Coordenador da Pastoral da Música é destaque na imprensa

Abaixo, entrevista que o coordenador da Pastoral da Música da nossa Basílica concedeu ao Globo, na edição de 3ª-feira, 18 de agosto.

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Hugo Antunes, violinista: ‘Há dias em que só sorrio quando termina’

Diretor artístico de casamentos e coordenador da Pastoral da Música da Igreja dos Capuchinhos, carioca também se apresenta em corredores de hospital

Por Dandara Tinoco / Foto: Guito Moreto 

 “Tenho 24 anos e, embora a minha formação acadêmica seja em Administração Pública pela UniRio, tenho formação técnica em música. Profissionalmente, toco violino e piano. Comecei a me apresentar na Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca, aos 7 anos. Foi lá que iniciei a atuação em casamentos, aos 12 anos”

Conte algo que não sei.

Quando um casamento é realizado dentro de uma igreja, o repertório tem de ser submetido à aprovação do padre ou da administração do local. A Cúria Metropolitana do Rio divide as músicas entre “permitidas”, “não permitidas” e “aceitas”, que são as que não poderiam ser executadas, mas acabam passando depois de serem analisadas.

Então há uma espécie de índex de músicas de casamento?

Sim. Todas as músicas que não são sacras, litúrgicas ou eruditas são consideradas profanas pela Igreja e, teoricamente, não podem ser tocadas em cerimônias religiosas. Há as igrejas mais rigorosas e as mais liberais. No casamento do cantor Belo com Gracyanne Barbosa, do qual fui diretor artístico, na Candelária, metade do repertório foi vetado.“I will always love you”, de Whitney Houston, e “Can you feel the love tonight”, de Elton John, ficaram de fora. Abriram exceção para “Tudo mudou”, do próprio Belo. O curioso é que muitas obras são dissociadas do contexto da criação. A famosa marcha nupcial, por exemplo, faz parte de “Sonho de uma noite de verão”, de Felix Mendelssohn, que originalmente nada tem a ver com casamentos.

O que exatamente faz um diretor artístico de casamentos?

O trabalho consiste em montar uma pequena orquestra e viabilizar a execução do repertório escolhido pelo cliente com quantidade reduzida de instrumentos. Trabalhamos com formação mínima de quatro pessoas.

Quais as dificuldades?

É preciso deixar a música no meio do caminho. Por causa da limitação do número de instrumentos, não é possível reproduzi-la igual à gravação original. Mas, se nos distanciamos muito disso e não conseguimos preservar as características mais marcantes da obra, há o risco de as pessoas não reconhecerem a canção.

Qual a peculiaridade de tocar em um hospital?

Quase sempre me apresento em momentos alegres. Num hospital, a situação é um pouco diferente. As pessoas costumam ficar surpresas e param para prestar atenção na música e na performance, o que nem sempre ocorre em outros eventos. Há quem sorria e há quem chore. Até hoje ninguém reclamou.

Essa experiência teve impacto na sua vida pessoal?

Sempre fui cismado com questões de saúde, então, no primeiro momento, fiquei nervoso com algumas situações que encontrei, como ver macas carregando pessoas recém-operadas. Mas, com o passar do tempo, aprendi a me envolver menos com as coisas e a desenvolver mecanismos para lidar com o sofrimento. Pensar no efeito positivo que as apresentações têm na vida dos pacientes é um deles.

Quem toca um instrumento espanta seus males?

Nem sempre. Depende do seu relacionamento com a música. As pessoas se aproximam de instrumentos musicais por prazer. Mas, quando isso vira o seu ganha pão, essa relação com pode se tornar desconfortável. Músicos também trabalham sem vontade. Há dias em que só sorrio quando o evento termina.

A música, para você, aproxima as pessoas de Deus?

Acredito que a música de fato tenha esse poder. Dizem que quem canta reza duas vezes. Para mim, está claro que existem várias vias de contato com Deus, como as orações e os gestos cotidianos. A música certamente é uma forma de chegar a Ele.

 

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