulador da causa de canonização, descreve a figura e a missão de Madre Francisca Rubatto, fala sobre qual seria a relevância da mensagem da Madre Rubatto e o que ela pode ensinar aos cristãos católicos de hoje.
“A disponibilidade – afirma padre Calloni – estar disponível para o que a realidade lhe chama. Mais um sinal desta disponibilidade foi a seguinte: o Ministro Geral dos Capuchinhos tinha aberto há pouco tempo uma missão no nordeste do Brasil e convidou as irmãs a irem para lá, em Alto Alegre, para dirigir uma escola para meninas. Dezoito meses após a chegada das religiosas – ela mesma as havia acompanhado – foram mortas 7 irmãs, 4 frades e 270 indígenas que faziam parte desta colônia de São José da Providência e a sua disponibilidade mais uma vez não parou ali”. E continua: “Não é que, a certa altura, ela disse basta, minhas irmãs não irão para lá. Ao contrário, elas ainda estão lá e ainda dão frutos abundantes. Portanto, não devemos temer e devemos ter a coragem de ir onde a Providência nos chama: creio que esta seja a grande mensagem que Madre Rubatto deixa para nós, uma disponibilidade que chega a este ato heroico de dar suas filhas desta maneira”.
“Madre Francisca nunca se cansou de visitar suas irmãs em missão – continua o postulador padre Calloni – , a sua última viagem, que deveria durar pouco mais de um mês, durou ao invés 2 anos, ela ficou no Uruguai e no Uruguai ela faleceu e naquele país ela permanece como um marco para aquela Igreja que a fez florescer como uma santa, como alguém que deu toda a sua vida. E junto com ela muitas irmãs, mas também podemos dizer muitos cristãos, que a seguem e são capazes de dar testemunho mesmo em terras que são difíceis porque muitas vezes não acolhem imediatamente a mensagem cristã”.