Rio de Janeiro, a cidade de São Sebastião, celebra 457 anos de fundação na busca de viver a fraternidade e a solidariedade

“Mesmo com mudança de época e transformações que acontecem no mundo, os valores cristãos ainda estão presentes no coração do povo carioca” – Dom Orani Tempesta

As comemorações dos 457 anos da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro começou com missa em ação de graças aos pés do monumento do Cristo Redentor, no Corcovado. (Foto: Gustavo de Oliveira)

Carlos Moioli*

As comemorações dos 457 anos da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, no dia 1º de março, começou com missa em ação de graças aos pés do monumento do Cristo Redentor, no Corcovado, presidida pelo arcebispo metropolitano, Cardeal Orani João Tempesta. Ao lado do altar, estava a imagem peregrina de São Sebastião, padroeiro da cidade.

“O alto do Corcovado é o melhor lugar para se comemorar o aniversário do Rio de Janeiro, agradecer a Deus pela nossa história e nos comprometer pelo presente e futuro da nossa cidade. Temos uma história bonita e uma bela cidade, e devemos construir juntos pontes de fraternidade, paz e solidariedade para que nossa cidade seja cada vez mais justa, humana e fraterna”, disse o arcebispo no início da celebração.

O dia ensolarado, típico da capital carioca, foi propício para que os fiéis e convidados tivessem a oportunidade de rezarem, ouvirem a Palavra de Deus, renovarem compromissos e contemplarem do pedestal mais famoso do mundo a Cidade Maravilhosa. A primeira leitura foi feita pelo prefeito Eduardo Paes, e o Evangelho foi proclamado pelo reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo.

Raízes cristãs

Na homilia, Dom Orani refletiu as leituras do dia – que abordaram sobre a graça da revelação de Jesus Cristo, e as promessas de Deus que se cumprem para quem procura viver a retidão e a santidade, e deixa tudo por causa do Evangelho – e observou que esses ideais estavam presentes nos cristãos católicos desde os inícios da fundação da cidade.

“Ao celebrar os 457 anos da cidade, com seus momentos de glórias e alegrias, mas com seus problemas e dificuldades, é uma oportunidade de agradecer, de certa forma, a cultura cristã que aqui foi plantada. Mesmo com mudança de época e transformações que acontecem no mundo, os valores cristãos ainda estão presentes no coração do povo carioca”, disse.

Como exemplo, o arcebispo lembrou da recente campanha para socorrer as vítimas das chuvas que assolaram a cidade de Petrópolis, quando a resposta foi de abundância e de generosidade nas doações, e de centenas de pessoas que se colocaram à disposição para ajudar nas diversas frentes de trabalho.

“Nós enquanto Igreja, anunciadores do Evangelho de Jesus Cristo, temos a missão de fazer com que os valores de solidariedade e da fraternidade que sempre nortearam os cristãos devem ser renovados e reavivados a cada época, e cada vez mais possam estar no coração de quem vive, luta e trabalha nesta cidade”, disse.

Segundo o arcebispo, no lugar das situações de polarizações, guerras e dificuldades de entendimento é preciso trazer à tona, no coração, o que é belo e bom. Tornar possível para quem vive ou passe pela cidade a vontade de ser melhor e de continuar trabalhando pela fraternidade, a paz e a solidariedade.

“Por causa da base comum que é a nossa vida cristã com seus valores, precisamos sonhar por tempos melhores nos quais possamos contagiar as pessoas. A cidade já é um exemplo de contágio do bem, do belo e do bom, mas deve ultrapassar as fronteiras para todo o país, o mundo”, disse.

Cidade linda de gente boa

No final da celebração, duas crianças, um jovem e uma pessoa idosa entregaram ao prefeito Eduardo Paes símbolos que representam a beleza de uma cidade acolhedora, de uma casa comum para todos, e a entrega da imagem de São Sebastião, para que ele interceda por sua gestão administrativa.

“Parabéns para todos os cariocas, temos de ter muito orgulho dessa cidade, o Rio é um lugar especial, uma cidade linda feita de uma gente muito boa. Tenho a honra de estar, pelo décimo ano, assoprando as velas desse bolo de aniversário. Tenho certeza que o Rio se recuperou dos seus dramas e só vamos avançar. Muito otimismo com essa cidade. E carioca não é só quem nasce aqui, carioca é quem ama a cidade. Temos cariocas pelo mundo inteiro, e que eles comemorem com muita alegria esses 457 anos”, disse Eduardo Paes.

Ainda fizeram parte das comemorações, após a missa, os parabéns pela cidade e o corte de bolo oferecido por Roberto Cury, em nome da Sociedade dos Amigos da Rua da Carioca (Sarca), a qual preside.

Santuário São Sebastião

A segunda missa pelo aniversário da cidade, presidida por Dom Orani e concelebrada pelo frei Jorge Luiz de Oliveira, foi realizada no Santuário Basílica de São Sebastião, na Tijuca. Também houve o corte de bolo realizado pela Sarca e o Auto de São Sebastião, apresentado por um grupo de atores da Comunidade Shalom, que contou a história de vida e o martírio do padroeiro da cidade.

Mensagem do Cardeal Orani João Tempesta pelo aniversário da cidade do Rio de Janeiro

Eduardo Paes, Dom Orani e Roberto Cury sopram as velas de aniversário da cidade. (Foto: Gustavo de Oliveira)

“Completando 457 anos, o Rio de Janeiro, com uma longa e rica história de existência, é uma cidade conhecida no mundo inteiro pela sua beleza natural e, principalmente, humana, com um povo formado de tantas origens – europeias, africanas etc. Uma cidade que serviu e serve de inspiração para rezar, contemplar e maravilhar-se.

Como nos disse uma vez São João Paulo II: “a cidade do Rio de Janeiro, cria uma inspiração, ao ver continuamente esta arquitetura divina e também a arquitetura humana. Ora a arquitetura divina predomina, é superior à humana, mas também se vê que o homem é um arquiteto, o homem é feito à imagem de Deus” (São João Paulo II).

Assim como por sua beleza, o Rio de Janeiro é conhecido também pelos inúmeros desafios que possui. Estes desafios são provas que enfrentamos no dia a dia, que não são fáceis, mas que para vencê-los precisamos lutar, sermos otimistas, corajosos e confiarmos em Deus sem perdermos a esperança. Não é uma missão simples e de uma única pessoa, nós somos chamados a construir, a fazer nossa parte, na construção de um mundo mais justo, humano e fraterno. Quem faz a diferença somos nós. As mudanças acontecerão realmente, quando mudarmos e nos tornarmos melhores. A missão de tornar esta cidade a “casa comum”, um lugar de paz, depende de mim e de você.

Cada um, cada uma, com sua responsabilidade, coloque em seu coração o desejo de fazer o melhor. Que cada um de nós faça a sua parte – e os cristãos, mais ainda. Aqueles que têm consciência, que são filhos de Deus e irmãos entre nós, sejam o que façam chegar a todas as pessoas, contagiando a todos, a beleza de fazer o bem ao outro. Além disso, de passar pelo mundo, ajudando as pessoas e transmitindo boas notícias. Transmitindo alegria, do Cristo presente no meio de nós.

Missa pelo aniversário da cidade no Santuário Basílica de São Sebastião, na Tijuca. (Foto: Pascom/Capuchinhos RJ)

O mundo, como temos visto, está cheio de injustiças e maldades, ocasionando guerras e mortes. Mas cada um de nós é chamado a ter esperança e trabalhar pela paz, onde quer que esteja: na casa com a família, no trabalho, na vida acadêmica, com amigos e até mesmo com os que pensam diferente. Tudo pode parecer uma utopia, algo não realizável, mas sabemos que o mundo vai se transformando com aqueles que sonham e lutam por tempos novos. Tempos novos, pessoas novas, mundo novo.

Muitos homens e mulheres bem próximos de nós assim viveram e servem de exemplo, como Santa Teresa de Calcutá e Santa Dulce dos Pobres. Chamados a cuidar dos mais necessitados, começaram de forma simples, não imaginaram quanta coisa iria acontecer, mas seus gestos ultrapassam fronteiras. E muitas são as pessoas que talvez estejam no anonimato que buscam dia após dia fazer o bem e promover a paz. As coisas parecem pequenas no início, e por nós mesmos não conseguimos realizar, mas quando vêm de Deus acontecem maravilhas.

Precisamos ser ousados em promover a paz, os discursos ajudam a refletir o caminho a seguir, mas os atos concretos criam pontes para o diálogo, a tolerância e o respeito.

Todos que nesta Cidade Maravilhosa, exuberante pela sua história, beleza natural e, principalmente, seu povo, buscam os seus direitos quanto ao trabalho, à moradia, saúde, educação, dignidade de ir e vir, deve fazer sem ódio ou rancor no coração. Deve amar indistintamente as pessoas e rezar uns pelos outros.

Muitos que aqui vivem, assim como eu, chegamos a esta cidade e fomos recebidos pela tão conhecida e calorosa acolhida do povo carioca. E desta forma sentimo-nos não como estrangeiros, mas como cariocas de coração. Cada pessoa que chega nesta cidade para viver traz um pouco da sua história e do seu desejo de plasmar na sua vida, o estilo tão singular do cidadão carioca, conhecido mundialmente no seu modo de ser.

Auto de São Sebastião apresentado por jovens da Comunidade Católica Shalom . (Foto: Pascom Capuchinhos RJ)

O Rio de Janeiro pode e deve ser uma cidade que busca a paz e as oportunidades iguais para todos, ninguém deve sentir-se excluído, mas todos nós somos convidados a criar condições de

ver no outro, não uma ameaça, mas uma mão que ajuda tornar esta cidade cada vez mais maravilhosa.

Caríssimo Eduardo Paes, prefeito e representante deste povo, tens uma grande responsabilidade, em uma cidade tão bela e tão cheia de desafios, mas tens também uma grande oportunidade de nos conduzir para um futuro melhor e digno para todos.

Por isso, queremos pedir ao Cristo que envie a sua sabedoria para você e todo o seu time. E que saibas olhar para as necessidades desta cidade e desta gente, com os olhos do Senhor.

Parabéns à cidade do Rio de Janeiro! Parabéns a todos os cariocas, os de alma e de coração! Que São Sebastião nos proteja e nos faça verdadeiros mensageiros de Paz e de Justiça!”

*Carlos Moioli é Diretor de Jornalismo da Arquidiocese do Rio

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